Outra semana, outra enxurrada de reclamações sobre as taxas de transação na rede Ethereum. Está parecendo mais uma crise existencial.
No último fim de semana, Su Zhu, cofundador do Three Arrows Capital, publicou uma série de tuítes a seus 250 mil seguidores no Twitter explicando por que ele estava saindo do blockchain original de contratos autônomos por conta de crescentes custos de transação e falha na usabilidade da rede.
Sim, eu abandonei a Ethereum apesar de tê-la apoiado no passado. Sim, a Ethereum abandonou seus usuários apesar de tê-los apoiado no passado.
A ideia de ficar parado e não fazer nada, assistindo à queima [de tokens] e tramando testes de pureza enquanto nenhum dos novos entrantes têm dinheiro para usar o blockchain. É um nojo.
Ele continuou a falar mal de uma comunidade em que as pessoas têm de pagar centenas de dólares por transações apenas para “ouvir algumas histórias sobre como deveriam ter sido espertos o suficiente para comprarem ETH a US$ 10”.
Apesar de Zhu ter pedido desculpas sobre suas palavras e ter parabenizado as “ótimas equipes que trabalham na escalabilidade [da Ethereum em protocolos de segunda camada]”, seus tuítes continuam disponíveis, assim como as respostas, já que muitos desenvolvedores da Ethereum não toleraram a retórica de Zhu.
Ric Burton, desenvolvedor da Balance Wallet, achou irônica a crítica de Zhu sobre a rede, pois este possui muita experiência como investidor.
“Você é um suplicante totalmente ofensivo que simplesmente existe graças ao trabalho dos outros”, afirmou Burton. “Você não cria nada além de aproveitar narrativas.”
Zhu insistiu que é um usuário das plataformas nas quais investe, então seus comentários são da perspectiva de um consumidor.
É importante mencionar que o Three Arrows possui muitos investimentos na Ethereum e nas aplicações descentralizadas (ou dapps) existentes nela, como o protocolo de empréstimos Aave e o jogo NFT Axie Infinity.
Mas ele também diversificou seu portfólio, com alocações em bitcoin, dogecoin e em adversários da Ethereum, como Avalanche e Solana.
Existe uma insinuação por meio do discurso de que Zhu está brincando de formador de mercado com moedas multibilionárias em uma tentativa de impulsionar os preços e se enriquecer.
É similar a outras discussões de que redes adversárias à Ethereum são inferiores. Solana, a alternativa mais popular à Ethereum, ficou off-line por 17 horas em setembro por conta de um “ataque de negação de serviço”.
Isso é possível no Solana, onde taxas de transação são medidas em frações de centavos.
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Isso é bem menos provável de acontecer na Ethereum, onde tais ataques são muito caros; custos de transação continuam absurdamente altos conforme mercados entram no que parece ser um inverno frenético.
A taxa média de transação, em dólares, quando Zhu tuitou sua opinião, era de US$ 38,80. Na rede Bitcoin, cuja criptomeoda vale 12 vezes mais que o ether, era de US$ 3,05.
Conforme desenvolvedores da Ethereum destacaram no passado, não é de todo ruim. Isso comprova que a demanda é alta e que as pessoas desenvolveram a rede.
Ainda assim, embora as taxas da Ethereum sejam úteis para afastar o equivalente a lixo eletrônico no blockchain, não têm de ser medidas em dólares para conseguir isso.
De acordo com David Hoffman, fundador do Bankless, a realidade não é permanente e aqueles que estão abandonando o barco devem priorizar a segurança e a descentralização sobre produtos que podem não ser desenvolvidos para durar na Web 3.
“Abandonar a descentralização é o maior pecado que você pode cometer nesse setor”, tuitou ele a Zhu. “É mais fácil consertar as taxas do que consertar a centralização.”
O plano é escalar amplamente a rede Ethereum para que possa processar mais transações a altíssima velocidade. No início da Ethereum, isso não era um problema.
No entanto, conforme dapps se popularizaram, mais protocolos estão disputando por banda larga em que cada lance de um NFT e cada conversão de um ativo acontecem no blockchain.
A Ethereum 2.0, cuja previsão de lançamento é 2022, deve diminuir os preços das transações ao aumentar a capacidade da rede.
Enquanto isso, desenvolvedores da rede continuam inovando. A “queima” mencionada por Zhu está relacionada à EIP-1559, que faz parte de uma atualização em agosto à rede que visou acrescentar pressão deflacionária ao ether.
Em uma tentativa de tornar taxas de transação mais transparentes, a medida criou uma taxa-base paga por usuários à rede em vez de aos mineradores. A rede queimou (ou seja, destruiu) todas essas taxas, diminuindo o ritmo em que novos ethers são acrescentados à rede.
O preço do ether respondeu a essa mudança, aumentando quase 50% desde que a atualização entrou em vigor (mesmo com a atual correção de mercado) conforme quase 1 milhão de ETH foi retirado de circulação. Mas não houve uma diminuição notável nas taxas.
Desenvolvedores e contribuidores da Ethereum, dentre eles o coordenador de desenvolvimento Tim Beiko, alerto que a esperada redução nas taxas seria mínima, e não uma grande mudança conforme a prevista atualização ETH 2.0.
Ainda assim, as altas taxas que a EIP-1559 ajudou a manifestar tornaram o problema principal da Ethereum mais evidente: ficou ainda mais difícil que novos usuários entrem para a rede.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.