Sam Bankman-Fried, CEO da corretora FTX, é o fundador cripto do ano

Empresário fala sobre acordos de marketing esportivo, oferta de derivativos e progressos com reguladores
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Sam Bankman-Fried, fundador da FTX (Foto: Divulgação)

A análise de manchetes pode fazer você acreditar que foram os acordos de patrocínio e de marketing que fizeram de 2021 um grande ano para a corretora de derivativos FTX e seu CEO Sam Bankman-Fried (ou SBF).

E olha que foram muitos acordos.

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Os Golden State Warrions e Miami Heat da Liga Nacional de Basquete (ou NBA, na sigla em inglês), a equipe Mercedes AMG Petronas da Fórmula 1, o Conselho Internacional de Críquete, a Liga Principal de Baseball (ou MLB), o time de e-sports TSM e o Campeonato de League of Legends da Riot Games são todos patrocinados ou têm parceria com a FTX.

Estrelas individuais, como Shohei Ohtani do Los Angeles Angels, Tom Brady do Tampa Bay Buccaneers e Steph Curry dos Golden State Warrions, se tornaram investidores e embaixadores da empresa. Existe até um anúncio do Super Bowl vindo aí.

O objetivo de todos esses acordos, de acordo com SBF, é desenvolver o reconhecimento de marca da FTX. Mas ele os considera apenas como uma preparação de terreno para o que está por vir em 2022.

“Acredito que é um pouco surpreendente pensar exatamente em quanto foco havia [nos patrocínios]”, disse SBF em entrevista por telefone ao Decrypt.

“Realmente estamos empolgados” com o progresso regulatório que a FTX teve este ano e onde ele acredita que essas iniciativas podem acabar chegando. “Mas isso não significa que é aí onde estamos atualmente.”

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Onde a FTX – a corretora global e sua subsidiária americana – está atualmente é em uma avaliação de US$ 32 bilhões.

A grande corretora se tornou uma gigante dos derivativos e só perde para a Binance, uma investidora inicial da FTX, cujas ações foram recompradas por SBF em julho.

Em 20 de dezembro, a FTX tinha US$ 7,5 bilhões de posições abertas em contratos em comparação aos US$ 10,4 bilhões da Binance, de acordo com o site CoinGecko.

O enorme crescimento da empresa é graças a seu fundador de 29 anos, tornando-o no fundador cripto do ano pelo Decrypt.

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Quem é Sam Bankman-Fried?

SBF cresceu na Baía de São Francisco. Ele se mudou para a Costa Leste dos EUA para estudar Física no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (ou MIT) e, em 2014, conseguiu um emprego na empresa de negociação quântica Jane Street em Nova York.

Após três anos, ele saiu e teve uma breve passagem como diretor de desenvolvimento no Centre for Effective Altruism.

Ele continua sendo uma pessoa muito altruísta, acreditando no uso de evidências e pesquisas para encontrar a forma mais impactante para ajudar outros. Mas o cargo na organização sem fins lucrativos não foi um bom encaixe.

No fim de 2017, SBF fundou a empresa de negociação cripto Alameda Research. Dois anos depois, ele estava pronto para lançar outro empreendimento cripto: a corretora de derivativos FTX.

A empresa estava operando fora de Hong Kong até setembro, quando FTX e SBF pegaram suas coisas e se mudaram para as amigáveis Bahamas.

Antes de ele se tornar uma completa celebridade conhecida apenas pelo acrônico de SBF, ele havia encantado a comunidade cripto em 2020 quando “salvou” a SushiSwap.

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Após o fundador da corretora descentralizada (ou DEX), conhecido apenas como “Chef Nomi”, ter sacado US$ 14 milhões em tokens SUSHI e feito o preço despencar (um acontecimento considerado como uma “puxada de tapete”), transferiu controle do projeto para SBF.

E não era porque os dois se conheciam. SBF sempre foi um crítico ferrenho à forma como Chef Nomi estava comandando o projeto.

Mas ele também viu que a DEX iria fracassar sem uma intervenção e fez o que, em suas próprias palavras, tornou-se evidente por “comandar um projeto novo, relativamente grande e aleatório”.

O efeito da hipernerdice

Desde a fundação, SBF criou a FTX como uma corretora de derivativos que facilmente processa US$ 10 bilhões em volume todos os dias, de acordo com a CoinGecko. Mas ele ainda está de olho em como pode manobrar a empresa em novas linhas de negócio e regiões.

Seu próximo grande projeto: Criar um negócio de derivativo nos EUA. Para tal, ele passou muito tempo planejando em como lidar com um clima regulatório no país.

A FTX publicou uma lista de propostas regulatórias fundamentais antes da viagem de SBF para testemunhar no Congresso Americano, em Washington, em dezembro.

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As propostas ecoam o que foi dito por outras empresas cripto: Existe uma necessidade de transparência, requisitos de divulgação de informações para plataformas de negociação que precisa de consideração especial e técnica, além de proteções a clientes continuarem sendo essenciais.

Mas o otimismo de SBF sobre a regulação o diferencia do restante da indústria.

“Chegar a um ponto em que há uma supervisão padrão de stablecoins, confirmando que são lastreadas da forma que afirmam que são, por exemplo, pode ser um longo caminho para solucionar todos os problemas que as pessoas têm sobre stablecoins sem impactar o que as tornou tão valiosas em primeiro lugar”, disse.

“Penso que, em muitos quesitos, a diferença entre onde estamos e onde poderíamos estar não é tão grande no número de coisas que precisam acontecer.”

A contagem de passos desde o progresso à conclusão e o cálculo da vantagem são e sempre foram marcas registradas de como SBF opera a FTX, afirmou Nishad Singh, diretor de engenharia da FTX.

Ele ainda estava trabalhando no Facebook como engenheiro de software quando conheceu SBF.

“Na época, era óbvio que Sam era essa espécie de hipernerd. Ele não vai se livrar disso, não importa o que aconteça”, disse Singh ao Decrypt. “Mas ele desenvolveu muitas ótimas habilidades de comunicação e de gestão ao longo do tempo. Nem tudo isso existia no início.”

Dormindo nos famosos pufes no escritório da FTX em 2020 (Imagem: Sam Bankman-Fried)

Singh disse que ligou para SBF após terem se conhecido em 2017, pedindo que lembrasse dele se houvesse cargos onde ele se encaixaria bem.

Ele pensou que isso faria com que isso faria com que ele parasse em uma organização sem fins lucrativos por conta de seu interesse compartilhado em altruísmo (ganhando o máximo possível e depois encontrar as formas mais impactantes de investir na sociedade).

Em vez disso, SBF, CEO do Alameda Research, primeiro contratou Singh como diretor de engenharia na empresa de negociação e, em seguida, o levou para trabalhar no mesmo cargo que ele ao lançar a FTX em 2019.

Ao longo dos últimos quatro anos, ele viu SBF manter tudo o que o torna em um hipernerd.

“Ele é como um mago do Excel”, zombou Singh. “Você o observa no Excel e isso te faz se sentir inseguro sobre toda a sua vida.”

Mas ele também viu SBF ampliar essas habilidades. Um exemplo que vem à mente de Singh é a audiência congressional em 8 de dezembro.

Pressionando por uma legislação racional

“Não acredito que Sam iria soltar frases de impacto. Acredito que ele estava realmente tentando se comunicar com senadores enquanto ele estava atento ao que boas decisões políticas poderiam parecer”, disse Singh.

“E isso não é algo que ele não teria feito antes. Apenas acredito que é necessário um tipo diferente de maturidade para abordar isso bem e fazer isso muito bem.”

A área mais urgente de regulação para a FTX pode ser como legisladores americanos consideram derivativos cripto conforme continuam a crescer.

No fim de agosto, a FTX havia anunciado a aquisição de LedgerX, uma corretora de derivativos cripto licenciada pela Comissão para a Negociação de Futuros de Commodities (ou CFTC), por um preço não divulgado. O acordo foi finalizado em outubro.

Na época, SBF tuitou que era “um dos anúncios mais empolgantes que já tivemos”.

Essa empolgação não passou.

“Acredito que a maior coisa será o que podemos fazer com a LedgerX”, disse ele.

“Tenho confiança de que iremos conseguir oferecer um conjunto de produtos realmente competitivo e sermos, você sabe, as únicas pessoas que podem fazer isso de forma legal nos Estados Unidos. Acredito que isso é extremamente empolgante.”

O futuro

SBF pode ter diminuído sua distância ao mercado americano de derivativos cripto, mas suas adversárias vão fazê-lo suar em busca do dinheiro.

Recentemente, a cingapurense Crypto.com pagou US$ 216 milhões para adquirir a North American Derivatives Exchange (Nadex).

Na realidade, a empresa seguiu uma estratégia quase idêntica à da FTX este ano. Firmou acordos de patrocínio com a Fórmula 1, a equipe de e-sports Fnatic, o Ultimate Fighting Championship (ou UFC) e pôs seu nome no Staples Center de Los Angeles.

Se e quando a aquisição da Nadex for finalizada, a Crypto,com também estará em uma posição de oferecer derivativos a clientes americanos.

A Coinbase tomou uma abordagem diferente, enviando, em setembro, documentação para registrar a Coinbase Financial Markets Inc. como uma comerciante da comissão de futuros à National Futures Association. Sua solicitação ainda está pendente.

Nos bastidores, SBF ainda sente que ele está entrando em 2022 com alguns negócios não concluídos.

A crescente corretora de derivativos da FTX trouxe algumas dificuldades.

“Acredito que parte disso é que estamos trabalhando na capacidade de mecanismo de combinação. Existe mais trabalho a ser feito aqui”, disse SBF, se referindo ao sistema que combina ordens de compra e venda na corretora.

“Nosso volume realmente explodiu este ano. Temos de ter certeza que estamos além da curva aqui.”

O crescimento também o fez escalar o número de funcionários da empresa, algo que ele parecia estar relutante em fazer porque se preocupa de que irá diluir a cultura da startup.

“A maior coisa que enfatizamos agora é como você aumenta sustentavelmente uma equipe sem perder de vista a cultura que a fez funcionar em primeiro lugar. Eu não acredito que isso seja uma coisa fácil de se fazer. Não acredito que seja um problema solucionado”, afirmou SBF.

“Mas tentamos nosso melhor para que, ao fazermos isso, não estraguemos tudo. E que as pessoas sintam que têm uma voz na empresa, que têm uma percepção do que está acontecendo. Acredito que provavelmente seja uma das maiores coisas que tivemos de focar enquanto crescemos.”

Por fim, se ele tiver se escolher entre contratar mais pessoas ou manter a coerência da equipe, ele acredita que a decisão correta é contratar menos pessoas.

Em 2022, ele espera que as equipes de engenharia e produto da FTX estejam mais em evidência.

“Estou realmente empolgado com muito do que fizemos este ano, mas muito disso é, sinceramente, uma preparação para o que poderemos fazer no futuro em vez de ser o início e o fim de tudo”, afirmou SBF.

“Quando você analisa o lado regulatório e o lado de licenciamento, colocamos enormes quantidades de energia ao obter o máximo de licenças que pudermos e ter relações construtivas com reguladores. Acredito que, em relação a produtos, ficaram um pouco de lado. Mas virão à tona e estarão em evidência no próximo ano.”

*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.