André Neves: o brasileiro que ajuda a levar o bitcoin ao mundo dos jogos

Serviço da Zebedee permite que jogadores ganhem satoshis jogando Counter-Strike em servidores especializados
Imagem da matéria: André Neves: o brasileiro que ajuda a levar o bitcoin ao mundo dos jogos

André Neves, CTO da Zebedee. (Foto: Reprodução/LinkedIn)

Na série de histórias de brasileiros no exterior que estão ajudando a inovar na indústria de criptomoedas, o Portal do Bitcoin conversa com André Neves, o diretor-chefe de tecnologia da Zebedee, uma empresa que ele ajudou a fundar em 2018.

A Zebedee fornece tecnologia ‘Infuse’ para que desenvolvedores de jogos integrem o bitcoin a suas criações. No Counter-Strike (CS:GO), por exemplo, já existem servidores especializados onde os jogadores podem ganhar satoshis a cada partida ganha. 

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Tudo isso é possível graças a Lightning Network, uma solução de segunda camada que garante que os micropagamentos de bitcoin sejam feitos de forma instantânea e quase sem taxas para o jogador. 

Como CTO, o brasileiro lidera direto de Nova York toda a parte desenvolvimento de tecnologia da empresa que hoje está em amplo crescimento, com mais de 25 funcionários espalhados em oito países diferentes. Em setembro, a Zebedee  arrecadou US$ 11,5 milhões em sua primeira rodada de investimentos.

Para chegar onde está hoje, André Neves, de 28 anos de idade, precisou deixar o Brasil muito cedo, quando tinha apenas 14 anos. Antes de se estabelecer em Nova York onde mora atualmente, ele passou um tempo nos Emirados Árabes com a sua família, já que seu pai trabalhava no ramo de petróleo. 

“Quando você cresce fora do país com amigos de outros lugares, a sua referência de mundo muda um pouco. Eu não tive juventude no Brasil, não fui em festa de 15 anos, nada disso”, brinca Neves para explicar que “foi moldado numa cultura diferente”.

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Devido a esse distanciamento com o país natal, ele decidiu se mudar para os Estados Unidos quando terminou o ensino médio ao invés de voltar para o Brasil. 

Quando chegou em Nova York, André estudou engenharia elétrica e eletrônica na New York Institute of Technology (NYIT) e se formou em 2015. Embora já se interessasse por computação naquela época, ele ainda não estava inserido no setor das criptomoedas.

Descobrindo o bitcoin

“Ouvi falar de bitcoin pela primeira vez, como todo mundo, através de um conhecido que na época era meu roommate. Acho que foi em 2014 e assim que comecei a estudar mais notei que tinha algo grande ali”.

André não mergulhou de cabeça na indústria cripto quando se formou na faculdade. Em 2016, ele começou a trabalhar na Big Human, um dos maiores estúdios de design de Nova York que tinha como clientes companhias como Facebook e Snapchat. Lá, o brasileiro era líder de um time de 16 engenheiros de programação. 

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“Foi lá que eu falei ‘não consigo mais criar coisas para os outros’, eu achava que eu tinha um propósito maior que estava ignorando”. André conta que naquela época já estava “louco com bitcoin”, passava horas e horas estudando a tecnologia até que resolveu se dedicar em tempo integral para a criptomoeda.

O interesse pelo BTC se intensificou quando ele se aprofundou na Lighting Network, sendo um dos primeiros participantes da comunidade a rodar um testnet node da rede. Em 2018, o brasileiro fez parte da primeira classe focada em Lighting Network da Chaincode Labs, um grupo de pesquisa de bitcoin famoso pelos seminários que promove.

“Eu fui convidado com outras nove pessoas para formar a primeira classe de Lightning do  Chaincode Labs. O desenvolvedor vai lá por um mês e eles te ensinam tudo sobre a tecnologia”, conta André. Ele avalia que aquele momento foi decisivo para ele decidir ir com tudo nas criptomoedas. “Desde então fui hands down, esse é o futuro”. 

A criação da Zebedee

Quando terminou o curso da Chaincode Labs, André Neves conheceu Simon Cowell e Christian Moss através de indicações de amigos em comum e juntos, o trio fundou a Zebedee em 2019.

“Eu acho interessante porque eu venho da parte de desenvolvimento de sistemas e plataformas, meu CEO (Simon Cowell) vem da parte de serviços financeiros e exchanges, trabalhou na Bitstamp. Já o Christian é um desenvolvedor de games, ele entende muito da parte de jogos”, explica Neves.

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Ao combinar a expertise de cada um, a empresa desenvolveu uma série de ferramentas  que os estúdios de jogos precisam para usar o bitcoin e a rede Lightning para impulsionar as suas produções na área.

“A nossa visão é que as economias virtuais que existem nos jogos serão muito maiores do que a economia ‘real’, porque não possuem amarras. Eu posso fazer um pagamento dos EUA para o Brasil em segundos, algo que eu não poderia fazer com dinheiro físico”, afirma Neves.

O brasileiro explica que a tecnologia da Lighting Network é central para a Zebedee, pois permite que milhares de nano transações sejam feitas dentro dos jogos com quase nenhum custo.

“Do mesmo jeito que a internet fez com que a informação se tornasse dados que podem ser enviados, o bitcoin e a Lighting fazem a mesma coisa com o dinheiro”, compara.

Agora que a Zebedee já está mais amadurecida no mercado e possui uma equipe consolidada de profissionais, André explica que não precisa ser mais tão “mão na massa” como no começo da empresa, mas ainda é responsável pelo desenvolvimento de parte do sistema.

No dia a dia, o brasileiro foca em planejar as tecnologias futuras da empresa, roadmaps, estratégia de produtos, desenvolvimento de negócios e fechar parcerias. 

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De olho no Brasil

O desenvolvedor conta que embora sua família ainda esteja no Brasil, ele não planeja voltar a morar no seu país de origem. “Depois que eu mudei para cá, acho que não tem volta, a vida é diferente”, explica.

Mesmo distante, ele continua de olho no que acontece no país e diz que a Zebedee busca parcerias com empresas brasileiras. “Uma grande parte dos nossos usuários  são brasileiros, por várias razões. Brasileiros adoram jogos e o Brasil é um dos maiores países em relação ao número de usuários na internet, com os jovens adotando novas tecnologias muito rapidamente”, afirma.

No entanto, ele não deixa de pontuar que questões regulatórias e tributárias são alguns empecilhos que existem para uma empresa da área cripto se expandir para uma nova região, mas vê com bons olhos o caminho que a insdústria está seguindo no país. 

“Pelo o que eu tenho visto, ainda é bem jovem o mercado brasileiro, mas já tem alguns players grandes como Mercado Bitcoin e outras exchanges”, avalia. Por fim, ele também reconhece inovações interessantes que surgiram no país como o Pix, algo que ele já visualiza um potencial de implementação com o bitcoin.