Imagem da matéria: As altas executivas brasileiras que apostaram a carreira no mercado de criptomoedas
Daniela Cabral (esquerda) e Nicole Dyskant (direita) (Fotos: Divulgação)

O avanço das mulheres no mercado de criptomoedas é lento mas segue em crescimento. Os dados da Receita Federal mostram que as mulheres representaram, em janeiro, 16,2% das negociações declaradas pelas normas da IN 1888.

É pouco? É. Mas o dado representa um crescimento de 46% em comparação a janeiro de 2021, quando as brasileiras representavam 11,3% do total.

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Neste 8 de março, Dia da Mulher, o Portal do Bitcoin traz o perfil de duas executivas bem-sucedidas que decidiram dar um novo rumo em suas carreiras e apostar no mercado de criptomoedas: Nicole Dyskant, a Diretora Jurídica e Compliance Global da Hashdex, e Daniela Cabral, Chief Human Resources Officer da 2TM (controladora do Mercado Bitcoin).

Elas ocupam cargos de liderança em suas respectivas áreas e contaram à reportagem como é estar no topo em um mercado no qual ser homem costumava ser a regra.

Nicole Dyskant: Compliance e Finanças

Nicole Dyskant, 40 anos, é uma advogada especialista em compliance no mercado de capitais que iniciou sua carreira há 20 anos no escritório de advocacia do atual presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Marcelo Barbosa. 

Foi na corretora Ágora que ela decolou como profissional: foram quase 10 anos de trabalho até se tornar líder de compliance da empresa. 

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Quando a Ágora foi vendida para o Bradesco em 2008, Dyskant tinha 26 anos e já era diretora estatutária da empresa, tornando-se a diretora mais nova do conglomerado. 

“Eram três ou quatro mulheres diretoras entre 300 homens diretores do conglomerado”, lembra.

Depois de sair do banco, Dyskant alavancou sua carreira: trabalhou no escritório de advocacia do ex-presidente da CVM, Marcelo Trindade, cocriou um software líder em compliance chamado Compliasset, e também abriu seu próprio escritório de advocacia. Nesse meio tempo, ela morou em Nova York e São Francisco nos EUA — e teve duas filhas.

No início deste ano, Dyskant assumiu o cargo de líder de compliance da Hashdex ao retomar uma conversa antiga.

Ela e Marcelo Sampaio, o CEO da Hashdex, eram amigos desde a época da faculdade — ambos estudavam na PUC-Rio — e quando ele planejava criar empresa em 2018, convidou Dyskant para ser sua cofundadora. Ela acabou optando por focar seu trabalho no Compliasset, eleito naquele ano o melhor software de compliance do Brasil.

Mesmo de fora, ela trabalhava com a Hashdex através de seu escritório de advocacia. Fez o registro da empresa como gestora na CVM e, mais recentemente, ajudou a empresa a conseguir a credencial de administrador fiduciário legalizado no Brasil.

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A decisão de se juntar à Hashdex de forma definitiva veio no final do ano passado, quando Dyskant estava prestes a se mudar para São Paulo para ser líder LATAM de uma gestora americana que chegava ao Brasil. Ela acabou desistindo do emprego e indo para a Hashdex após um novo convite de Sampaio.

“O amadurecimento do mercado me levou à decisão de entrar para a empresa. Você imagina, antes eu trabalhava com regulação financeira, cripto para mim era boca de fumo”, brinca Dyskant. “Mas como tive que estudar como funcionam os fundos do setor, acabei entendendo o mercado”.

Na sua nova fase dentro da empresa, Dyskant terá a missão de levar as melhores práticas de compliance do mercado tradicional para um meio que ainda vive um cenário regulatório incerto no Brasil.  

Ela também revela que o plano da empresa é expandir para países como EUA, Reino Unido e Suíça. Seu foco, agora como diretora global de compliance, será ajudar a cumprir esta missão.

“Lugar de mulher é no mercado financeiro”

Foi conhecendo o setor que a advogada percebeu a falta de mulheres:

“Comecei a ir em eventos e só tinha homem. Ali percebi que a disparidade de gênero parecia ser pior do que no mercado financeiro tradicional. O nosso desafio, mulheres no meio cripto, é ainda maior porque esse é um mercado inovador, que nasceu com a galera mais nova e engajada, mas majoritariamente masculina”, argumenta.

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O reconhecimento das mulheres no mercado financeiro é uma luta pessoal que a Dyskant trava nos últimos anos. Ela ajudou a trazer para o Brasil a organização 100 Women in Finance, na qual atua como copresidente.

“Temos mais de 600 mulheres no grupo que tem como missão principal concretizar o que chamamos de visão 30/40: até 2040, ter 30% dos cargos de liderança ocupados por mulheres. Hoje os números são muito menores que isso, tem muita coisa para mudar para chegarmos até lá”, explica. 

Ela defende que trazer mais diversidade para a mesa de decisão não é positivo apenas para as mulheres, mas sim para todas as empresas que se beneficiam com a inovação que pessoas de background diferentes podem trazer.

“A preocupação com diversidade, com formas de acabar com assédio no trabalho, de respeito às mulheres são os meu maiores desafios. É preciso mostrar que lugar de mulher é no mercado financeiro”, afirma.

Dyskant conta que existe um conjunto de fatores que dificulta para as mulheres avançem na carreira até chegar aos cargos de liderança, como a gravidez: “Muitas mulheres saem do emprego porque os seus maridos continuam trabalhando e os cuidados da criança sobrecarregam a mãe. Ou presumimos que todo mundo vai ter condição de ter babá — e essa não é a realidade —, ou a mulher acaba tendo que ceder”.

Ela acrescenta que embora essa seja a realidade em todos os setores, no mercado financeiro a situação parece ser ainda mais grave, com um efeito funil: um número maior de mulheres na base, no começo da carreira, mas que ao longo do tempo vão se perdendo e não conseguem progredir para cargos de liderança.

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Nicole Dyskant conclui que a busca por igualdade de gênero é uma luta diária para todas as mulheres. “Você tem que falar um pouquinho sobre isso todo dia. É uma mudança de mindset. Estou bastante reflexiva porque acabo de fazer 40 anos e fico feliz de ter chegado nesse estágio da vida e saber que posso servir como exemplo para outras mulheres”, finaliza.

Daniela Cabral: Olhar da contratação

Os problemas que devem ser resolvidos para tentar aumentar a presença de mulheres no mercado de criptomoedas também são compartilhados por Daniela Cabral, Chief Human Resources Officer da 2TM.

Cabral, 44 anos, começou a vida profissional na área de RH em uma grande consultoria e seguiu a carreira passando por grandes empresas multinacionais e brasileiras. No meio do caminho, ela também atuou em outras áreas como Operações e Capabilities, e acabou se apaixonando pelo segmento de tecnologia.

“A curiosidade sobre o tema veio com a blockchain, mas ainda não tinha investido em criptomoedas. Me encantei pelo propósito de fazer parte da revolução da economia digital. Acredito demais no mercado e na descentralização da economia porque é um movimento de grande impacto na sociedade e que não tem volta”, relata.

Sobre a falta de mulheres em cargos de liderança, ela explica que o mercado cripto reflete uma tendência histórica de baixo número de mulheres em áreas de exatas:

“Podemos ver nas universidades a diferença de gênero nestas matérias. Isso também se reflete no mercado de trabalho e em Educação financeira. Apesar de muitas famílias hoje serem ‘chefiadas’ por mulheres, mais de 70% dos investidores no país são homens, segundo os dados da B3. Hoje ainda temos poucas mulheres em posições de alta liderança e ocupando cadeiras nos conselhos executivos, o que dificulta a nossa representatividade”.

O cenário, contudo, está mudando. As pesquisas, lembra a executiva, mostram que o número de mulheres investindo na bolsa de valores aumentou mais de 100% em 2020 com relação ao ano anterior, um movimento que também pode acontecer no mercado cripto. 

As empresas da área também estão se preocupando mais em trazer mais mulheres para os cargos, assumindo compromissos importantes com a equidade de gênero, investindo na formação de líderes mulheres, com programas de contratação e formação específicos. O resultado é um incentivo de redes de desenvolvimento e apoio para que todas tenham maior consciência do seu talento, ajudem umas às outras e sejam embaixadoras desse tema nas organizações.

“Hoje na 2TM somos 38% de mulheres. Ainda estamos em construção, mas temos consciência da nossa responsabilidade em aumentar esse número e sermos referência no mercado cripto”, aponta.

A solução, segundo ela, é investir muito em educação, ter um programa de inclusão e diversidade genuíno, mentoria direcionada, além de assumir compromisso com metas importantes, como número de contratações, e programas para formação de meninas. 

“Oportunidades de crescimento e salários têm que ser os mesmos para ambos os gêneros”, acrescenta Cabral. “Nosso mercado é muito novo. É difícil encontrar pessoas prontas de uma maneira geral. Temos que investir bastante na formação de talentos e no fortalecimento da nossa comunidade cripto”.

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