Tokenizadora brasileira é alvo de reclamações por atraso no pagamento de dividendos

Hurst Capital é alvo de diversas queixas no Reclame Aqui sobre atrasos de pagamento de dividendos com atrasos de mais de três anos
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Foto: Shutterstock

Nos últimos meses, a tokenizadora brasileira Hurst Capital tem enfrentado uma série de queixas recorrentes relacionadas a um problema específico: atrasos nos pagamentos de dividendos, que têm superado até os cenários mais pessimistas apresentados pela empresa no momento da venda de seus produtos.

Só nos últimos cinco meses, são mais de 30 queixas de clientes no Reclame Aqui sobre atrasos no pagamento de dividendos de tokens adquiridos na plataforma. A grande maioria é sobre produtos de precatórios tokenizados, com atrasos que em alguns casos já são de mais de três anos. 

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Este é o caso de um cliente de Salvador, que registrou sua queixa nesta segunda-feira (12). Segundo ele, a Hurst apresentou três cenários para um token de precatórios no qual o cenário base era para pagamento em fevereiro de 2021. Três anos depois, o investidor ainda não recebeu.

“Investi com eles em um precatório em 2019 sob o engano de que possuíam um algoritmo que previa aproximadamente a data de pagamento do precatório, tornando assim esta uma aplicação com bom rendimento. Terei que entrar na justiça para reaver meu dinheiro. Entrarei com um processo”, afirma. 

Outro cliente de Brasília relatou no dia 9 de julho a mesma demora com tokens de precatórios: “Em janeiro de 2020, investi no PERJA120 com previsão de pagamento do cenário pessimista em dezembro de 2021 com rentabilidade anualizada de 13,04%. Estamos em julho de 2024 e nada do pagamento até agora e inclusive no último relatório a previsão do pagamento foi adiada novamente para outubro de 2024. Já espero outro adiamento quando outubro chegar e assim indefinidamente”.

Sobre essa queixa vinda da capital federal, a empresa respondeu: “Nosso time está atuando na sua demanda. Fizemos uma call recentemente para falarmos com o originador dessa operação. Vamos encaminhar todo o material para seu WhatsApp de cadastro”.

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O cliente expressou insatisfação com a resposta e, em sua tréplica, afirmou que a empresa deveria ter se preparado melhor.

“Caso hajam atrasos dos cenários, acredito que uma provisão ativa na empresa, por exemplo, poderia cobrir esses pagamentos deixando a opção do investidor resgatar ou continuar aguardando. Isso traria, pelo menos para mim, uma confiança de retornar a investir com vocês”, afirmou. Um investidor de Porto Alegre, que também adquiriu tokens de precatório em 2019, expressou sua frustração de forma dramática: “Espero estar vivo para poder resgatar estes investimentos”. Nesse caso, a empresa disse que está buscando contato com o cliente e ressaltou que “é previsto na Lâmina e no Contrato que o risco das operações em relação ao prazo”.

Hurst diz que leilão é uma opção

No dia 2 de agosto, um cliente localizado na cidade de Nova Europa (SP) contou que comprou tokens de precatórios em abril de 2022 entendendo que iria receber em até um ano. 

“Toda a apresentação deles faz entender que seria cumprido no prazo. Pelo menos é isso que falam na hora de pegar o seu dinheiro. O prazo de 12 meses terminou, não recebi meu investimento de volta. E simplesmente jogaram a data para o ano de 2024”, afirma o cliente.

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A empresa respondeu dizendo que está “planejando a venda do seu investimento. Caso essa opção não seja viável, iremos optar pela venda através de leilão”.

“Dezenas em situações semelhantes à minha”

Da cidade de Itabaiana (SE), vem um relato detalhado de um cliente frustrado. Ele conta que em outubro de 2021 fez um aporte na carteira de Pré-Precatórios Federais (FEDEJ121), cujo cenário base previa pagamento em 22 meses, com rentabilidade de IPCA + 12,72% ao ano.

No entanto, com o passar do tempo, os cenários mudaram: primeiro o cenário otimista com prazo de 16 meses, o base com 22 meses, e o pessimista com 28 meses, com prazo até março de 2024. Agora, a empresa afirma estar no cenário revisado, com pagamento previsto até outubro de 2024 — “que possivelmente não será cumprido”, diz o cliente.

O investidor classifica a experiência como “lamentável e frustrante” e que prejudica a confiança na empresa. “Uma rápida pesquisa no Reclame Aqui revela dezenas de pessoas enfrentando situações semelhantes à minha”, constata.

Por fim, o cliente diz estar juntando documentos e gravações de conversas com funcionários, já que pretende entrar na Justiça. “No momento da venda, há diversas promessas e um otimismo exagerado, que suponho ser para enganar os clientes e fazê-los aportar nos investimentos. Não vou mais esperar indefinidamente enquanto as reclamações se tornam cada vez mais frequentes”, diz.

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O comentário foi respondido por um atendente da empresa, mas o cliente não parece ter ficado satisfeito, segundo sua tréplica: “Fui atendido pelo colaborador Leonardo, que em nada acrescentou. No fim, fui informado que o prazo estimado para recebimento seria 10/2024. Nota-se, mais uma vez, que se trata de uma estimativa e não uma certeza. Lamentavelmente, entrei numa furada”.

Hurst diz que atrasos são exceção

Em atendimento ao Portal do Bitcoin sobre as queixas dos clientes, a Hurst enviou uma nota dizendo que tem 110 mil investidores e que o número de queixas no Reclame Aqui representaria uma pequena porcentagem da base de clientes.

A Hurst afirma estar ciente que a principal queixa dos clientes está relacionada à demora nos pagamentos, que diz ser em grande parte supostamente causada por circunstâncias excepcionais, como a pandemia e a PEC dos Precatórios.

Além disso, a empresa diz que 86% dos precatórios são pagos dentro do prazo previsto e que essa atividade tem riscos inerentes, que são “claramente informados nos documentos das ofertas e reforçados em todas as nossas comunicações com os investidores”.

Leia abaixo a nota na íntegra da Hurst Capital:

A Hurst, fundada em 2018, possui mais de 110 mil investidores, é regulada pela CVM e auditada desde 2019. As reclamações que recebemos no Reclame Aqui representam apenas 0,18% da nossa base de clientes, um índice que acompanhamos de perto, apesar de considerarmos extremamente baixo.

Temos conhecimento de que a principal queixa desse grupo de clientes está relacionada a demora nos pagamentos além da expectativa de prazo. Dentro de nossos controles, identificamos que essa demora ocorreu, na maioria das vezes, por circunstâncias excepcionais. Um exemplo claro foi a pandemia, que retardou muitos processos por quase dois anos, assim como a PEC dos Precatórios, que suspendeu diversos pagamentos de precatórios federais durante sua vigência.

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Todos os produtos de investimento, incluindo os tokens de precatórios, envolvem riscos inerentes. No caso dos precatórios, o principal risco é a demora nos pagamentos, que pode ocorrer em alguns casos e estar relacionada aos ritos processuais do Judiciário, questões burocráticas, administração financeira dos entes públicos, entre outros. Esses riscos são claramente informados nos documentos das ofertas e reforçados em todas as nossas comunicações com os investidores.

A propósito, essa característica do precatório, que ao mesmo tempo representa seu principal risco, é justamente o que cria a oportunidade de ganho. A incerteza quanto ao prazo de pagamento é o motivo pelo qual os titulares originais dos precatórios, que preferem evitar essa incerteza, optam por vendê-los a investidores. Aqueles que escolhem investir em precatórios, cientes desse risco, precisam estar confortáveis com ele, pois é essa característica que torna possível a oportunidade de obter retornos financeiros.

Apesar desse risco, é importante destacar que os precatórios possuem a natureza de uma dívida pública incluída no orçamento público, a qual o ente público não pode se esquivar, já que o pagamento de precatórios está previsto na Constituição Federal. Portanto, pela natureza do ativo, o investidor não perde o principal. Nos casos de demora além do previsto, a TIR (taxa interna de retorno) pode diminuir, mas o valor de face do precatório continua sendo corrigido, de modo que o investidor não é prejudicado financeiramente porque receberá mais do que a sua expectativa inicial em termos absolutos (segundo a métrica de MOIC – Multiple on Investment Capital).

Em todas as operações de precatórios realizadas pela Hurst, incluindo aquelas com prazos revisados, o retorno médio para o investidor foi de 26,53% ao ano, equivalente a 304,27% do CDI no período. Além disso, 86% dos precatórios são pagos dentro das expectativas de prazo, sendo 30% pagos antes do previsto. Esse desempenho reforça a qualidade dos nossos produtos, que também são adquiridos por investidores profissionais, bancos e fundos de investimento.

Todas as ofertas realizadas pela Hurst são baseadas em ativos cujo processos de underwriting e due diligence foram conduzidos por originadores profissionais, sendo a Hurst responsável por revisar esses processos, garantindo a existência e validade dos ativos, além da veracidade e consistência das informações, permitindo que o investidor tome decisões bem-informadas. Durante a vigência das operações, os investidores recebem relatórios mensais com as atualizações detalhadas de cada ativo que compõe o título securitizado.

Entendemos que o Brasil passa por um longo processo de sofisticação dos seus investidores (financial deepening) e, nesse sentido, a Hurst se esforça todos os dias para disseminar o conhecimento relacionado a investimentos alternativos em prol de um mercado de capitais mais abrangente e acessível. Nosso time de atendimento está sempre à disposição para responder a todas as solicitações e esclarecimentos dos clientes em vários canais. Acreditamos que a transparência e a comunicação eficaz são fundamentais para manter a confiança dos nossos investidores.

Agradecemos pela oportunidade de esclarecer e continuamos à disposição para quaisquer outras dúvidas.

Atenciosamente, Hurst Capital