Os mercados de bitcoins (BTC) continuam sofrendo, conforme os preços negociados caíram da alta semanal de US$ 44.659 e encerraram, abaixo do nível psicológico de suporte de US$ 40 mil, em US$ 38.144.
O enfraquecimento tanto do bitcoin como dos mercados tradicionais reflete o risco e a incerteza persistentes em relação à expectativa pela alta nos juros do Federal Reserve Bank dos EUA em março, receios de um conflito na Ucrânia, bem como a inquietação civil no Canadá e em outras regiões.
Conforme a atual tendência de baixa se aprofunda, existe uma maior possibilidade de um mercado de baixa contínua aumentar, pois o viés recente e a magnitude dos prejuízos de investidores pondera o sentimento.
Quanto mais tempo investidores estiverem submersos em sua posição e caem ainda mais no prejuízo não realizado, é maior a probabilidade de que essas moedas armazenadas sejam gastas e vendidas.
Neste relatório, a Glassnode irá focar na “possível energia de venda” que continua no fornecimento de moedas, principalmente o volume de fornecimento mantido a um prejuízo não realizado e por quem está sendo mantido.
O canal do mercado de baixa
Um dos principais sinais dos mercados de baixa de bitcoin é a falta de atividade em blockchain.
Pode ser identificada usando ferramentas como Endereços/Entidades Ativos como um referencial para usuários ou por meio de métricas da demanda por espaço entre blocos, como Contagens de Transações e Taxas em Blockchain gastas conforme usuários solicitam a inclusão de sua transação no próximo bloco.
O gráfico abaixo apresenta o número de Entidades Ativas que usaram a rede Bitcoin nos últimos cinco anos.
– Mercados de alta podem ser claramente identificados como períodos de crescente demanda por usuários, geralmente com um aumento no número de entidades ativas durante cada impulso positivo subsequente (crescimento líquido de usuários).
– Mercados de baixa são caracterizados como períodos de atividade de relativamente baixa na rede, com uma diminuição no interesse do varejo, marcadas no canal de cor vermelha abaixo. Historicamente, o limite inferior deste canal aumentou de uma forma quase linear, sugerindo que o grupo de usuários que dependem do bitcoin (HODLers) ainda está aumentando a longo prazo.
Porém, nessa semana, o grau de atividade em blockchain está caindo no limite inferior do canal de mercado de baixa, que não pode ser interpretado como um sinal de decrescentes interesse e demanda pelo ativo.
A variação de 30 dias nos endereços com saldo superior a zero apoia essa observação.
Embora seja uma medida relativamente rudimentar sobre a demanda da base de usuários, períodos de alta demanda e acumulação de fornecimento geralmente são acompanhados por um aumento na criação de transações não gastas (ou UTXOs, na sigla em inglês) e um crescimento na contagem de endereços com saldo superior a zero (e vice-versa).
Embora a tendência macro da criação de endereços com saldo superior a zero esteja subindo nos últimos 30 dias, houve uma suavização da tendência. É resultado do esvaziamento completo dos saldos de carteira por alguns investidores.
No último mês, cerca de 219 mil endereços (ou 0,54% do total) foram esvaziados, que é uma métrica a se observar caso este seja o início de um período de fluxo líquido de saída por usuários da rede (assim como em maio de 2021).
Um motivo provável para esse comportamento de gastos está associado ao custo financeiro e a dor psicológica de manter um investimento submerso. Isso é visível no gráfico abaixo conforme a proporção de entidades em blockchain em lucro oscila entre 65,78% e 76,7% da rede.
O outro lado dessa observação é que mais de ¼ de todas as entidades da rede agora estão submersas em sua posição.
Além disso, aproximadamente 10,9% da rede possui uma base de custo entre US$ 33,5 mil e US$ 44,6 mil, em que muitas realizaram a aquisição nas últimas semanas.
Se o mercado falhar em estabelecer uma tendência de alta contínua, esses usuários são estaticamente os mais prováveis de se tornarem uma nova fonte de pressão de venda, principalmente se o preço for negociado abaixo de sua base de custo.
Aumento dos prejuízos de holders de curto e longo prazo
Uma das principais ferramentas usadas para avaliar a probabilidade de uma moeda ser gasta (e provavelmente vendida) é a vida útil, definida como o tempo desde que a moeda foi movida pela última vez do blockchain.
Em uma base estatística, quanto mais uma moeda permanecer dormente, maior a probabilidade de permanecer dormente.
Isso resulta na definição da Glassnode de holders a curto (menor que 155 dias, cor vermelha) e longo prazo (maior que 155 dias, cor azul), que é uma representação de moedas que têm uma alta e baixa probabilidade de serem gastas e vendidas, respectivamente.
Usando esses grupos, podemos analisar a distribuição de preços em que cada moeda do fornecimento foi movimentada pela última vez. Podemos fazer isso para avaliar níveis de preço associados a um grupo maior da base de custo de investidores.
Fica evidenciada a alta concentração de fornecimento mantida por holders a curto prazo entre US$ 42 mil e US$ 50 mil.
Atualmente, conforme preços são negociados abaixo do limite inferior desta faixa, junto com a diminuição na atividade em blockchain, as moedas mantidas por esse mercado de preço por grupos sensíveis representam uma possível fonte de pressão de venda, a não ser que seja balanceada por um equivalente fluxo de demanda.
Para medir quão submersos estão holders a curto prazo, é possível calcular o preço realizado de holders a curto prazo (a base de custo agregada) ao dividir o preço pela proporção de valor de mercado/valor realizado (ou MVRV).
Indica que holders a curto prazo têm uma base de custo média em blockchain de US$ 47,2 mil que, neste momento (considerando o atual preço do bitcoin em US$ 37,7 mil), é um prejuízo não realizado médio de -19,2%.
Além disso, a holders a curto prazo está sendo negociado acima do Preço de Vivacidade (US$ 38,6 mil), que reflete uma estimativa do “Valor Justo para o HODLer”.
Tanto nos mercados de baixa entre 2013 e 2014 como no de 2018, quando holders a curto prazo mantêm moedas acima dessa estimativa de valor justo, era sinalizado que a tendência de baixa ainda levaria um tempo para reestabelecer um preço mínimo.
A métrica de Lucro/Prejuízo Líquido não Realizado (ou NUPL) apresenta a magnitude de perdas mantidas por esses holders a curto prazo em proporção à capitalização de mercado do Bitcoin.
Aqui, é possível observar que holders a curto prazo estão submersos, no agregado, desde 4 de dezembro de 2021.
Os prejuízos totais não realizados e mantidos por holders a curto prazo é, neste momento, igual a 17,9% da capitalização de mercado do Bitcoin.
Nas baixas de preço recentes de US$ 33,5 mil, o NUPL atingiu -39,2%, um nível de rentabilidade extremamente ruim no fornecimento e que raramente se excede fora das liquidações mais drásticas durante mercados de baixa.
Holders a curto prazo mantêm moedas em prejuízo há mais de dois meses, que pode ser um sinal de resiliência, mas deve ser igualmente considerado como uma possível fonte de resistência superior.
Analisando ambos os grupos, é possível ver uma divisão quase equilibrada no fornecimento mantido em prejuízo entre holders a curto e longo prazo.
Perceba que as porcentagens de fornecimento abaixo são em proporção ao fornecimento total que não é mantido em saldos de corretoras (chamado de Fornecimento Soberano):
– o fornecimento por holders a curto prazo está, atualmente, em 15,6% de Fornecimento Soberano (ou 2,56 milhões de BTC);
– o fornecimento por holders a longo prazo está, atualmente, em 13,1% de Fornecimento Soberano (ou 2,14 milhões de BTC).
A magnitude total do fornecimento de moedas mantido em um prejuízo não realizado agora é maior do que era durante o período entre maio e julho de 2021, mas é páreo à pior fase do mercado de baixa de 2018 e às liquidações em março de 2020.
No entanto, com 28,7% (ou 4,70 milhões de BTC) de Fornecimento Soberano submerso, existem obstáculos para que “touros” estabeleçam uma recuperação convincente de mercado.
Migrando o foco para holders a longo prazo, é possível revisitar a métrica de Lucro (SOPR) desse grupo para avaliar a rentabilidade de moedas que estão sendo gastas em blockchain por esse grupo.
– Valores mais altos de lucro indicam maiores lucros realizados, geralmente observados em auges próximos a mercados de alta.
– Valores mais baixos de lucro indicam uma queda na rentabilidade de moedas gastas, geralmente um resultado combinado de ação negativa de preço e menor base de custo agregada por holders a longo prazo (há 115 dias, o preço de mercado era de aproximadamente US$ 40 mil).
Atualmente, o SOPR de holders a longo prazo está devolvendo um valor relativamente baixo de 1,46, sugerindo que as moedas sendo gastas por holders a longo prazo estão gerando um lucro bem modesto de 46% no agregado.
Historicamente, uma queda nos valores de lucro é característica de lateralidades macro, para tendências de mercado de baixa.
Usando esse conceito de SOPR como um “múltiplo de lucro realizado”, podemos estimar o Preço Gasto por holders a longo prazo (cor de rosa). Esse modelo reflete o preço médio no qual as moedas gastas por holders a longo prazo atualmente foram acumuladas no passado.
Esse modelo está sendo negociado a US$ 28,5 mil, que está muito próximo do ponto central entre o preço realizado por holders a longo prazo (a base de custo desse grupo) e o Preço de Vivacidade (o “Valor Justo” para HODLers).
Novamente, esse tipo de comportamento indica uma falta de direcionamento macro no mercado e foi percebido principalmente ao longo do mercado de baixa entre 2019 e 2020.
Talvez isso permita um evento de capitulação final, em que o Preço Gasto por holders a longo prazo retorne ao Preço Realizado por esse grupo.
Ou, talvez, a tendência geral do armazenamento por holders a longo prazo que mantêm seu fornecimento “spot” de moedas e usam derivativos para se proteger do risco indica um pessimismo mais construtivo do que anteriormente visto.
Ao todo, o mercado de bitcoins passou por inúmeros obstáculos, variando de uma fraquíssima atividade em blockchain (um referencial para a demanda) a enormes volumes de fornecimento mantidos em prejuízo (possíveis vendas).
Com um total de 4,70 milhões de BTC atualmente submersos e 54,5% mantidos por holders a curto prazo que são estatisticamente mais prováveis de vendê-los, os “touros” certamente terão muito trabalho pela frente.
No entanto, apesar da predominante queda que está acontecendo há mais de três meses, as dinâmicas implícitas de fornecimento continuam evidentemente mais construtivas do que em mercados de baixa anteriores.
Conforme debatido nas três últimas semanas, investidores de bitcoin parecem bem mais longe do “hold on for dear life” (ou HODL, expressão famosa que pede que investidores não vendam seus bitcoins e os armazenem por muito tempo) e usem derivativos para se protegerem de riscos em vez de vendê-los no mercado “spot” para reduzir sua exposição.
Parece que estamos em um mercado de baixa. Mas lembre-se que, no longo prazo, o mercado de baixa cria o mercado de alta que vem a seguir.
Sobre o autor
A Glassnode é a maior provedora de dados e inteligência de blockchain que gera métricas e ferramentas on-chain para quem realmente quer entender o mercado de criptomoedas.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização da Glassnode.