Entrei no mercado de criptos em maio de 2017 após rejeitar a ideia por alguns meses. Vindo do mercado tradicional, sempre acreditei na necessidade de um agente regulador pra controlar emissões, publicação de dados (balanços auditados, informes, etc) e assegurar a liquidação financeira.
Assim como a maioria de nós, me apaixonei de imediato pela “privacidade” do ZCash, “maleabilidade” do Ethereum, “velocidade” do Dash, “baixo custo de envio” do Litecoin, etc. Afinal de contas tudo, tudo era muito novo e o Bitcoin rapidamente perdia sua dominância de 90% para míseros 40%.
No final de 2017 fui desfazendo as minhas posições, pois ao consultar o pessoal mais antigo, ouvia coisas do tipo: “não faz sentido o Bitcoin custar mais que um carro” ou “essas moedas subindo 100% na semana tão fora de controle”.
Aproveitei o momento pra estudar um pouco mais o racional de cada projeto. Não o whitepaper ou aqueles powerpoints bonitos das promessas, mas o que efetivamente tinham de benefício naquele momento. Quão descentralizado é o Bitcoin? Quais vantagens e desvantagens do Ethereum ser “turing complete”? Por que não baixar o intervalo entre os blocos do Litecoin pra 1 minuto? Qual o poder efetivo destes Masternodes do Dash?
Foi nesta pesquisa que encontrei alguns “buracos”, coisas que não tinham uma explicação muito lógica: DAO Hack da Ethereum, Instamine da Dash, venda da posição do Charlie Lee, cerimônia de criação das chaves da ZCash, etc. A maioria dos projetos foi perdendo sentido, independente de ter ou não alguma qualidade superior ao Bitcoin.
Foi então que o próprio Bitcoin encontrou seu momento crucial: Segwit2X. Confesso que pouco entendia sobre a dinâmica do upgrade, afinal de contas, as maiores exchanges, custodiantes e mineradores apoiavam a mudança. Foi justamente este fracasso, em novembro de 2017, que aumentou meu interesse pela moeda.
Aos poucos compreendi que ninguém consegue alterar a definição do Bitcoin se um grupo de anarquistas ignorar tais mudanças. Sem o apoio dos Hodlers e desenvolvedores, as exchanges, os mineradores e os custodiantes perdem emprego.
Foi então que abandonei as criptomoedas e passei a me dedicar exclusivamente ao Bitcoin. Não quer dizer que ignore as funcionalidades de outros projetos. Sou apaixonado pelos experimentos de consenso do Decred, a privacidade do Monero, o ecossistema de stablecoins e empréstimos da Ethereum, zero knowledge da ZCash, e por aí vai. Só não vejo a necessidade de tokens nativos pra estas redes.
O Bitcoin provou em campo de batalha sua descentralização através de um histórico de 4 anos de conflitos, mudanças de desenvolvedores e alteração na própria percepção pelo mercado. Seguiu seu desenvolvendo independente de verba da fundação ou vontade de um pequeno grupo.
Enquanto não surgir nada melhor, seguirei apoiando o Bitcoin independente de preço. Será que o mesmo pode ser afirmado sobre as demais moedas?
Sobre o autor
Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Desde maio de 2017, faz arbitragem e trading de criptomoedas, além de ser cofundador do site de análise de criptos RadarBTC.