A popularização das criptomoedas e sua influência no mercado de turismo

Segundo o autor, está evidente a importância das criptomoedas no setor
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Foto: Shutterstock

As criptomoedas já estão presentes no cotidiano das pessoas há pouco mais de 10 anos. Elas já somam uma capitalização de mercado total de alguns trilhões de reais, dos quais a maior parte está inserido nas redes Bitcoin e Ethereum. Após o desenrolar desta última década, não restam dúvidas quanto à persistência e ao impacto causado por essa nova categoria financeira. Contudo, os detentores de criptomoedas ainda enfrentam certos entraves quando decidem que é a hora de utilizá-la: as plataformas que aceitam criptomoedas como forma de pagamento ainda são pouco numerosas.

Contudo, há altas expectativas no mercado de turismo, e o otimismo tem sido fortalecido pelo bull market das criptomoedas. Veremos, a seguir, as tendências quanto à adoção das criptomoedas como forma de pagamento no mercado como um todo e, em particular, no setor de turismo.

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Como as criptomoedas poderão se tornar um meio de pagamento regular?

A consolidação efetiva das criptomoedas como uma representação de valor sólido demanda que três condições sejam satisfeitas:

1. É preciso haver um estado de concordância regulamentar entre os governos nacionais e as criptomoedas, com leis claras sobre uso e arrecadação fiscal;

2. É preciso que existam métodos para se fazer comércio diretamente com criptomoedas, cujo escopo inclua desde a compra itens básicos até artigos de luxo;

3. Deve haver uma confiança consolidada da população para com o valor representado pela criptomoeda, tal como acontece com o dinheiro de papel;

A primeira condição tem tido progresso gradual, contudo heterogêneo, na medida em que países assumem diferentes posturas perante o assunto. Alguns escolhem observar e esperar, enquanto outros optam por banir e criminalizar completamente o seu uso — caso notório é o da China. El Salvador, em contrapartida, adotou Bitcoin como moeda de curso legal, e o Paraguai caminha na mesma direção.

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O endosso ou a proibição de criptomoedas nos países são, sem dúvida, significativos no cenário internacional. Contudo, a maior importância está na existência de leis claras sobre o assunto, sejam elas favoráveis ou contrárias. Sem elas, os usuários, investidores e empresas têm a tomada de decisões dificultada, e o fator de risco intrínseco permanece alto.

A segunda condição também passa por evolução similar. Grandes empresas de e-commerce chinesas já aceitaram bitcoin no passado, mas tiveram de recuar diante da resolução proibitiva do governo do país.

A Tesla Motors gerou uma grande repercussão este ano, ao aceitar bitcoin como pagamento pelos seus carros elétricos e voltar atrás com a decisão apenas três meses depois. Gigantes como a Visa e a PayPal já implementam pagamentos em criptomoedas e, recentemente, tivemos rumores de que a Amazon também estaria prestes a entrar para o time.

Várias instituições do mercado de turismo já aceitam Bitcoin e outras criptomoedas como pagamento. Entre elas, temos os sites Cheapair.com e GetYourGuide, a companhia aérea Air Baltic, na Letônia, e até a empresa de voos espaciais Virgin Galactic. Novos aplicativos estão sendo lançados e, agora, os usuários que desejam evitar passar por corretoras e preferem gastar seus Bitcoins diretamente terão mais opções dentro do ramo.

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A terceira condição tem caráter cultural e, por conseguinte, é a de implementação mais difícil. Os seres humanos são naturalmente resistentes a mudanças e novidades, e ativamente colocam barreiras para proteger o que julgam ser “o tradicionalmente correto”, o que, neste caso, é o dinheiro convencional.

Assim, a aceitação de novidades tecnológicas passa por etapas graduais de aceitação e desbravamento, geralmente protagonizadas pelas gerações mais novas.

Especialistas e empreendedores do ramo de turismo acreditam que esse mercado terá um papel muito importante na popularização dos métodos de pagamento por criptomoedas. Dentro desse cenário, espera-se que os jovens exerçam a importante função de “early adopters” (ou seja, “os primeiros a aderir”).

De fato, as novas gerações costumam adotar esse papel durante a expansão de tecnologias disruptivas. Os empreendedores do mercado de turismo não apenas sabem disso, como têm focado seus esforços e investimentos no desenvolvimento de aplicações de viagens voltadas para os consumidores das Gerações Z e Alpha. Acredita-se que os jovens nascidos após 2010 — portanto dentro da era das criptomoedas — terão ainda mais facilidade para encarar o mundo cripto com naturalidade.

É difícil prever se as gerações anteriores seguirão esse exemplo. Pode ser necessário esperarmos 50 anos e um ciclo geracional completo do mercado para chegarmos a uma adesão efetiva, como também é possível que o dinheiro digital sequer substitua o dinheiro de papel.

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Por falar em dinheiro de papel, este também não foi aceito da noite para o dia. Ele foi inventado na China em 600 A.C, mas até o século XVI D.C. ainda se utilizavam moedas de metal na Europa. Por outro lado, percebemos que no mundo moderno as mudanças ocorrem com uma velocidade exponencialmente maior, e não é prudente esperarmos que o mesmo ritmo de transformação.

O desenvolvimento do mercado de turismo

Estamos presenciando um grande aumento do número de empresas que utilizam criptomoedas para agendamento de viagens, transportes e acomodações. Com a aproximação do fim da pandemia e a recuperação do mercado, os ânimos estão em alta: 

● Foi inaugurado nos EUA, em parceria com a corretora Gemini, o novo cassino Resorts World Las Vegas, no qual o usuário pode usar criptomoedas para jogar;

● Criptomoedas como bitcoin, dogecoin e outras são cada vez mais aceitas em redes de hotéis, incluindo a Pavilions Hotels & Resorts, a Bobby Hotel e a Kessler Collection, nos EUA. No Brasil, temos o Nobile Plaza Hotel em Brasília e o JS Hostel em SP;

● A parceria entre a empresa Viator e o site blockchain Travala.com oferece diversas opções de reserva para viagens e atividades de turismo, com pagamento na criptomoeda nativa e outras;

● A tecnologia blockchain também tem sido cada vez mais utilizada. Um exemplo é a plataforma Dtravel, ferramenta que permite um certo grau de descentralização e que é utilizada para gerenciamento e organização interna da Travala.

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A influência das criptomoedas nos líderes do mercado de turismo está muito evidente. Isso vem pressionar o restante do setor a também fazer parte do movimento, e espera-se que surjam ainda mais opções para que as pessoas possam gastar suas criptomoedas em viagens de férias.

Dessa forma, o hábito de utilização de criptomoedas será cada vez mais incentivado e reforçado culturalmente — o que, por sua vez, deverá gerar mais pressão popular para a implementação de criptomoedas pelo mercado.

Será que esse ciclo continuará se retroalimentando indefinidamente, até que as criptomoedas sejam globalmente aceitas por pressão dos próprios consumidores? Ainda restam muitos desafios a serem superados, como a discussão ética sobre o impacto ecológico do BTC e ETH. Contudo, os sinais têm sido positivos, e está cada vez mais claro que essa tecnologia veio para ficar.

Sobre o autor

Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. É fundador da empresa Growth.Lat e do projeto Growth Token.