O maior conflito militar europeu desde a Segunda Guerra Mundial está acontecendo na Ucrânia e o bitcoin pode moldar o resultado.
Nas palavras do Washington Post, a batalha entre a Rússia e Ucrânia é “a primeira guerra mundial cripto”, pois ambos os países descobriram as vantagens de uma moeda sem fronteiras e sem controle centralizado.
Pessoas ao redor do mundo já doaram milhões em criptomoedas à organizações não governamentais que tentam defender a Ucrânia da invasão brutal da Rússia.
Enquanto isso, alguns ucranianos estão recorrendo ao bitcoin à medida que cresce o pânico de que a guerra esgote os fundos dos caixas eletrônicos do país.
Um exemplo são jornalistas dinamarqueses, que supostamente usaram a moeda de Satoshi para comprar um carro e fugir do país. Há 20 anos, o ouro poderia ter sido usado para trocas em uma zona de conflito — hoje, é o bitcoin.
Enquanto isso, grandes figuras do mundo cripto — tão ricos quanto os odiosos oligarcas russos — estão emprestando sua influência ao conflito.
Vitalik Buterin, fundador do Ethereum, tuitou em russo, sua língua nativa, condenando a invasão. Sam Bankman-Fried tuitou que a FTX deu US$ 25 a cada ucraniano cadastrado na plataforma.
São histórias inspiradoras de como cripto está ajudando ucranianos que, claramente, são os mocinhos nesse conflito.
Mas a natureza libertária das criptomoedas é uma via de mão dupla: especialistas preveem que a Rússia e seus líderes vão recorrer aos ativos digitais como uma forma de evitar as sanções econômicas que aumentam a cada dia.
O bitcoin pode ajudar os mocinhos, mas também pode ajudar os vilões. Assim como muitos no setor cripto costumam dizer, a tecnologia é agnóstica.
De certa forma, nada disso é novo. Estados rebeldes, como o Irã e a Coreia do Norte, recorreram a formas alternativas de finanças quando foram excluídos do sistema bancário global. E as comunidades da diáspora sempre encontraram uma forma de apoiar seu lado em um conflito no exterior.
Pense no IRA coletando dinheiro nas tavernas de Boston, ou na arrecadação de fundos dos tâmeis do Sri Lanka nos templos de Toronto.
O que é novo e diferente é a facilidade de financiar tais atividades de forma quase instantânea com cripto. O exemplo mais recente, fora a Ucrânia, é de caminhoneiros protestantes no Canadá, que foram apoiados com doações de bitcoin.
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Muitos da comunidade se animaram com essas atividades, mas cidadãos de Toronto tiveram uma perspectiva bem diferente. Muitos ficaram irritados com uma minoria radical que bloqueia a fronteiras do país, financiados por dinheiro estrangeiro.
A questão é que cripto se tornou fundamental no financiamento de conflito, seja ele violento ou não. Na Ucrânia, o caso moral é evidente, mas esse não será sempre o caso.
Existe um risco de que a comunidade cripto, por convicção ou apenas pelo prazer de publicar besteiras, irá usar sua riqueza para interferir em conflitos políticos ou militares dos quais não compreende.
O risco é ainda maior dada a forma como criptomoedas está sendo politizadas.
Conforme afirmou Jerry Brito, do Coin Center, cripto costumava ter meia dúzia de apoiadores nos partidos Democratas e Republicanos enquanto a maioria dos políticos não conhecia ou não se importava com esse mercado.
Mas no atual ambiente polarizado, cripto se tornou outra questão partidária que fez com que pessoas formassem opiniões com base no que líderes de partidos pensam — mesmo não entendendo absolutamente nada sobre bitcoin.
Essa mistura de partidarismo e cripto no financiamento de conflitos é bem perigosa.
Felizmente, o partidarismo é algo que podemos controlar: pessoas equilibradas podem ajudar a persuadir nossos políticos de que cripto é, acima de tudo, uma tecnologia que pode ser usada pelo bem ou pelo mal. Blockchains não se importam com política.
Assim como Vitalik tuitou recentemente, o “Ethereum é neutro, mas eu não sou”. Quanto mais cedo as pessoas entenderem que cripto não é partidário, melhor será para o setor e para a sociedade.
Em relação às pessoas e aos governos que usam cripto para financiar conflitos, essa tendência está aqui para ficar.
Assim como a internet agora faz parte da guerra — pense nos ciberataques da Rússia e os recentes contra-ataques do Anonymous —, cripto também tem seu papel.
A luta entre Rússia e Ucrânia pode ser “a primeira guerra mundial cripto” mas, com certeza, não será a última.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co. Esse é Roberts on Crypto, uma coluna de fim de semana do editor-chefe do Decrypt, Daniel Roberts, e do editor executivo do veículo, Jeff John Roberts.