Buscando aumentar o apoio entre os eleitores negros do sexo masculino, a campanha da candidata presidencial do Partido Democrata, Kamala Harris, divulgou uma agenda de alcance esta semana — que inclui uma promessa de regulamentação das criptomoedas para proteger os homens negros que investem em ativos digitais.
Foi a declaração mais concreta até o momento da atual vice-presidente, cuja campanha abreviada — desde que assumiu o lugar de Joe Biden em julho — deu muito menos foco às criptomoedas em comparação à de seu rival republicano, o ex-presidente Donald Trump.
O movimento da campanha de Harris esta semana foi recebido com reações mistas. Enquanto alguns investidores de criptomoedas e membros da indústria elogiaram a linguagem mais incisiva sobre a regulamentação das criptos por parte de Harris, outros criticaram o enquadramento como sendo especificamente sobre homens negros.
“Já estava na hora; muitas pessoas estavam esperando algum anúncio de apoio de Kamala Harris para a comunidade cripto e para os investidores”, disse o Dr. Ali Emdad, Diretor do Centro de Estudos de Blockchain e Tecnologia Financeira da Morgan State University, ao Decrypt.
“As pesquisas mostram que mais de um quarto dos americanos negros possuem criptomoedas, em comparação com cerca de 15% dos brancos, então é mais aceito”, continuou o Dr. Emdad. “As pessoas estavam esperando, e isso foi, eu acho, um pouco tardio — mas, independentemente disso, era necessário que esse anúncio fosse feito.”
A clareza regulatória pode promover a inovação e ajudar as comunidades negras a liderarem em tecnologias emergentes, disse o Dr. Emdad — embora tenha acrescentado que é importante que os líderes comunitários participem ativamente no desenvolvimento da política para garantir que ela atenda às suas necessidades específicas.
“Alguns serão céticos devido à desconfiança histórica dos sistemas financeiros, mas outros verão isso como um passo em direção a um empoderamento econômico mais amplo”, acrescentou. “É como qualquer grande proposta — haverá ceticismo, apoio aberto e demandas por uma ação mais profunda.”
Mas nem todos estão convencidos. Alguns membros da indústria cripto viram o momento do anúncio de Harris como puramente motivado politicamente, especialmente porque o entusiasmo inicial em torno de sua campanha esfriou com a aproximação do Dia da Eleição.
Uma pesquisa da ABC/Ipsos com eleitores prováveis, na quarta-feira, deu a Harris 51% de chance de vencer, comparado a 48% de Trump — mais apertado do que antes. Enquanto isso, os apostadores de criptomoedas na Polymarket atualmente dão ao ex-presidente Trump 60% de chance de vitória, comparado a cerca de 40% para Harris.
“Eu teria acreditado nela há dois anos, não durante um ano de eleição”, disse Tony Bravado, cofundador e diretor de marketing da NFTCLT, ao Decrypt.
“Quando ouço frases como ‘apoio aos homens negros’, parece oportunismo”, continuou ele. “Eles estão realmente focando em toda a comunidade negra, ou apenas tentando conquistar um grupo específico de homens negros que estão entrando no mundo cripto? Para mim, parece um pouco fora de sintonia.”
Bravado e sua parceira, Shana Douglass, viajam pelo país realizando eventos em escolas e universidades, incluindo a faculdade historicamente negra Morgan State University (MSU) e a University of Southern California (USC). Seus eventos têm como objetivo ensinar americanos negros sobre blockchain, cripto e outras tecnologias.
Bravado e outros críticos ridicularizaram a declaração de Harris sobre cripto como desesperada e oportunista, e ele também expressou preocupação de que destacar os homens negros coloque uma pressão desnecessária sobre um grupo que já luta para obter financiamento e oportunidades financeiras.
“Não recebemos apoio suficiente como está, e agora parece que há ainda mais pressão”, disse ele. “Há tantos jovens, mulheres e outras minorias que também estão tentando se destacar, mas eles não são mencionados.”
Douglass, cofundadora da NFTCLT, expressou preocupação de que a linguagem de Harris possa aprofundar divisões dentro da comunidade negra, especialmente entre homens e mulheres.
“Isso reforça uma divisão de gênero que é frequentemente usada politicamente nos Estados Unidos para enfraquecer a força da comunidade negra”, disse Douglass. “Acho que essa retórica apenas aprofunda a divisão entre homens e mulheres negros, o que nos impede de nos unir para mobilizar de maneiras significativas — que é para isso que esse espaço existe.”
Bravado e Douglass concordaram que uma estrutura regulatória clara e neutra seria muito mais útil e eficaz do que destacar um grupo específico em uma agenda política.
“Não tenho certeza de que o lobby tradicional vá ajudar neste caso, porque a maior parte do que está acontecendo vem das grandes empresas de cripto”, disse Douglass. “Se pessoas menores da cripto e donos de negócios quiserem ter sucesso nesse espaço, acho que não vão encontrar esse apoio do governo federal.”
Desde que divulgou a agenda, a campanha de Harris esclareceu que todos os programas e iniciativas da Agenda para Homens Negros — incluindo empréstimos totalmente perdoáveis para empreendedores e a legalização nacional da maconha recreativa — têm como objetivo beneficiar todos os americanos, e não serão limitados por raça.
“Esse foco específico reconhece os desafios e oportunidades únicos que os homens negros enfrentam na economia digital e se baseia em seu compromisso mais amplo com a equidade econômica, garantindo que ninguém fique para trás”, disse a autora e professora da Penn State Dickinson Law, Tonya Evans, ao Decrypt. “Embora o foco nos homens negros possa parecer direcionado, faz parte de uma agenda mais ampla que busca elevar todas as comunidades marginalizadas.”
Evans discordou da ideia de que a campanha de Harris está apelando para ganhar o apoio dos eleitores negros do sexo masculino, mas acredita que se baseia em esforços genuínos para engajar, ouvir e responder às necessidades de um eleitorado diverso.
“A abordagem dela demonstra uma dedicação em conquistar a confiança e o apoio de cada grupo, abordando suas realidades e oportunidades econômicas específicas na economia Web3”, disse ela. “Além disso, suas políticas mais amplas apoiam todos os americanos, garantindo que as comunidades mais vulneráveis e sub-representadas se beneficiem diretamente de suas iniciativas.”
Desde que anunciou sua candidatura à reeleição, o oponente de Harris, Trump, fez várias propostas aos entusiastas de cripto, incluindo sua aparição na Conferência Bitcoin 2024 e o lançamento de múltiplos NFTs. Mais recentemente, Trump lançou um projeto DeFi chamado World Liberty Financial.
“As iniciativas de Trump, como a World Liberty Financial, levantam preocupações sobre controle centralizado e favoritismo, enquanto Harris busca estabelecer regulações justas que protejam pequenos investidores e empoderem comunidades”, disse Evans.
Trump repetidamente afirmou que uma derrota em novembro seria ruim para a cripto e os construtores da indústria. Os investidores parecem concordar, com o preço do Bitcoin e de outros ativos acompanhando de perto seus movimentos nas pesquisas, no que alguns analistas chamaram de “Trump trade”.
“Se não ganharmos a eleição, aquelas pessoas que estavam sob investigação e que agora estão livres como um pássaro”, disse Trump, “e pessoas que não estavam sendo observadas no mundo cripto, elas estarão vivendo no inferno — porque isso começará no dia após a eleição, se eles ganharem.”
Embora Trump tenha sido muito mais franco sobre seus planos em relação à cripto, Evans permanece firme de que a abordagem de Harris é a melhor no geral para o futuro da indústria.
“Diferente da recente guinada de Trump em direção à cripto, que alguns veem como uma tentativa de cortejar eleitores sem abordar questões sistêmicas, Harris integrou os ativos digitais em sua plataforma de Economia de Oportunidades”, disse Evans. “Suas políticas visam criar um ambiente inclusivo onde tecnologias emergentes, como o blockchain, beneficiem o público em geral, em vez de uma elite.”
*Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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