Imagem da matéria: As mulheres que são protagonistas do mercado brasileiro de criptomoedas
(Fotos: Divulgação)

Embora homens ainda sejam maioria no mercado de criptomoedas, seja em cargos de liderança em empresas do setor ou do outro lado do balcão investindo, as mulheres, a cada ano que passa, ocupam um espaço cada vez maior no meio cripto. 

Se em janeiro de 2022 as mulheres foram responsáveis por 15,7% das transações de criptomoedas, em janeiro de 2023 essa porcentagem saltou para 25,8%, segundo dados da Receita Federal.

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O ganho na porcentagem é expressivo e significa que agora as mulheres representam um quarto de todas as transações de criptomoedas feitas no Brasil. À frente de empresas de cripto, em palcos de eventos e em comunidades Web3, vozes femininas também encontram mais espaço.

Neste 8 de março, dia internacional da mulher, vale a pena olhar para aquelas que arregaçam as mangas para construir o ecossistema de criptomoedas, cada uma de sua forma.

O Portal do Bitcoin organizou uma lista de 11 mulheres brasileiras que são destaques dentro e fora do país e cujo trabalho merece ser acompanhado de perto. Elas compartilharam com a reportagem como foi a experiência de entrar no mercado cripto e suas opiniões sobre o papel das mulheres no avanço coletivo do setor. 

Renata Rodrigues – Fedi

Renata Rodrigues
Renata Rodrigues

Renata Rodrigues é um nome de destaque por seu trabalho de popularizar o uso de Bitcoin em diferentes partes do mundo. Ela começou a atuar no mercado em 2019, como líder global de comunidade e educação da Paxful.

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Pelo Brasil, fortaleceu no ano passado iniciativas como AfroBit_Lab, um programa de educação focado em ensinar bitcoin para população negra. No final do ano passado, Rodrigues se tornou head de marketing e comunidade da Fedi, um projeto independente que criou uma nova forma de oferecer custódia comunitária de bitcoin.  

“Meu foco é introduzir Bitcoin para as massas. Eu percebi que 2020 e 2021 foram anos chave para o aumento da presença das mulheres no nosso mercado, especialmente como traders e empreendedoras”, constata a profissional.

“Acho que o papel principal das mulheres no nosso mercado é de inspirar mais mulheres a cuidarem ou pelo menos a se envolverem mais com suas finanças. Tecnologia e dinheiro ainda são um enorme tabu no universo feminino – em muitos lares o homem ainda é quem administra o capital da família. Sinto que um equilíbrio entre os gêneros dentro de casa permite que também haja um equilíbrio mais saudável na relação entre as pessoas. Dinheiro é poder, e o poder deve ser como o Bitcoin, descentralizado.”

Carol Santos – Educar+

Carol Santos
Carol Santos

Carol Santos é pedagoga e criadora do Educar+, uma ONG que apoia crianças e jovens do Complexo do Chapadão, no Rio de Janeiro. Em conversa com o Portal do Bitcoin ano passado, Carol contou que o objetivo do seu trabalho é ajudar a mudar a realidade da comunidade onde vive através da educação. As criptomoedas entram para acelerar esse processo.

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Além de educação e cultura, a tecnologia se tornou um pilar do Educar+, que oferece aulas que vão desde Introdução a blockchain até informática para mães de alunos. Ano passado, ela levou as crianças do Chapadão para o NFT.RIo ver os desenhos que criaram transformados em NFT e expostos na 1ª exposição internacional de NFTs no Brasil.

“Sou muito aberta ao novo, e sempre tive o compromisso de levar isso para o meu território. A virada de chave foi no EthRio em março de 2022, quando eu percebi que não tinha ninguém como eu dentro do ecossistema Web3. Percebi que precisava oportunizar acesso a esse conhecimento e oportunidade para as favelas”, conta.

Segundo ela, muita coisa mudou desde então. Carol se tornou tornou Community Builder do Ethereum Brasil e passou a marcar presença em diversos eventos na área.

“Participei do Ethdenver e ainda somos minoria. Mas pode ter certeza que isso vai mudar com o tempo. Para que mais mulheres entrem, precisamos de mais oportunidades e educação. Precisamos ocupar esses espaços e mudar as próximas gerações.”

Camila Villard Duran – ESSCA School of Management

Camila Villard Duran
Camila Villard Duran

Camila Villard Duran atualmente é professora de direito na ESSCA School of Management, na França, com uma passagem de dez anos pelas salas de aula da Universidade de São Paulo (USP). 

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Embora tenha começado a carreira como advogada no mercado financeiro, Camila se dedicou à área acadêmica, fazendo pesquisas em grandes universidades do mundo para estudar o papel de bancos centrais na economia, a criação de moedas e regulação do mercado financeiro.

Foi estudando esses temas que as criptomoedas entraram no caminho. Camila participou nas discussões que antecederam a lei cripto sancionada no Brasil no final de 2022 e atualmente faz parte do conselho de regulação do grupo 2TM.

“Em cripto, eu analiso como está ocorrendo o que eu chamo de mutação da moeda, que não é só aquela que é emitida por um estado, mas também aquela que os agentes econômicos entendem como moeda e usam dessa forma. Meu olhar está em como as inovações tecnológicas e econômicas estão impactando o que entendemos e usamos como moeda hoje, e como as instituições financeiras tradicionais vão evoluir nessa nova economia cripto”, contextualiza.

Ela conta que por onde passou, seja na área acadêmica ou no seu trabalho em bancos, sempre foi visível que mulheres eram minoria em posições de maior poder — um cenário que não é diferente no mercado cripto.

“Antes era visto como “natural” que alguns setores tivessem mais ou menos mulheres, como se fosse uma questão de preferência individual, mas não é isso. É uma questão de como as relações sociais e econômicas estão organizadas e que automaticamente excluem as mulheres de alguns centros de poder”, diz.

“O que eu acho que mudou hoje, e isso vale para cripto como um novo setor econômico, é essa percepção de que falta de mulheres não é algo natural, mas sim um resultado consciente de exclusão das mulheres de áreas mais valorizadas, que tem uma remuneração e visibilidade política e econômica maior.”

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Na visão da Camila, para mudar esse cenário é preciso de ações práticas. Ela cita como exemplo a sua participação do grupo “Mulheres na Regulação” que trabalha para aumentar a presença feminina nos mais diversos setores e posições.

“Mulheres precisam ser alçadas a posições de poder. Não só como efeito individual nas mulheres, mas porque a diversidade traz maior eficiência. Já existem diversos estudos empíricos mostrando que quanto mais diverso um grupo, mais próspero ele é e maior é sua capacidade de criar soluções”, diz Camila que recomenda a leitura do seu livro de cabeceira The Difference, de Scott E. Page.

Heloísa Passos – Trexx

Heloísa Passos
Heloísa Passos

Heloisa Passos entrou no mercado cripto em 2017, ganhando destaque na cena brasileira em 2021, com o boom dos jogos play-to-earn, como Axie Infinity. Por meio das redes sociais e Youtube, Heloísa ajudou que pessoas — em grande parte mulheres — conseguissem gerar renda por meio de jogos NFT, ao compartilhar conteúdo educativo de qualidade.

Neste campo, ela encontrou espaço para criar seu próprio negócio no mundo dos games cripto, fundando as empresas Sp4ce Games e Trexx. 

“Quando eu entrei, quase não existiam mulheres educando, sendo builders, porque muitas não se sentiam confortáveis no espaço. Quando começaram a surgir grupos focados para mulheres, isso começou a mudar”, relembra.

Na visão dela, o papel da mulher no espaço cripto é estar em um patamar de igualdade com os homens. “Nós mulheres temos que mostrar que também temos soluções tão inovadoras quanto eles e educamos tão bem quanto eles. Quando falamos de descentralização, temos que entender o real aspecto disso, que também significa descentralizar perfis. Isso inclui diversificar palcos, colocar as mulheres para falar sobre DeFi, game, educação Web3, do que elas quiserem.”

Giovana Fiorin – MB

Giovana Fiorin
Giovana Fiorin

Giovana Fiorin é diretora de operações do MB (Mercado Bitcoin), a maior corretora nacional de criptomoedas, com mais de dez anos de experiência na área de desenvolvimento de negócios. Ela conta que começou no mercado cripto em 2020, depois de ter retornado de um MBA fora do Brasil. 

“Eu sempre trabalhei no mercado financeiro tradicional e buscava algo diferente, que eu pudesse de fato contribuir com a construção e ver minha “marca”, novas tecnologias e uma cultura colaborativa mais focada em pessoas”, explica.

Durante esses anos em que atua na área, ela diz que pode perceber um aumento na participação das mulheres no meio cripto, principalmente em posições de liderança, e uma maior conscientização desse tema, mas ressalta que ainda é importante existir metas objetivas para que a equidade de gênero se torne uma realidade.

“O papel da mulher no mercado cripto é quebrar paradigmas e estereótipos. Precisamos interromper o ciclo da percepção que existem cargos ou áreas mais voltadas para homens do que mulheres. Uma das formas de ocuparmos um espaço maior é cada vez mais contarmos com mulheres que chegaram lá para que promovam esse debate e cobrem ações efetivas nas empresas.”

Camila Rioja – Celo

Camila Rioja
Camila Rioja

Camila Rioja é advogada com mais de dez anos de atuação na área de direito e tecnologia, e atualmente é líder na América Latina da Fundação Celo.

Ela conta que conheceu as criptomoedas quando fazia parte da Legal Hackers, uma comunidade de profissionais espalhados pelo mundo que criam soluções de forma criativa com a interseção do direito com a tecnologia. Foi por esse caminho que ela se aprofundou na tecnologia blockchain.

“Meu caminho na área foi de primeiro estudar como advogada, depois escrever e dar aulas sobre o assunto. Quando eu entendi como funcionava a tecnologia blockchain e os casos de uso, fiz esse salto para efetivamente construir soluções na área”, explica.

Ano passado, por exemplo, Camila participou através da Celo na organização de um hackathon promovido pelo governo brasileiro para premiar iniciativas de tokenização do Patrimônio da União.

Ela ressalta que embora muita coisa tenha avançado no meio cripto com relação à participação das mulheres, ainda há uma lacuna que precisa ser preenchida para aumentar a igualdade no setor.

“Temos no Brasil e no mundo representatividade feminina muito forte, mas que às vezes não encontram espaço para colocar suas questões como líderes”, diz. Ela cita como exemplos de mulheres que admira na área cripto Solange Gueiros, Liliane Tie, Paula Palermo, Rafaela Romano e Giovana Simão, bem como profissionais no campo judiciário conectadas à blockchain, como Renata Baião e Dayana Uhdre.

Giovana Simão – Bit das Minas

Giovana Simão
Giovana Simão

Giovana Simão é a fundadora do Bit das Minas, canal do YouTube focado em passar conteúdo educacional sobre criptomoedas para o público feminino. Ela também é fundadora e CEO da Cobogo, um ecossistema criado para ajudar criadores de conteúdo a levantar capital de forma semelhante a uma startup.

Ela conta que criou o canal motivada pela falta que fazia uma voz feminina no meio cripto brasileiro, quando se aproximou do setor em 2017.

“Naquela época o mercado era extremamente machista. No Telegram, onde estava a maioria das comunidades de criptomoedas, qualquer pergunta que você fizesse como iniciante sempre tinha um cara que tirava sarro, o que desestimulava quem estava começando”, afirma.

“O ápice para mim foi quando em um dos grupos cripto começaram a trocar pornografia. Eu só queria aprender sobre cripto sem passar por tudo isso. Eu sentia muita falta de mulheres falando sobre bitcoin, então decidi agir”, relata.

Na visão dela, muita coisa mudou de lá para cá, com mais mulheres falando no espaço cripto, uma presença que só tende a fortalecer o ecossistema cripto como um todo.

“As mulheres trazem uma outra visão e acolhem muito mais quem está começando na área. A mulher também normalmente não entra tanto no setor com esse viés de especulação, ela primeiro quer entender o mercado, o que é muito bom porque traz mais maturidade.”

Roberta Antunes – Hashdex

Roberta Antunes
Roberta Antunes

Roberta Antunes atua hoje como Chefe de Growth da Hashdex, a gestora de fundos de investimentos em criptoativos.

Antes de entrar na área, Roberta cofundou o Hotel Urbano e atuou como CEO da empresa Endless, que possui um sistema operacional criado sobre o Linux. Foi nesta última empresa que ela percebeu a força do código aberto e começou a se interessar pelo setor cripto.

“Quando eu entendi o que era cripto, tudo fez muito sentido para mim. Cripto é um mecanismo de incentivo de qualquer comunidade open source que gera valor para a sociedade, então isso tem muito para dar certo.”

Ela aponta a falta de mulheres como um desafio que vem das duas áreas que fazem a interseção de cripto — finanças e tecnologia —, nas quais historicamente predomina a presença masculina. 

“Existem vários grupos de mulheres interessadas nessa tecnologia. Acho que tem um trabalho de educação muito grande que precisa ser feito para desmistificar o setor cripto e fazer com que mulheres se aproximem da tecnologia blockchain.”

Para mudar esse cenário, Roberta aposta em iniciativas como EVE, um projeto de NFT e DAO que cofundou com outras empresárias brasileiras com o objetivo de criar uma Web 3.0 mais inclusiva e representativa.

Bianca Brito – Cora

Bianca Brito
Bianca Brito

Bianca Brito é uma das criadoras da Cora, uma comunidade no Discord criada com o intuito de facilitar a inserção de mulheres na Web3 e no mercado de criptomoedas através de um espaço aberto para troca de dúvidas e experiências.

Ela começou na área cripto investindo e acabou se aproximando das frentes de negócio ligadas a NFTs, metaverso e comunidades, especialmente pelo viés de marketing e negócios, que é seu background. Atualmente ela é CSO da Viden Ventures e no passado já participou da construção de posicionamento e comunidades de marcas como TikTok, Toyota e Ambev. 

Assim como as outras mulheres citadas aqui, foram as dificuldades enfrentadas como mulher no setor que a motivaram a criar seu próprio projeto.

“Cora, além de ser uma inspiração na Cora Coralina, vem muito de coragem. Não tenho dúvidas, por todos os relatos que já ouvi das mulheres da comunidade, que muitas só conseguiram seguir em frente nos seus negócios pelo apoio obtido na Cora e a coragem para seguir se inspirando em tantas outras”.

Ela aponta ser necessário mudar a cultura existente no mercado de tecnologia em que predomina um número de mulheres muito pequeno na liderança de empresas quando comparado com homens. “Na minha visão, o caminho é que todos que estão construindo nesse mercado, questionem a presença feminina nas suas equipes, no palco de eventos e outras iniciativas relevantes. Mais do que só ter mulheres como audiência, é preciso ter mulheres no palco.”

Karen Duque – Bitso

Karen Duque
Karen Duque

Karen Duque é a head de políticas públicas da exchange de criptomoedas Bitso, com uma carreira marcada por passagens em empresas como 99 e Google, que despertaram nela o interesse por tecnologia. Nesta quarta-feira (8), também foi anunciado que ela vai acumular o trabalho na unidade brasileira com o das operações do grupo na Colômbia.

No ano passado, Karen foi uma das principais profissionais que ajudaram a dar voz às demandas do setor cripto durante as discussões da regulação das criptomoedas no Brasil, tornada lei no final de 2022.

Ela afirma que faz questão de dedicar parte do meu tempo em ajudar e guiar outras mulheres a conquistar esses espaços importantes de debate na área.

“Aumentar a quantidade de mulheres que lideram esses mercados e dar visibilidade a elas é um importante processo de empoderamento e de exemplo para que outras mulheres também se sintam confortáveis de atuar nesses setores. Eu acredito muito que a inovação é resultado da diversificação e inclusão de diferentes ideias, experiências, culturas e sim, gêneros… E só alcançamos isso se dermos espaço e voz a todas e todos”, analisa.

Ela aponta como fundamental o fomento de políticas que atraiam mais mulheres para cargos de liderança, como programas de ERG (Employee Resource Groups) e outros grupos orgânicos, como por exemplo o RelGov Por Elas, que “começou com sete pessoas e hoje são mais de 150 mulheres que compartilham experiências, vivências e estratégia política”. 

Cintia Ferreira – EVE

Cintia Ferreira
Cintia Ferreira

Cintia Ferreira é fundadora do EVE, uma organização autônoma descentralizada (DAO) formada por mulheres que são referência nas áreas de tecnologia, empreendedorismo, mercado financeiro, marketing e cultura.

Ela começou sua trajetória na área cripto em 2020, inicialmente como investidora em criptomoedas e NFTs, e acabou estendeu a jornada para também construir um projeto no setor.

“Fui aprimorando meus conhecimentos sobre o tema e, estudando o cenário como um todo, percebi que tinham poucas mulheres inseridas e que precisava fazer algo para incentivar a participação. Foi no final de 2021 que resolvi fundar a EVE como um lugar de apoio e conhecimento para quem estava na fase inicial desse mercado e tinha curiosidade sobre o assunto”, explica.

Uma mudança que ela percebeu desde então é que cada vez mais as mulheres estão perdendo o medo de dizer “eu não sei” para puxar o movimento do “vamos aprender juntas”.

“As mulheres têm contribuído significativamente para o desenvolvimento de tecnologias blockchain e criptomoedas, incluindo programação e desenvolvimento de aplicativos. Precisamos furar a bolha e encorajar mais mulheres a explorar essa nova economia. Sejam elas como criadoras, apoiadoras, artistas ou investidoras de projetos que fomentam o ecossistema.”

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