Bruno Ely Reis Garcia é um dos 16 nomes que constam na lista de colaboradores do Bitcoin Core 0.21.1, a versão da criptomoeda que deu início ao período de ativação da Taproot — a atualização mais importante do bitcoin em quatro anos. Ele é único brasileiro que colaborou diretamente com melhorias na nova versão do código aberto do bitcoin.
Garcia, 22 anos, mora em Rio Claro, interior de São Paulo. Ele ouviu falar em criptomoedas pela primeira vez em 2015 e já naquela época, tentou minerar bitcoin em um computador velho que tinha em casa, mas sem sucesso. Deste então, o interesse pela área só aumentou e ele passou a estudar a parte teórica do criptoativo, se formando mais tarde em Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
Hoje ele trabalha como desenvolvedor em tempo integral para uma fabricante de carros e, no tempo livre, colabora para o ecossistema do BTC revisando as submissões de outros desenvolvedores no GitHub.
“Nesses testes, é onde eu mais me dedico”, disse Garcia em conversa com o Portal do Bitcoin. “Comecei a revisar a Taproot porque queria entender melhor a atualização. Lendo o código, acabei encontrando um erro, corrigi e submeti uma alteração. Os desenvolvedores aceitaram a minha melhoria que, em seguida, foi incluída na nova versão do bitcoin”.
A alteração #21081 do brasileiro removeu uma instrução de retorno desnecessária que estava atrapalhando o andamento dos testes automatizados. Esses testes são importantes para garantir que não haja qualquer brecha no código que possa ser explorada por um agente mal-intencionado no futuro.
O erro que ele identificou estava no código escrito por Pieter Wuille, um dos desenvolvedores mais respeitados da indústria e um dos criadores da Proposta de Melhoria do Bitcoin (BIP, na sigla em inglês) que introduziu a Taproot.
Ajudando o Bitcoin do Brasil
A versão mais recente do Bitcoin Core, que contou com a colaboração do brasileiro, corrigiu bugs da versão anterior e iniciou o período de ativação da Taproot. Durante essa fase, 90% dos mineradores da rede precisavam sinalizar a favor da atualização. O consenso foi alcançado no último sábado (12), oficializando a implementação da atualização em novembro deste ano.
“A atualização vai melhorar as funcionalidades dos contratos inteligentes e também aumentar um pouco a privacidade do bitcoin. Agora nós vamos conseguir agregar assinaturas e as tornar mais leves na blockchain”, explicou o programador.
O desenvolvedor começou a se dedicar com mais afinco ao código do BTC no início do ano, depois que participar de um grupo de estudos promovido pela Chaincode Labs, uma entidade de pesquisa e desenvolvimento do Bitcoin dos EUA.
De acordo com Garcia, os programadores brasileiros carecem de incentivo para contribuir mais ativamente para melhorar o código da criptomoeda.
“Existem muitos desenvolvedores lá fora que trabalham full-time no Bitcoin Core porque recebem apoio de empresas do setor, como exchanges que patrocinam o desenvolvimento da rede dando bolsas”.
No Brasil, no entanto, nenhuma empresa da área apoia um desenvolvedor do Bitcoin Core. “Geralmente, gasto as horas que sobram no meu dia para estudar o código e fazer testes. Mas trabalhar em tempo integral com o bitcoin é o meu sonho”.