O Supremo Tribunal Federal (STF) publicou na quinta-feira (20) uma decisão que acolhe pedido de prisão preventiva para fins de extradição de Laurent Myriam Claude Barthelemy, um cidadão belga que é acusado de criar uma pirâmide financeira que envolve criptomoedas na Europa.
Segundo a Interpol, Barthelemy é o criador da Bit Robot, uma operação já clássica no mundo das pirâmides financeiras criadas nos últimos anos: a vítima fazia um depósito em dólares ou criptomoedas em troca de um suposto retorno fixo todos os meses – quem deixam de ser feitos após algum tempo.
“As investigações do país demandante identificaram que a fraude aplicada consistia na prática de investimentos·na modalidade conhecida como ‘sistema de pirâmide’ e pode ter vitimado milhares de pessoas em vários países europeus”, afirma o despacho assinado pela ministra Cármen Lúcia.
Os documentos mostram que a Bit Robot passou a exibir uma mensagem no dia 1º de outubro de 2021 alegando que havia sofrido um ataque hacker e que seus clientes haviam perdido todos os investimentos.
Ao se aprofundarem na investigação, as autoridades belgas identificaram que Laurent Myriam Claude Barthelemy era o criador e líder do esquema.
Lutador de boxe e resistência à prisão
A Polícia Federal prendeu o cidadão belga no dia 18 de abril na cidade de Fortaleza. Os agentes relataram ter sido necessário o uso de algemas, pois Barthelemy, “além de ser lutador de boxe, possui compleição física avantajada e não se mostrou responsivo aos comandos dados pela equipe durante a atuação policial”.
O acusado está agora preso na Superintendência Regional de Polícia Federal no Ceará e irá passar por uma audiência de custódia – procedimento no qual o preso é levado diante de um juiz para que o magistrado decida se o processo seguiu todas as normas legais e se é necessário a prisão ou se podem ser aplicadas medidas diferentes, como domiciliar e uso de tornozeleira eletrônica.
Operação da Bit Robot
Quem acompanhou a trajetória da Bit Robot de perto foi o site Behind Multilevel Marketing (BehindMLM). Em 12 de agosto de 2020, o site publicou um artigo analisando os serviços da Bit Robot e chegando na conclusão que se tratava de um esquema de pirâmide financeira.
O site afirma que naquele momento não existia nenhuma informação de quem era o dono da operação. Os lucros viriam de um método não revelado de trading usando criptomoedas.
O sistema de trading dividia as vítimas em três níveis:
- Básico: quem investia de 0,02 até 0,19 Bitcoin e receberia 14% de retorno ao mês
- Performance: quem investia de 0,2 até 1,99 Bitcoins e receberia 17% ao mês
- Supremo: quem investe 2 BTC ou mais e recebe 21% ao mês.
Mas além do Bitcoin (BTC), o esquema aceitava pagamentos em dólar, Bitcoin Cash (BCH), Dash (DASH), Ethereum (ETH), Litecoin (LTC), Pivx (PIVX), Ripple (XRP) e Monero (XMR).
Além disso, a Bit Robot oferecia um sistema de afiliados no qual a pessoa era recompensada por trazer outros clientes para a plataforma.
O BehindMLM apontou que a empresa não passou no teste clássico para ver se a operação é um esquema Ponzi: a única fonte de receita da empresa era o dinheiro de novos clientes e não existiam evidências de que havia qualquer trading sendo feito com criptomoedas.
Supostos hackers defendem honra de Barthelemy
Depois, no dia 11 de janeiro de 2021, o BehindMLM apontou em novo artigo que a pirâmide Bit Robot colapsou. O site afirmava que no lugar do clássico “exit scam”, no qual os criminosos simplesmente desaparecem, nesse caso a operação dizia ter sido alvo de hackers.
Dessa vez, Laurent Myriam Claude Barthelemy, o belga preso no Brasil, é citado. E, convenientemente, os supostos hackers o inocentam de qualquer participação.
O que ocorreu é que, na seção de comentários do primeiro artigo da BehindMLM sobre a Bit Robot, um leitor apontou que o líder da operação seria um homem chamado Arnaud Racine.
Os alegados hackers publicaram um longo texto na página contando como Racine era de fato o líder da operação da Bit Robot. E nesse comunicado confirmaram que ele era o chefe, mas que tinha apontado um amigo incauto chamado Barthelemy para responder por qualquer problema na Justiça
Os “hackers” afirmam que existiam mensagens de voz mostrando que Racine ditaria tudo que Barthelemy deveria fazer e que o belga preso no Brasil não teria acesso às finanças da empresa.
Por fim, os hackers dizem que Racine pegou o equivalente a US$ 300 mil em criptomoedas em dezembro de 2020 e entre os dia 6 e 7 de janeiro transferiu tudo para um mixer, que fez se tornar impossível o rastreamento.
Caso semelhante com sul-africano
Essa não é a primeira vez que o Supremo Tribunal Federal decide em caso de prisão para extradição de acusados de montar pirâmide com criptomoedas. Em junho do ano passado, a corte decidiu manter a prisão cautelar de Johann Steynberg, um sul-africano procurado pela Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) por liderar um grande esquema de pirâmide financeira com bitcoin na África do Sul, que pode ter movimentado mais de R$ 2,4 bilhões.
Steyberg estava escondido no Brasil desde dezembro de 2020, mas levou um ano para as autoridades descobrirem sua localização exata. Ele foi preso em Goiânia em dezembro de 2021.
“Após um trabalho intenso de identificação e acompanhamento, e com o auxílio de informações repassadas pela Polícia Federal, foi possível identificar e abordar o suspeito, que no momento da abordagem apresentou documento falso”, diz a nota dos policiais do Grupamento de Intervenções Rápidas Ostensivas (Giro), responsáveis pela operação desta semana.
Os golpes de Johann Steynberg
Johann Steynberg era o CEO da Mirror Trading International (MTI), empresa com sede na África do Sul acusada de ser uma pirâmide financeira associada a criptomoedas.
Através do seu negócio, Steynberg cobrava um depósito de no mínimo US$ 100 em bitcoin dos investidores, com a promessa de oferecer a eles 10% do valor todos os meses. “Tudo que você precisa fazer é sentar e relaxar”, informava a Mirror Trading International no site.
O empresário fundou em abril de 2019 a empresa que explicava operar com um “software digital avançado e inteligência artificial (IA) para negociar nos mercados internacionais de Forex”.
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