É possível que a opinião de uma pessoa mais técnica divirja da minha sobre o aspecto que será apresentado. No entanto, irei valer da minha experiência na área de vendas e negócios para falar de uma criptomoeda que poucos estão falando no momento: Tezos (XTZ); e por que acredito que você deveria dar um momento de sua atenção à ela.
Tezos é, certeza, um “patinho feio” no espaço das criptomoedas. Surpreende-me ver muitas pessoas falando de criptos baseando-se em preço, marketcap, potenciais e brilhantes casos de uso que serão desenvolvidos no futuro, mas não citam em nenhum momento o que a Tezos já realizou até hoje, o que a Fundação Tezos vem fazendo e o que está sendo construído e entregue agora, não no futuro.
No entanto, antes de abordar este assunto, quando as pessoas me perguntam sobre uma única criptomoeda, sem titubear eu digo: Bitcoin (BTC).
Em minha experiência e conhecimento, acredito que nenhum outro projeto de blockchain (estatal ou privado) passará o Bitcoin. E o que o torna tão especial em relação a qualquer outra criptomoeda são duas razões muito simples: a descentralização e a prova de trabalho (PoW, Proof-of-Work).
A saída de cena de Satoshi Nakamoto, seja ele quem for, torna o Bitcoin diferente e superior a qualquer outro projeto. O fato de não ter um “dono” e um correspondente direto que possa ligar a tecnologia às características psicológicas, sociológicas, históricas e políticas de seu criador, o torna resistente a qualquer crítica que relacionaria a criação ao seu idealizador.
O PoW, apesar de todas as perspectivas negativas que se tem comentado, torna o Bitcoin o “rei das criptos”. PoW nada mais é do que uma espécie de “moeda de energia” e segurança que faz o Bitcoin ser o que é hoje.
Toda a razão de sua força está relacionada ao PoW. Para este caso, recomendo ler tudo o que for escrito por Jason Lowery — você o encontrará facilmente no LinkedIn.
Quando as pessoas me perguntam sobre duas criptomoedas, eu respondo: Bitcoin e Ethereum. Este é um fenômeno importante da consolidação dos contratos inteligentes — embora poucos saibam que o conceito já existia antes com o Bitcoin, apenas possuía uma grande dificuldade de implementação na primeira camada da rede.
E apesar dos problemas de escalabilidade (também enfrentados pelo Bitcoin), o Ethereum é brilhante e o rei dos contratos inteligentes. Além de possuir uma codificação mais simples para programadores, o que atrai pessoas de todos os cantos do mundo, também leva para ele muitos projetos inovadores que possibilitam atrair bons programadores e milhares de aplicações.
Isso é importante não somente para desenvolvedores técnicos, mas também para desenvolvedores de negócios, pois já possui um amplo ambiente de usuários e programadores (profissionais) que atuam nesta rede. Isso, por fim, atrai o que é necessário para grandes negócios, que são receitas e usuários para ampliá-las.
Por fim, muitas pessoas me perguntam sobre uma terceira criptomoeda e eu enfatizo: Tezos. Ouvindo quase sempre a mesma exclamação: “Tezos? Mas por que Tezos?”.
A cripto que nunca foi “a lua”, que não tornou a maioria dos investidores de sua ICO ricos e que teve um monte de problemas (de negócios, técnicos nunca tiveram) em seus primeiros dias após a implementação. Essa mesma cripto que não desenhou um passado muito promissor, pode ser também aquela que reserva uma das melhores oportunidades de aplicações e negócios no universo cripto.
Poderia aproveitar este momento para fazer uma grande defesa do porquê eu acredito nisso, mas para focar nos pontos principais, destacarei apenas quatro importantes aspectos de sua blockcahin: LPoS (Liquid Proof-of-Stake), descentralização, governança e escalabilidade.
LPoS (Liquid Proof-of-Stake)
Também conhecido como Prova-de-Participação, o PoS ou LPoS é um mecanismo de consenso diferente daquele utilizado pelo Bitcoin e Ethereum.
Embora eu não concorde com as principais críticas ao PoW do Bitcoin e Ethereum, vivemos em um mundo que há um grau de sensibilidade bem alto em relação a sustentabilidade e eficiência energética.
Pensando nisso, o Ethereum vem há 5 anos anunciando que mudará o seu consenso de PoW para PoS. No entanto, essa não é uma tarefa simples e rápida que ocorrerá do dia para a noite – tanto é que não foi realizado até o momento.
Além de se mudar o protocolo em termos técnicos, há também um convencimento que precisa ser feito a todos os investidores, colaboradores, mineradores e programadores que não ocorre de maneira rápida.
Ainda assim, o que quase ninguém comenta é que a Tezos implementou isso de maneira eficiente, correta e descentralizada, de maneira funcional e ininterrupta, desde seu lançamento em 2018.
Desde então a rede já passou por nove atualizações de protocolo e eu recomendo a leitura sobre cada atualização e o que elas estão fazendo de bom. Neste site estão todas as informações da rede (blockchain) centralizadas em um único front end para tudo o que já ocorreu na Tezos.
Descentralização
Com tantos projetos e blockchains centralizadas, parece que virou um jargão falar sobre ‘descentralização’. No fundo, virou apenas mais uma palavra de alto impacto para ser utilizada – não na Tezos.
Apesar de conhecê-la tão bem ao ponto de questionar a centralização econômica que possui na rede (um fator de risco para todos os PoS), a rede se torna a cada dia que passa mais descentralizada – um fato emblemático em um universo que essa palavra vem perdendo o sentido.
Para participar, por exemplo, de um stake ou, como são chamados na Tezos, de um Baker, não é necessário transferir ou congelar nenhum valor de seu saldo.
Por uma chamada de smart contracts, você irá se referir ao endereço do seu Baker e ele se torna, desde então, o responsável por transferir as recompensas a você e também a votar nas atualizações de protocolo.
Isso significa que você, holder de Tezos, é participante indireto de uma atualização de protocolo. Se você não concorda com os votos do seu Baker, você pode retirar os seus tokens dele com um único clique.
Para consolidar essa análise, a eleição 36 teve o seu protocolo rejeitado pela comunidade porque alteraria ‘apenas’ um detalhe na estrutura de recompensa dos Bakers.
Isso levou a uma movimentação contrária a recomendação do criador da Tezos, que indicava votação favorável ao projeto. É possível conferir todos os detalhes dessa votação aqui. Portanto, este é o fator mais decisivo na hora de se olhar com atenção para a Tezos – a sua capacidade de descentralização, fator importantíssimo para projetos de longo prazo.
Governança
Apesar de ter citado no tópico anterior como funciona um processo de votação, é importante ressaltar que descentralização e governança nem sempre são aliados.
Para isso vide o Ethereum, que é alegado possuir um alto grau de descentralização, mas que, no entanto, é extremamente dependente da Fundação Ethereum para que ocorra um novo desenvolvimento.
Afinal, você, holder de ether, já teve algum tipo de participação direta ou indireta na escolha de uma mudança importante na rede? A não ser que você seja um desenvolvedor super engajado e envolvido com a atualização do protocolo, dificilmente você terá qualquer participação.
Já na Tezos, todos os usuários que possuem XTZ podem participar, direta ou indiretamente, no processo.
Apesar de deixar para uma outra oportunidade as críticas em relação ao peso de cada votante, é importante ressaltar que a evolução da descentralização em cada aspecto também evolui com a maturidade da rede blockchain – como foi o caso do Bitcoin.
A governança da Tezos deveria lançar luz a um debate sobre o espaço das criptomoedas, afinal, por que alguns protocolos demoram tanto para atualizar?
Se eles demoram cinco anos para uma implementação importante, o que ocorrerá se, depois de cinco anos, outra atualização (ainda mais importante) for necessária? Quanto tempo será necessário?
Depois dessas questões, reflita: a rede Tezos possui espaço para votação de protocolo para qualquer programador e há um hiato/janela de tempo médio de três meses entre cada votação favorável e implementação, podendo ocorrer até quatro atualizações anuais de grande porte.
Além de possuir também, já em protocolo, recompensa para os desenvolvedores que implementaram o protocolo.
Escalabilidade
Que desafios o futuro trará para as criptos? Será que os problemas se restringem às transações por segundo (TPS), ou haverá outros tipos de problemas que deverão ser resolvidos e escalados?
Eu não sei, no entanto, já baseado nas informações passadas nos tópicos anteriores, podemos considerar que há na Tezos capacidade de resolução para desafios futuros, já nas outras criptos, não tenho tanta certeza.
Principalmente se formos considerar que este processo de escalabilidade mantenha também a descentralização e governança.
Para este tópico, em específico, vou deixar um texto da Nomadic Labs, um laboratório de pesquisa e implementação de protocolo com nada menos que, 39 PhDs.
Repetindo, 39 PhDs trabalhando em cima do Protocolo da Tezos. Lembram de uma cripto que diz ser a ‘blockchain dos acadêmicos’? Pois bem, a Tezos não fica por aí dizendo quantos cientistas, técnicos e faculdades estão trabalhando em cima do seu protocolo.
Projetos e uso real
Se você chegou até essa parte do texto, primeiramente parabéns pela paciência, atenção e obrigado pelo seu tempo. Mas acredito que você deve estar pensando “ok, tudo bem, por que eu não vejo Tezos espalhada a todo tempo por aí?”.
Apesar de eu não ter a resposta exata para isso, apenas algumas suposições, vou tentar não me prender a ‘conspirações ou ideias minhas’ e demonstrar mais fatos e construções na rede.
Diferentemente da maioria dos projetos de cripto, dificilmente você viu o logo da Tezos em algum evento de criptomoedas ou relacionado a alguma exchange, e eu tenho uma hipótese para isso.
A Fundação Tezos optou por não alocar o seu capital em ‘fazer o preço do XTZ explodir’, gerar liquidez nas exchanges ou mesmo ‘transformar a imagem’ da Tezos (algo que divirjo um pouco), mas construir uma grande estrutura de parceria com empresas privadas e solidificar a tecnologia blockchain da rede para construir grandes oportunidades.
Considerando isso, é possível ter alguma noção de parcerias e ecossistema neste site, embora nem todos os projetos estejam aí – porque, óbvio, sempre estão surgindo novos.
Mas alguns exemplos de parcerias estratégicas são: Ubisoft, Manchester United, Red Bull Racing (Fórmula 1), McLaren (Formula 1), Decathlon (sim, a loja de esportes), OneOf (parceiro oficial do Grammy para NFTs, ou seja, os NFTs do Grammy são em Tezos), alguns bancos árabes e franceses também.
Nesta nota, nem um pouco comentada no Brasil, um banco francês recebeu autorização de prover serviços de criptomoedas em apenas três criptos: Bitcoin, Ethereum e Tezos.
Portanto, o que eu gostaria que você percebesse com este texto é que, apesar do preço da Tezos não ter decolado como os investidores gostariam e quase ninguém falar dela, ainda há muito potencial a ser explorado (e criticado também, para evoluir).
Muitos projetos se autoproclamam as melhores soluções para escalar mesmo sendo centralizados. Outros dizem que são descentralizados, mas não escalam. Alguns ainda se mostram preocupados com uma visão mais teórica e acadêmica, mas sempre atrasam nas entregas.
E apesar da Tezos ter falhado como perspectiva de preço e parcerias iniciais, tem surpreendido cada vez mais em termos de desenvolvimento, participação da comunidade e oportunidade para negócios de longo prazo.
Espero que você também tenha percebido essa grande chance de estudar e contribuir para esta rede.
Sobre o autor
Vinícius Córdova é formado em Relações Internacionais pela UFRJ e especialista na área de negociações em tecnologia e criptoativos. Trabalha como Business Development Specialist na Foxbit.