Se o Bitcoin é “ouro digital”, por que ele ainda cai como ativo de risco?

Muitos defendem que o Bitcoin funciona como o ouro, mas em momentos de pânico no mercado, o BTC cai junto com outros ativos de risco
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Uma das grandes teses defendidas para o Bitcoin (BTC) é que ele é um “ouro digital”, ou seja, um ativo escasso e que tem capacidade de preservar valor ao longo do tempo. Mas quando o mundo financeiro entra em crise, como durante a pandemia de Covid-19 ou no último fim de semana com o medo de recessão nos Estados Unidos, o Bitcoin atua como qualquer outro ativo de risco e cai.

Diante disso, muitas pessoas podem questionar a verdadeira natureza do BTC: é um ativo de proteção como o ouro ou um ativo de risco? A verdade é que ele ainda é ambos, mas isso deve mudar ao longo do tempo, conforme o Bitcoin amadurece.

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“Quando olhamos a história um pouquinho mais alongada, o Bitcoin é um ativo descorrelacionado. Acho que essa que é a essência dele”, explica André Franco, head de research do Mercado Bitcoin (MB). Por conta dessa característica, haverá momentos em que o BTC irá seguir um pouco mais o ouro, e outras vezes seguirá ativos de risco, segundo ele.

Para o analista, os investidores olham muito para a “foto” de um momento, e pouco para o “filme” de longo prazo. “O filme, ele conta a mesma história já há bastante tempo, que é um ativo descorrelacionado”, afirma.

A comparação do BTC com o ouro parte da noção de escassez, já que o metal precioso não é infinito, ainda que existam muito a ser explorado no mundo.

Da mesma forma, quando foi criado o Bitcoin, foi definido que haveria no máximo 21 milhões de tokens em circulação. Além disso, essa oferta cresce num ritmo cada vez menor por conta do halving, que reduz pela metade a cada quatro anos a criação de novos bitcoins.

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Cai como ativo de risco, mas se recupera mais rápido

Apesar do Bitcoin sofrer junto com outros ativos de risco quando o mercado entra em pânico, nos casos mais recentes de turbulência, o BTC também se recuperou mais rápido do que outros ativos, como as ações.

Um bom exemplo é o estouro da pandemia de Covid-19. Entre 19 de fevereiro e 23 de março de 2020, o índice de ações americanas S&P 500 caiu mais de 1.000 pontos, passando de 3.386 pontos para 2.237 pontos. Foi apenas em 20 de agosto que o índice conseguiu voltar ao mesmo patamar que estava inicialmente.

No mesmo período, o Bitcoin caiu muito mais inicialmente, perdendo quase 50% de valor entre 19 de fevereiro e 14 de março, saindo de US$ 9.700 para US$ 5.200. Além de começar a se recuperar antes do mercado tradicional, o BTC já havia voltado ao seu preço pré-pandemia em 19 de maio.

No caso recente do susto do último fim de semana, nem Bitcoin e nem a bolsa americana voltou ao nível que estava antes da queda do dia 5 de agosto, sendo que ambos ainda acumulam perdas de cerca de 5% em uma semana.

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Ainda assim, o preço do Bitcoin já saltou da mínima de US$ 49 mil, atingida na segunda-feira durante o pior momento da semana, para US$ 60 mil na sexta-feira.

Falta de adoção impacto preços

Embora o BTC se compare ao ouro pela sua escassez e se recupere rapidamente após crises de mercado, ele ainda precisa crescer em outras áreas para alcançar maturidade plena.

Segundo Beto Fernandes, analista da Foxbit, o Bitcoin ainda está dentro do que se chama de mercado de risco. “Afinal, a gente vê volatilidades bastante consideráveis no ativo, apesar da perspectiva dessa ‘ouro digital’ ou proteção contra a inflação”, afirma.

Ou seja, apesar da ideia da escassez, o Bitcoin não só ainda passa por um momento em que sua oferta aumenta com o tempo, como ele também não tem uma adoção tão grande quanto é preciso. Foi só este ano que investidores institucionais realmente começaram a comprar com o lançamento dos ETFs de Bitcoin à vista.

Fernandes complementa dizendo que também falta uma regulamentação global mais clara, que seria essencial para uma adoção em massa da criptomoeda. “O mercado ainda espera chegar ao primeiro bilhão de usuários em breve, mas ainda não estamos lá”, afirma, explicando que é nesse momento em que ocorre o choque entre oferta e demanda.

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Portanto, quanto mais usuários de Bitcoin, com uma emissão menor de ativos, mais escasso e menos circulante ele fica. “É por isso que, hoje, a gente ainda não consegue colocar, na prática, o Bitcoin como uma proteção contra crises, inflação ou até como um ‘ouro digital’. Mas tudo indica que isso será questão de tempo, conforme a adoção cresce e menos BTCs são gerados”, conclui Fernandes.