Por que só os governos têm a ganhar com as moedas digitais estatais

Para o autor, vantagem da moeda digital do banco central para o cidadão comum é praticamente zero
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Foto: Shutterstock

O CBDC, a moeda digital dos bancos centrais, vai chegar, é questão de tempo. O novo formato de dinheiro virtual está em período de testes na China, França, Bahamas, Austrália, Suíça, África do Sul, Singapura, Emirados Árabes, entre outros.

A vantagem para o cidadão comum é praticamente zero, com a única diferença de ficar menos “refém” dos bancos, embora o “open banking” no Brasil tenha trazido certa flexibilidade com o PIX, por exemplo.

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No entanto, a privacidade do usuário — se existia — desaparece por completo. Todas as transações e dados pessoais dos donos de cada conta ficam registrados em um conjunto de servidores controlado pelo Banco Central.

Além disso, o governo pode inventar regras malucas, por exemplo, definindo que 60% dos salários devem ser obrigatoriamente gastos em 30 dias, ou somente em alimentação, saúde, transporte e moradia.

De qualquer modo, o governo continua com o controle da impressão, e fica ainda mais fácil direcionar recursos diretamente para determinadas empresas ou setores, sem depender dos bancos para esta função.

Vamos então a lista dos “benefícios” fictícios e mentiras que vão ser utilizadas pelos governos para justificar o lançamento do CBDC:

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1-Concorrência das criptomoedas: ora bolas, se as criptomoedas atingiram US$ 2,5 trilhões em valor de mercado, “só pode ser” o banco de dados distribuído e o sistema de carteiras digitais (wallets). FALSO: o valor do Bitcoin está na descentralização e escassez.

2-Transparência e segurança: qualquer um consegue medir o total de moedas em circulação, tornando impossível um banco criar dinheiro sem lastro, ou intermediadores de pagamento enviarem informações incorretas. FALSO: o emissor do CBDC pode imprimir a qualquer momento, e os dados dos donos de cada endereço ficam armazenados em algum servidor.

3-Redução no custo de transação: vão alegar que acaba o dinheiro físico, e menos esforços são necessários para controlar os meios de pagamento, com transações instantâneas e sem custo. FALSO: as transações via PIX já são praticamente sem custo, e o dinheiro em papel iria acabar de qualquer forma.

4-Facilidade nas remessas internacionais: por se tratar de uma “moeda” que só existe no banco de dados controlado pelo governo, uma remessa internacional pode ser liquidada de forma instantânea se ambos os países estiverem integrados. FALSO: o CBDC torna a remessa internacional ainda mais dependente da burocracia e restrições do governo.

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5-Combate à corrupção: ao ter total visão das transações, valores encaminhados para a saúde e educação, por exemplo, podem ser facilmente rastreados, e inclusive ter sua finalidade especificada via smart contract. FALSO: os empreendedores vão continuar se valendo de empresas criadas para burlar o sistema, e com o lucro, pagar os subornos e desvios.

Enfim, os governos só têm a ganhar com o CBDC, portanto, prepare-se!

Sobre o autor

Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Em 2017, se tornou trader e analista de criptomoedas. Maximalista convicto, assina também o canal no Youtube RadarBTC.