Se medirmos qualquer ativo no Peso Argentino, provavelmente estará na máxima histórica, afinal, a moeda portenha desvalorizou-se 94% nos últimos 10 anos. Com o Real brasileiro a situação não é tão diferente, já que perdeu 60% nos últimos 9 anos frente ao Dólar.
As ações de Gafisa, quando medidas na moeda brasileira, cederam 70% no período acima. No entanto, ao analisar o gráfico numa moeda mais fraca, o efeito desaparece.
Pra cotação da Bovespa permanecer no mesmo patamar em Dólar ao longo dos últimos 9 anos, precisaria ter subido 250%. Você não leu errado!
Vamos então matar sua curiosidade e exibir o gráfico do Ibovespa, principal indicador das ações no Brasil, porém mensurado em Dólar:
Não há truque algum, estamos realmente 36% abaixo do pico de Maio/2008. Toda essa euforia e comemoração some ao compararmos com os retornos do Bitcoin seja no espaço de 12 meses ou 3 anos:
Grande parte disto ocorre pois o Bitcoin possui uma inflação (na verdade um calendário de emissão de novas moedas) bem controlada. Dentro de alguns meses esta taxa cairá para 1,8% ao ano. Ou seja, muito próximo do atual nível de extração do ouro.
Enquanto o Bitcoin possui um rígido calendário de criação de novas moedas que se reduz pela metade a cada 4 anos através do processo denominado halving, a produção do ouro pode ser facilmente triplicada em caso de alta na sua cotação.
Ou seja, enquanto uma alta no preço torna viável minas de ouro que antes estavam desativadas por conta do custo de exploração, no Bitcoin isto não é possível. Mesmo que duplique o número de mineradores em uma semana, o número de Bitcoins produzidos no ano é estável.
Qual o segredo da Bovespa?
Marketing e “Lindy effect”, ou seja, grande histórico de existência. Quantos youtubers, corretoras e assessores de investimento tradicional você conhece? Todos os dias somos bombardeados de anúncios lembrando que as ações de Magazine Luiza subiram 4.000% em sei lá que período.
São mais de 300 empresas listadas na Bovespa, logo a curva normal nos diz que 4 ou 5 delas vão apresentar um retorno estratosférico. O que estes analistas esquecem de comentar são as que estão na outra ponta, incluindo aquelas do ex-império de Eike Batista, a falida BR Pharma (BPHA3) além das construtoras Viver Incorporadora (VIVR3), PDG Realty (PDGR3) e Gafisa (GFSA3), todas 90% abaixo do pico, além de imersas em dívidas.
A próxima vez que alguém lhe contar essa história de “Bovespa na máxima histórica”, mostre pra ele o gráfico lado-a-lado com o Bitcoin.
Sobre o autor
Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Desde maio de 2017, faz arbitragem e trading de criptomoedas, além de ser cofundador do site de análise de criptos RadarBTC.
