Toda a comunidade cripto está comemorando a aprovação dos ETFs de Bitcoin à vista nos Estados Unidos e seu potencial impacto positivo no mercado de criptomoedas. No Brasil, esse tipo de produto já existe desde 2021. Mas será que os ETFs nacionais correm risco de perder espaço se os investidores brasileiros se interessarem pelas ofertas das gestoras estrangeiras?
Em um primeiro momento, é possível pensar que o investidor que negocia no Brasil possa optar por migrar seus investimentos para o exterior para aproveitar taxas atrativas e maior liquidez dos ETFs que estão sendo lançados agora nos EUA. Mas gestores das duas maiores empresas da área no país não acreditam em um impacto tão significativo.
Para João Marco Cunha, diretor de gestão na Hashdex, teoricamente não é o mesmo tipo de investidor que investe nos ETF do Brasil e nos EUA. “Não acho que tem nenhuma vantagem significativa para quem pensar em mudar [o investimento do Brasil para os EUA]”, avalia ele em conversa com o Portal do Bitcoin.
Segundo Cunha, não existem grandes fatores que façam sentido essa troca de país quando falamos de um ETF 100% de Bitcoin, como os aprovados ontem. Esse tipo de produto spot (à vista) nada mais é que um fundo que tem exposição integral ao BTC, permitindo o investimento na criptomoeda sem a necessidade de possuí-la diretamente.
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Ele ressalta, porém, que podem existir diferenças entre os fundos, como taxas de investimento ou liquidez por conta do tamanho do ETF, mas que esses não seriam fatores determinantes para um investidor sair do Brasil para ir para os EUA. Por conta de diferenças como essas que a SEC aprovou 11 ETFs de gestoras diferentes.
Vale lembrar que qualquer pessoa pode investir no mercado americano. Apesar de ser um processo um pouco mais burocrático, basta o interessado abrir uma conta nos EUA (hoje facilitada por fintechs como Nomad e Wise) e se cadastrar em uma corretora com dados como endereço e outras informações pessoais. A partir disso, o investidor pode operar na bolsa americana e comprar os ETFs aprovados ontem, se quiser.
O Brasil estreou seu primeiro fundo negociado em bolsa (ETF) de criptomoedas em 2021, com o HASH11, da gestora Hashdex, que conta com uma cesta de ativos. No mesmo ano, a gestora QR Asset foi a primeira a lançar um ETF 100% Bitcoin na América Latina, com o QBTC11.
Hoje já são 14 ETFs de criptomoeda negociando na B3, a Bolsa de Valores brasileira, com um patrimônio total que supera R$ 2,5 bilhões, segundo dados da B3. Dentre eles apenas três buscam replicar o preço do Bitcoin, sendo que os outros variam entre ativos de DeFi, metaverso, Ethereum ou empresas expostas a criptoativos.
Diferentes tipos de investidores
Theodoro Fleury, gestor da QR Asset, explica que não vê muito risco em uma possível debandada de investidores porque a maioria dos expostos à ETFs cripto no Brasil são investidores de varejo.
Segundo ele, esse público tem incentivos menores para a troca, “seja por não ter conta fora do país, ou até custos maiores de transferência dos recursos, para os que possuem conta em corretora no exterior”.
Por outro lado, Fleury diz que a concorrência com os ETFs americanos pode ocorrer quando se trata do investidor institucional, já que a grande maioria ainda não investe em cripto aqui no Brasil.
“Mais do que o custo, pode ter uma questão de liquidez. O mercado americano é o mais líquido do mundo. Então, você pode acabar tendo market makers mais ativos que vão gerar um mercado com liquidez maior do que temos aqui. O mercado no Brasil ainda negocia volumes relativamente pequenos, o que pode ser um entrave para o investidor institucional que quer alocar volumes maiores”, avalia.
Impacto positivo
Se por um lado as gestoras não acreditam em uma saída de capital do Brasil para os EUA, o impacto mais amplo no mercado de criptomoedas pode ser favorável para os fundos negociados não só aqui, mas em todo o mundo.
André Franco, head de research no Mercado Bitcoin, avalia que como o Bitcoin é um ativo internacional, o preço que for puxado lá fora vai refletir aqui dentro. “A nossa perspectiva é que a institucionalização desse mercado internacional também terá impacto local, o que será positivo para o setor como um todo”, explica.
Para Franco, a competição entre as gestoras, que antes do lançamento dos ETFs se concentrava nas taxas e agora se volta para atrair os aportes financeiros, tende a beneficiar o investidor no final. “Ao analisarmos os fundos, é evidente que a rentabilidade melhora, proporcionando um retorno mais favorável, contribuindo positivamente para o mercado.”
Cunha, da Hashdex, também compartilha dessa visão e diz que a aprovação da SEC “chancela que existe um determinado nível de maturidade do produto” e que isso vai além das fronteiras dos EUA, com potencial de destravar outros mercados, como na Europa e no próprio Brasil.
“Agora existem vários canais diferentes pelos quais você pode gerar um aumento de adoção, de investimento em Bitcoin. Tudo isso são impulsionadores potenciais da demanda por Bitcoin e, obviamente, como a oferta é limitada, isso tende a se refletir em aumento de preço”, conclui.
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