As maiores criptomoedas ainda buscam uma direção nesta segunda-feira (27), mas por enquanto conseguem manter patamares-chave de suporte. Enquanto no front macroeconômico investidores acompanham o primeiro default da Rússia em dívida estrangeira desde 1918, no mercado cripto os gigantes se apressam para socorrer plataformas de empréstimo como Celsius e BlockFi.
Nas últimas 24 horas, o Bitcoin (BTC) opera em uma ligeira alta de 0,3%, cotado a US$ 21.481, mostram dados do CoinGecko. Já o Ethereum (ETH) tem queda de 0,5%, para US$ 1.234.
No Brasil, o Bitcoin sobe 0,4%, negociado a R$ 112.629 de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
As principais altcoins registram desempenho misto: Binance Coin (-07%), XRP (-1,7%), Cardano (-3,1%), Solana (-3,4%), Polkadot (-2,4%), Shiba Inu (-2,6%) e Avalanche (-4,4%). O principal destaque vai para Dogecoin, que aponta elevação de 13,6%.
Piso do Bitcoin
Relatório da Glassnode analisa se a faixa entre US$ 17.000 e US$ 20.000 seria o novo nível de suporte e piso do Bitcoin. A empresa avalia que a maior criptomoeda é negociada abaixo da média móvel de 200 semanas (US$ 22.000), em uma “extrema condição sobrevendida”, o que sugere um possível piso. Além disso, a pressão vendedora foi amenizada, pois investidores teriam parado de materializar perdas.
Ainda assim, Joe DiPasquale, CEO da gestora de fundos cripto BitBull Capital, disse ao CoinDesk que o BTC corre risco de testar níveis abaixo de US$ 20.000 nos próximos dias diante do clima de aversão ao risco que ainda domina as negociações.
Já o Ethereum parece ter encontrado suporte em torno de sua média móvel de 200 dias, perto de US$ 1.200. A segunda maior criptomoeda chegou a cair para US$ 880,70 em 18 de junho. Com a recuperação, a capitalização total do mercado voltou ao nível de US$ 1 trilhão no domingo, mas se encontra pouco abaixo da marca nesta segunda, de acordo com o CoinGecko.
Inverno rigoroso
A indústria de criptomoedas passou por vários períodos de baixas importantes em sua curta história, os chamados invernos cripto. Mas a expansão do mercado e a crescente adoção tanto entre pequenos investidores quanto de Wall Street indicam que o setor enfrenta seu maior teste até agora, de acordo com análise da Bloomberg. Um reflexo desse cenário é o desempenho de ações ligadas aos criptoativos. Os papéis da Coinbase, por exemplo, acumulam baixa de 75% desde dezembro.
Em entrevista ao portal Poder360, Reinaldo Rabelo, CEO do MB, fez uma ressalva sobre o momento atual: “A gente não está naquele momento de inverno cripto, puro e simplesmente. A gente está vivendo um inverno econômico. A economia global está passando por um momento desafiador”, disse.
Na Índia, o inverno cripto tem sido rigoroso, com as maiores exchanges cortando custos e revendo planos de expansão. Esse é o caso da corretora WazirX, que tem apoio da Binance. “Reduzimos todos os nossos custos não essenciais”, disse Rajagopalan Menon, vice-presidente da WazirX, em entrevista à Bloomberg.
Michael Nicklas, sócio-diretor do Valor Capital Group, empresa de capital de risco com escritórios em Nova York e São Paulo, acredita que os problemas fazem parte da gestão de risco e “quem sobreviver, vai sair mais forte”, disse em entrevista ao Portal do Bitcoin.
Crise na Celsius
A crise de liquidez que afeta o mercado cripto já traz rumores de consolidação. O Goldman Sachs estaria de olho nos ativos da plataforma de empréstimos cripto Celsius Network. Segundo o CoinDesk, o banco busca levantar US$ 2 bilhões com investidores para comprar os ativos da empresa. A Celsius contratou consultores de reestruturação da consultoria Alvarez & Marsal para um possível pedido de recuperação judicial, disseram pessoas a par do assunto ao Wall Street Journal. A plataforma, cujos ativos encolheram de US$ 25 bilhões em outubro para US$ 11,8 bilhões em maio, congelou saques e transferências neste mês.
E depois de conceder uma linha de crédito de US$ 250 milhões para a empresa de empréstimos cripto BlockFi, a exchange FTX estaria negociando a compra de uma participação na plataforma, revelaram fontes ao Wall Street Journal. Não é apenas a FTX que quer uma fatia da BlockFi. Informações vazadas de uma teleconferência com investidores indicam que a Morgan Creek Digital vai tentar captar US$ 250 milhões para comprar uma participação majoritária na empresa, de acordo com o CoinDesk. A estratégia seria uma forma dos acionistas existentes, como a Morgan Creek, recuperarem seus investimentos.
O CEO da Binance, Changpeng Zhao, disse em entrevista ao Yahoo Finance que a corretora está avaliando uma série de propostas de companhias do setor em meio à turbulência do mercado, e que busca maneiras de ajudar por meio de empréstimos, participações minoritárias ou majoritárias.
Default da Rússia
No cenário macroeconômico, o mercado testemunha o primeiro default da Rússia em dívida estrangeira desde 1918. Pressionado por sanções, o país não pagou dois cupons de eurobônus, cujos períodos de carência venceram no domingo, segundo a Bloomberg.
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Sob o risco de escassez de gás devido aos cortes de abastecimento da Rússia, ministros de Energia da União Europeia se reúnem nesta segunda-feira (27) em Luxemburgo para discutir medidas antes do inverno europeu, quando a demanda aumenta. Com a inflação persistente e com poucas alternativas para substituir o gás russo, o clima da reunião do G7 nos Alpes da Baviera, na Alemanha, era de tensão. O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, disse que os líderes do grupo estão preocupados com a crise econômica global, informou a Reuters.
Outros destaques
Fundos de investimento no Brasil terão que reportar informações padronizadas sobre risco para aplicar em criptoativos, medida que deve ser implementada já no início do segundo semestre pela Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). De acordo com reportagem do Valor, a entidade também prevê uma metodologia de precificação própria para ativos digitais.
E projetos selecionados pela CVM para o “sandbox” regulatório começam a sair do papel, conforme o Valor. A BEE4 já prepara a listagem da primeira empresa em sua plataforma, a rede de clínicas de reprodução assistida Engravida.
A partir desta segunda-feira (27), holandeses que desejam sacar criptomoedas compradas na Coinbase, maior corretora cripto dos EUA, serão obrigados a fornecer à empresa uma série de detalhes sobre a transação e o destinatário, como nome, endereço residencial e razão da transferência, de acordo com comunicado da empresa.
A Bitpanda, exchange cripto com sede em Viena, na Áustria, anunciou o corte de 30% da força de trabalho, que irá encolher de 1.000 pessoas para 730. A plataforma tem entre os investidores o bilionário Peter Thiel, que liderou uma série de rodadas que totalizaram mais de US$ 500 milhões para a corretora entre setembro de 2020 e agosto de 2021, quando estava avaliada em US$ 4,1 bilhões.
Após uma semana com saques e depósitos em reais travados no Brasil, a Binance fechou contrato com uma nova empresa de pagamentos, a Latam Gateway, com experiência no mercado de games. “Não é necessariamente uma surpresa a Binance ter optado por um player menos conhecido desta vez, visto que já fizeram isso quando fecharam com o Capitual lá atrás”, disse ao Portal do Bitcoin o especialista em meios de pagamento Bruno Diniz.
A revolução dos meios de pagamentos digitais iniciada na pandemia tem despertado o interesse e o uso de criptomoedas na América Latina, mostra uma pesquisa da Mastercard divulgada pelo The Block. Segundo o levantamento, 51% dos consumidores da região já realizaram alguma transação com criptomoedas.
Regulação, Cibersegurança e CBDCs
A blockchain Harmony Protocol fez uma oferta de US$ 1 milhão no Twitter pela devolução dos US$ 100 milhões em criptomoedas roubadas por hackers de sua ponte Horizon – que faz a conexão com a rede Ethereum – bem como informações sobre como ocorreu a invasão.
E a plataforma de empréstimos cripto Nexo ameaçou adotar medidas legais para silenciar uma conta anônima do Twitter, segundo o The Block. A conta, que se autodenomina na terceira pessoa como ‘Otter’, publicou uma série de tuítes em 26 de junho alegando que os cofundadores da Nexo haviam roubado fundos de uma instituição de caridade.
Aberto há um mês, o cadastro de credores do grupo GAS Consultoria e Tecnologia, de Glaidson Acácio dos Santos, o “Faraó dos Bitcoins”, já recebeu 42.030 inscrições, informou O Globo. Somados, os investimentos declarados atingem a cifra de R$ 4,4 bilhões.
Estudo elaborado pela consultoria Oliver Wyman em parceria com o Morgan Stanley e divulgado pelo Valor mostra que bancos tradicionais de atacado poderiam adicionar até US$ 6 bilhões por ano em receita se reforçarem a aposta no mercado de criptoativos. Segundo o estudo, a regulamentação é o fator mais decisivo para saber qual será o tamanho da fatia dos bancos no mercado de finanças descentralizadas.
A conferência Brussels Blockchain Week realizada em Bruxelas teve entre os objetivos apresentar o ecossistema blockchain belga e construir algumas pontes entre a indústria e reguladores. Mas participantes do encontro disseram ao Decrypt que a regulamentação em trâmite na União Europeia, conhecida como MiCA, corre o risco de ser muito restritiva ao setor. “A regulação excessiva aniquila o apetite de desenvolvedores”, afirmou Darius Rugys, sócio-geral da Maven 11 Capital.
Metaverso, Games e NFTs
A partir da próxima quarta-feira (29), a Galeria Leblon, no Rio, vai exibir 14 obras digitais em tokens não fungíveis do fotógrafo Beto Gatti, além de quatro esculturas em bronze assinadas pelo artista. “Essa tecnologia abriu um leque de possibilidades do meu trabalho, de como expressar artisticamente”, disse Gatti ao Estadão sobre os NFTs.
Com uma parceria com a LaLiga, da Espanha, a Tero Labs trouxe uma nova coleção de tokens não fungíveis, a “Rough Diamonds”, com jovens atletas que podem estar na seleção brasileira em breve.
O cantor Gilberto Gil se prepara para lançar seu primeiro NFT, conforme a Folha. O ativo digital inaugura a coleção “Gil Futurível”, inspirada em faixa do cantor de 1969.
Em 15 de julho, histórias do ator Bill Murray, de 71 anos, estarão disponíveis para compra na forma de tokens não fungíveis por meio do “The Bill Murray 1000”, um projeto desenvolvido no Ethereum pelo site de comédia e entretenimento The Chive e pela startup blockchain Project Venkman. O projeto irá oferecer até mil colecionáveis NFT com base em 100 histórias da carreira de Murray, segundo o Decrypt.