Até o final de 2020 é esperado que o número de dispositivos IoT (Internet das Coisas) seja superior a 20 bilhões. As soluções IoT podem ser classificadas segundo duas categorias: industrial e de consumidor.
Por muito tempo, as soluções IoT do setor industrial, que geralmente são ativos de alto valor, foram o foco principal. No entanto, IoT só realizará seu verdadeiro potencial se fornecer utilidade em massa.
A adoção em massa da IoT tem grande potencial disruptivo ao oferecer eficiência e transparência em diferentes tipos de locais de trabalho, bem como em outros aspectos da vida cotidiana.
No entanto, para que isso seja conquistado é essencial haver uma infraestrutura padronizada, APIs (interfaces de programação de aplicativos abertas) e parcerias entre as partes interessadas.
É natural que a tecnologia blockchain seja considerada a abordagem mais apropriada e prática para criar, supervisionar e modificar as soluções IoT. Isto porque o blockchain já vem com recursos desejáveis, como auditabilidade, segurança e imutabilidade.
A internet das coisas deve se beneficiar desses atributos da tecnologia blockchain porque permite a transferência de informações e valor através da internet e sem o controle dos intermediários. Além disso, esses recursos significam que a troca de dados ocorre com um alto nível de transparência.
Ainda não foi possível identificar um dispositivo em uso que combine a IoT e a tecnologia blockchain. No entanto, existem alguns projetos interessantes que buscam alavancar essas duas tecnologias. Os que mais têm chamado atenção são:
- Matrix AI Network
- Waltonchain
- IoT Chain
Matrix AI Network
Embora sua descrição como uma plataforma de código aberto, compartilhada e inteligente não pareça algo muito inovador ao primeiro olhar, a verdade é que este projeto está desenvolvendo várias combinações engenhosas entre a tecnologia blockchain e a inteligência artificial (IA) com a Internet das Coisas.
De fato, a Matrix AI Network está sendo desenvolvida usando algoritmos de IA que vão iterar a plataforma, resultando em auto-otimização independente em relação à segurança, eficácia e flexibilidade.
Além disso, este projeto está desenvolvendo aplicativos que vão possibilitar que a energia de mineração da rede seja utilizada para cálculos volumosos e sofisticados de IA. No entanto, a inovação mais relevante desta plataforma é o lançamento de um contrato inteligente em primeiro idioma.
O que isto significa? De maneira simplificada quer dizer que os contratos inteligentes da Matrix AI Network vão oferecer aos usuários a capacidade de redigir um contrato em seu idioma nativo, após o qual um algoritmo com a capacidade de processar a linguagem natural vai traduzi-la em um contrato inteligente.
Se esse objetivo for alcançado, facilitará o complexo procedimento de criação de contratos inteligentes, disponibilizando-os para uma nova categoria de empresas e empreendedores.
Waltonchain
Este projeto é indiscutivelmente o pioneiro da combinação de tecnologias blockchain e RFID (identificação por radiofrequência), além do uso de big data para impulsionar a IoT. Para que esse objetivo seja alcançado, o projeto está focado em mudar a forma como as cadeias de suprimentos são controladas.
Leia Também
Um aspecto exclusivo do Waltonchain é o fato de ele concentrar seus esforços no desenvolvimento de software e hardware. De fato, o primeiro chip de hardware da Waltonchain já está em produção em massa, e outros dois chips adicionais com especificações exclusivas devem atingir esse nível de produção nos próximos dois anos.
Os chips em questão serão integrados a produtos de empresas parceiras da Waltonchain, transformando-os em objetos inteligentes capazes de transferir dados. Essas informações serão coletadas e mantidas no livro-razão descentralizado do projeto, sendo que todo o procedimento será automatizado através de contratos inteligentes.
Com esse recurso, as empresas que incorporarem a solução da Waltonchain podem monitorar todas as suas mercadorias. O uso em massa dessas soluções permitirá o rastreamento e a supervisão de cadeias de suprimentos inteiras, resultando em um aumento significativo da eficiência quando compararmos com os processos atuais.
Além dos chips, a rede Waltonchain também está focada em fornecer uma plataforma para ‘cadeias filho’, que são sistemas com atributos específicos personalizados para um cliente ou setor específico.
A partir de agora, essas cadeias estão em fase piloto de desenvolvimento. Está evidente que o Waltonchain está trabalhando em direção à sua visão de alcançar um ecossistema comercial controlado por dados.
IoT Chain
Este é mais um projeto empolgante focado em IoT com uso de uma configuração dependente das tecnologias DAG e blockchain.
Com a ajuda dessas tecnologias, o projeto está direcionado à criação de uma plataforma segura para o sistema operacional lite, o qual está em desenvolvimento para a IoT.
O sistema operacional lite permitirá que dispositivos com baixo poder de computação se conectem aos dispositivos da mesma rede que estiverem próximos, bem como aos dispositivos remotos.
Enquanto todos estão buscando uma economia que demande intervenção humana mínima, é necessário garantir que as plataformas nas quais essas economias funcionam sejam seguras.
E este é o principal fator que fez com que IoT Chain adotasse a tecnologia blockchain, já que ela oferece uma estrutura apropriada para armazenamento de informações, procedimentos automatizados e comunicação criptografada.
Para a IoT Chain, o ICT token serve como forma de cadastro, bem como a moeda do ecossistema. Esse token será responsável pelas transações machine-to-machine (M2M), dependendo de seus compromissos.
Obviamente, essa moeda continua sendo um token ERC-20. No entanto, quando a rede principal estiver operacional ela será alterada para um token nativo da IoT.
Considerações finais
Ainda estamos dando os primeiros passos quanto às possibilidades de convergência da IoT e da blockchain. No entanto, os vários projetos em desenvolvimento oferecem justificativa para grandes expectativas.
Sobre o autor
Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Desde janeiro de 2019, atua na empresa de criptomoedas Changelly como gerente-geral para a América Latina