O que são CBDCs, Yuan Digital, Real Digital e como se diferenciam das criptomoedas?

Especialista explica tecnologia que vai substituir o dinheiro físico
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Foto: Shutterstock

CBDC é uma sigla do inglês “Central Bank Digital Currency”, que significa “Moeda Digital Emitida por Banco Central”. Esse conceito surgiu com o interesse das nações em utilizar a tecnologia blockchain para finalidades financeiras, inspiradas no crescimento e popularização das criptomoedas.

A maioria das operações financeiras já acontece de forma digital, mas a emissão de dinheiro fiduciário ocorre, principalmente, na forma de notas em espécie. Buscando romper essa fronteira, bancos, instituições e governos ao redor do mundo estão lançando moedas digitais em fase de teste.

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Acredita-se que mais de 80% dos bancos centrais já estejam engajados em pesquisas com CBDCs, incluindo o Brasil. A seguir, vamos compreender melhor as diferenças entre CBDCs e criptomoedas, bem como algumas nações estão avançando em busca dessa inovação. 

Aspectos técnicos: Criptomoedas vs CBDCs

A tecnologia que serve de base às CBDCs é a mesma usada pelas criptomoedas: a blockchain. Apesar de ter diversos usos no meio da informática, o seu maior destaque está na utilização pelo setor financeiro.

Isso porque tanto moedas quanto transações econômicas precisam dispor de registros comprobatórios e altos níveis de segurança. A menos que se possa confiar absolutamente na autenticidade dos livros-razão e das representações de valor utilizadas, uma moeda perde sua força e utilidade prática. Se as notas de papel fossem facilmente falsificáveis, ninguém estaria disposto a aceitá-las como pagamento. 

No passado, a digitalização das moedas esbarrava exatamente nesse obstáculo. Meios digitais são facilmente corruptíveis e editáveis: arquivos podem ser facilmente duplicados e alterados, não havendo métodos absolutos para se distinguir entre cópias e originais.

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A invenção da blockchain colocou um fim nesse problema através da utilização de redes de computadores P2P, de uma arquitetura de registros de dados em cadeia e de criptografia. Cada rede blockchain individual funciona como um registro contínuo de transações, armazenado múltiplas vezes em cada um dos computadores.

Não é possível alterar dados no registro, já que seria necessário alterá-lo em todos os nós da rede. Além disso, devido à arquitetura e criptografia em cadeias de blocos, alterar uma única entrada de dados requer a alteração de todas as cadeias completas. O poder computacional necessário para uma tarefa do tipo é extremamente grande e virtualmente impraticável, o que nos permite confiar na integridade do Bitcoin, Ether, Doge e outras criptomoedas. 

Por serem 100% digitais e não-governamentais, as criptomoedas são muito práticas e estão mais protegidas dos efeitos de crises econômicas nacionais. Contudo, uma série de problemas graves decorre da própria descentralização das mesmas. Como não são reconhecidas oficialmente por nenhum governo, elas são extremamente voláteis, carecem de aceitação como meio de pagamento e sofrem até mesmo repressão e proibição em alguns países.

As CBDCs surgiram como uma alternativa mais consistente de moeda digital. Elas também utilizam o registro por blockchain, mas são emitidas por bancos centrais e são universalmente aceitas e acessíveis, legalmente, por uma dada nação. Também não estão sujeitas a altas volatilidades, já que têm lastro em uma moeda nacional. Elas assumem dois formatos: 

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CBDC de atacado — usado somente para transações entre instituições financeiras. Pagamentos entre instituições nacionais ou internacionais ainda são muito burocráticos e caros. As CBDCs simplificam esses processos, dinamizam o sistema e fomentam o mercado.

CBDC de varejo — essa modalidade é voltada para o consumidor final, para as compras e pagamentos do dia-a-dia da população. Entre as vantagens estão a inclusão financeira e a redução de custos com a impressão de papel-moeda.

Países com experimentos em CBDC

Brasil — O Banco Central do Brasil lançou, em 2020, uma comissão para pesquisa e desenvolvimento de uma espécie de CBDC, o Real Digital. As primeiras diretrizes foram divulgadas em maio de 2021, enquanto testes são esperados já para 2022.

Acredita-se que a moeda estará disponível integralmente daqui a dois ou três anos. A evolução do tema segue em paralelo a discussões com outros países e à análise de inovações recentes, como o Pix, Pix Internacional e Open Finance.

China — A China é o país mais avançado, atualmente, no que se refere a CBDCs. As pesquisas do Banco Popular da China começaram em 2014, com o primeiro teste acontecendo em outubro de 2020. A política nacional é extremamente protecionista com relação ao Yuan Digital, estando totalmente banidas quaisquer criptomoedas no país.

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Muitos especialistas acreditam que o lançamento irá colocar pressão no mercado internacional, internacionalizando o Yuan e reduzindo a hegemonia do dólar. O lançamento completo é esperado para os Jogos Olímpicos de Inverno, em 2022.

Outros países — Vários outros países levam pesquisas similares. Na África, a Nigéria foi o primeiro país a lançar uma CBDC. O lançamento inicial da moeda, o eNaira, ocorreu dia 25 de outubro deste ano. Na Suécia, o Banco Central procura desenvolver a moeda e-krona desde 2017. Nas Bahamas temos o Sand Dollars (Dólar de Areia), pesquisa iniciada em 2019.

A Organização dos Estados do Caribe Oriental e as Ilhas Marshall também já estão avançados no assunto, com as moedas DXDC e SOV, respectivamente. Outros países ainda analisam e discutem a viabilidade financeira e tecnológica da emissão de uma CBDC nacional. Exemplos são os EUA, Reino Unido, Japão e o Banco Central da Europa.

Conclusão

As primeiras CBDCs estão bastante próximas de se tornarem realidade, com o Yuan e o Real digital entre as esperadas para os anos seguintes. Um dos maiores benefícios será a inclusão financeira da parcela populacional que não tem acesso a contas bancárias.

A maioria dos bancos centrais mundiais está desenvolvendo ou discutindo acerca da viabilidade de lançamento de CBDCs, já tendo divulgado algum tipo de posicionamento.

Contudo, não se pode ter certeza se a existência de moedas digitais se tornará uma regra mundial, substituindo totalmente o dinheiro de papel. O sucesso do modelo dependerá dos resultados alcançados pelos países pioneiros, ao longo da próxima década.

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Sobre o autor

Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. É fundador da empresa Growth.Lat e do projeto Growth Token.