O operador de produção Sérgio Fernandes Costa, morador de São Paulo, luta a mais de um ano para reaver os investimentos em bitcoin feitos na NegocieCoins, corretora do grupo Bitcoin Banco (GBB), de Curitiba. Desempregado e sem dinheiro, vem fazendo uma campanha solitária contra o criador da empresa, Claudio Oliveira, que ficou conhecido como o “Rei do Bitcoin”.
Não bastasse a perda de dinheiro, Sérgio, que tem deficiência auditiva, culpa o dono do GBB por um desfecho trágico. Em abril deste ano, ele perdeu o pai, Cícero Fernandes, que lutava contra um câncer.
“Muitos sonhos deixaram de ser realizados com meu pai em vida por conta de todo dinheiro que o Cláudio roubou”, desabafou Costa na época ao conversar com o Portal do Bitcoin, que acompanha o caso desde então.
No dia anterior, Costa havia gravado um vídeo ainda no quarto do Hospital Paulistano, onde seu pai faleceu. Ao seu lado, disse que não poderia proporcionar um velório digno justamente porque o dinheiro estava na empresa de criptomoedas.
“Você é uma pessoa do mal, não tem coração”, disparou, em pranto, para Cláudio Oliveira.
Investimento no Bitcoin Banco
Alguns dias depois, a reportagem voltou a falar com Sérgio sobre seus investimentos na Negociecoins. Ele revelou que “no calor do momento e na esperança de ganhar dinheiro, investiu tudo o que tinha”.
Seu primeiro investimento na corretora do GBB ocorreu em dezembro de 2017. Na ocasião, um amigo lhe mostrou um lucro de R$ 400 sobre uma aplicação de R$ 2 mil. Após a dica, Sérgio resolveu aplicar na empresa. O primeiro investimento foi de R$ 2 mil. Depois aumentou a aposta:
“Vendi meu carro e até peguei cerca de R$ 10.000 que meu pai guardava para casos de extrema necessidade”.
Porém, meses depois, o negócio desandou, deixando milhares de pessoas com o dinheiro preso na empresa. A última tentativa de retirar foi em 26 de junho de 2019 — sem sucesso.
Seu saldo na plataforma após a última consulta estava em 1,25 Bitcoin, cerca de R$ 60 mil atualizado. Hoje o sistema da corretora nem sequer existe.
Batalha contra Bitcoin Banco
Enquanto Oliveira andava pela ruas de Curitiba com carros de luxo e bebia água Levian e fazia festas para seu cachorro, Costa ia à luta. Pediu ajuda da Polícia, do Procon, da CVM e d Ministério Público, entre outros. E não conseguiu nada.
Ele afirmou que o rei caído do bitcoin prometeu resolver o problema, mas a palavra não foi cumprida. Em agosto de 2019, conseguiu dinheiro emprestado e viajou até a sede do GBB.
Foi lá que acabou ocorrendo uma manifestação contra a empresa. Com um cartaz em suas mãos à frente do prédio do GBB, Costa suplicava por ajuda.
Promessa não cumprida
A vítima do Bitcoin Banco, que convive com sua deficiência auditiva, agora precisa também de acompanhamento psicológico e psiquiátrico, que faz em uma Unidade Especial no bairro de Parelheiros, no extremo sul de São Paulo.
Além de tudo, tem uma mãe cadeirante para cuidar. A família contava com o dinheiro retido na corretora.
“O que o Cláudio fez foi e está sendo uma tortura física e psicológica que há tempos vem me consumindo e adoecendo”, desabafou.
Para tentar ajudar a vítima do ‘rei do bitcoin’, amigos o ajudaram a formar uma vaquinha online cuja meta é de R$ 100 mil. Até o momento, a plataforma Vakinha arrecadou de 12 apoiadores cerca de R$ 1085.
O que aconteceu com a empresa
Em maio do ano passado, o Bitcoin Banco, que hoje está em processo de recuperação judicial, bloqueou os saques de seus clientes argumentando que os sistemas das corretoras haviam sido fraudados por um sistema de saques duplos.
O caso foi investigado pela Polícia Civil, que arquivou o inquérito e afirmou que se tratou apenas de um estratégia para não pagar os milhares de clientes.
Em decorrência disso, a Justiça do Paraná mandou intimar as empresas do grupo econômico para que apresentassem um documento produzido por uma auditoria externa independente a fim de atestar as supostas fraudes.
Como consequência dos fatos, o GBB passou a responder a vários processos na Justiça. Já a RJ corre na 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial da comarca de Curitiba/PR. Fazem parte do processo oito empresas do grupo, dentre elas Negociecoins e Tem BTC.
O que disse a empresa
Questionado pela reportagem, a posição da empresa veio por meio de seus advogados. Leia abaixo:
Valores a receber
“No tocante ao saldo atual do cliente, imprime o valor atual de R$ 39.987,62, uma vez que o referido cliente está posicionado em bitcoins na plataforma. Assim, o total alegado pelo cliente de forma descomprometida é omissa com os saques que foram realizados”, respondeu a empresa.
Sobre o ressarcimento ao cliente, a empresa viu a pergunta como “perniciosa” e que gerou “grande estranheza”, já que as empresas do GBB passam por Recuperação Judicial, enfatizando a postura do Grupo como “totalmente contrária de outras empresas que suspenderam as suas atividades e desapareceram do mercado”.
Afirmou também que irá pagar o cliente, acrescentando que, “quanto ao prazo, não há qualquer possibilidade na predileção, pois é obedecida uma ordem de credores perante o processo de recuperação judicial em trâmite”.
Suposta promessa
Acerca da suposta promessa feita por Oliveira a Costa, a empresa disse que “trata-se de uma pergunta especulativa, visto que Cláudio Oliveira jamais prometeu algo ao cliente, sequer o conhece e não tem poder de assumir um compromisso como esse”.
Sobre o pai o cliente
A respeito do falecimento do pai de Costa, a assessoria confirmou que Cláudio Oliveira “teve, sim, a informação” e que “lamenta profundamente a sua perda”, acrescentando que “não se pode confundir as coisas e atribuir a lamentável perda como responsabilidade do Grupo”.
A respeito da suposta fraude
“É de conhecimento geral que realmente o Grupo Bitcoin Banco foi vítima de uma fraude que concorreu para a atual crise, que “os bons clientes sabem exatamente o que ocorreu e torcem pela retomada do grupo e que “os maus clientes resistem a uma perícia com manobras judiciais a fim de “ocultar suas participações”.