Andrew Bailey, presidente do Banco da Inglaterra (ou BoE, na sigla em inglês), questionou a decisão de El Salvador em adotar o bitcoin (BTC) como moeda corrente.
“Me preocupa que um país escolha [o bitcoin] como sua moeda nacional”, disse Bailey nessa quinta-feira (25) durante um discurso à Universidade de Cambridge, de acordo com a Bloomberg.
Os alertas de Bailey são os mais recentes em uma longa lista de preocupações em relação à política de bitcoin em El Salvador.
Em junho, o Banco Mundial afirmou que não iria ajudar El Salvador a desenvolver seu projeto de bitcoin, citando preocupações com o meio ambiente e a transparência.
Em julho, o Fundo Monetário Internacional (ou FMI) também alertou sobre a decisão, sugerindo que a adesão do bitcoin como uma moeda corrente “levanta inúmeras questões macroeconômicas, financeiras e jurídicas”.
Em setembro, o FMI reiterou sua opinião, chamando a política de El Salvador de um “atalho imprudente” que gera “riscos significativos”.
“O que mais nos preocupa é se cidadãos de El Salvador entendem a natureza e a volatilidade da moeda que têm”, acrescentou Bailey.
No entanto, a população de El Salvador parece entender a volatilidade do bitcoin e isso resultou em diversas controvérsias ao governo do presidente Nayib Bukele.
As dificuldades iniciais do bitcoin em El Salvador
Desde que o presidente Bukele anunciou em junho que o bitcoin seria a moeda corrente do país da América Central, seu governo enfrentou duras críticas.
Um mês após o anúncio, El Salvador passou por protestos antibitcoin. Em agosto, salvadorenhos protestaram novamente contra o bitcoin e milhares de pessoas foram às ruas para protestar em setembro.
O sentimento antibitcoin nesses protestos também foi fundamentado por diversas pesquisas que descobriram que grande parte dos salvadorenhos não apoiava a adesão do bitcoin como moeda nacional.
No cerne da controvérsia do bitcoin em El Salvador está a falta de transparência, bem como uma contradição aparente entre a alegada promessa do bitcoin e as ações do governo do presidente Bukele.
Uma das maiores preocupações sobre a transparência é o fato de que ninguém sabe quem controla as chaves públicas dos bitcoins de El Salvador. O governo também nunca forneceu uma política clara que governe quando (e a que nível) adquire bitcoin para a nação.
“Qual é o critério para dizer: ‘hoje, vamos comprar mais bitcoins’ ou ‘vamos esperar até o próximo mês’? Não sabemos disso”, indagou Nolvia Serrano, líder de operações na fornecedora de carteira BlockBank em participação ao podcast Decrypt Daily em setembro.
Os críticos ao bitcoin apontam para o longo histórico autoritário de Bukele e argumentam que prejudica a filosofia das principais criptomoedas.
Um grande exemplo aconteceu quando o crítico ao bitcoin Mario Gomez foi preso sem um mandato e sem acusações.
De acordo com artigos locais, as autoridades policiais de El Salvador tentaram confiscar o computador de Gomez durante a prisão, mas voltou atrás quando repórteres chegaram ao local.
“Me magoa ver maximalistas de bitcoin ao redor do mundo comemorando isso quando, se realmente sentassem e lessem a lei e as regulações, [entenderiam que] é totalmente o oposto a tudo o que defendem”, afirmou um empreendedor local ao Decrypt.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização de Decrypt.co.