O que diz o polêmico artigo sobre a Tether que fez traders profissionais venderem seus bitcoins

Falta de lastro em dólares na USDT vem provocando medo no mercado
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Foto: Shutterstock

Investidores experientes de criptomoedas, como o trader Fausto Botelho, ficaram ‘apavorados’ no final de semana passado e venderam seus bitcoins por causa de um post publicado por um autor anônimo.

No texto, o desconhecido explica como a empresa Tether, na visão dele, influencia o preço do BTC e como o mercado poderia sofrer um “baque” se a Procuradoria Geral de Nova York, que investiga a empresa desde 2019, chegasse a mesma conclusão. O artigo repercutiu no mercado de criptomoedas e foi o foco de muitas discussões.

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O Portal do Bitcoin conta aqui embaixo quais são os principais pontos citados pelo autor e se, de fato, eles fazem sentido.

A Tether afirma que um USDT (sua stablecoin) equivale a um dólar. Portanto, isso significa que, a cada USDT emitido, a empresa deveria ter o mesmo valor em moeda fiduciária em sua conta bancária, certo? Dados levantados pelo autor no texto, no entanto, mostram que afirmação da empresa é falsa.

Tether não tem dólares suficientes

Para chegar a essa constatação, o autor verificou quantas moedas estrangeiras há no Deltec — banco, onde a Tether tem conta, localizado nas Bahamas — e em outras instituições financeiras da região. O Banco Central do país divulga essas informações todos os meses.

E aqui vem um dos pontos que mais chama a atenção do texto.

De janeiro de 2020 a setembro de 2020, conforme levantamento do Banco Central das Bahamas, US$ 600 milhões de moedas estrangeiras foram depositadas em bancos domésticos da região, o que fez o montante total passar de US$ 4,7 bilhões para US$ 5,3 bilhões.

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No mesmo período, o total de tethers emitidos aumentou quase US$ 5,4 bilhões, passando de US$ 4,6 bilhões para US$ 10 bilhões. Ou seja: “não havia dólares suficientes em todos os bancos domésticos nas Bahamas para apoiar os tethers que estavam flutuando no mercado de criptomoedas”, escreveu o autor.

Nesta quarta-feira (20), segundo o CoinMarketCap, há US$ 24,7 bilhões de USDT no mercado.

Emissão de moedas e alta do bitcoin

Assim como apontado por outros estudos, outro pontos abordado pelo autor é que a Tether manipula o preço do bitcoin porque, em períodos de emissões de USDT, o BTC também costuma subir.

Essa relação é facilmente identificada em dados do CoinMarketCap. Nos gráficos abaixo, extraídos na terça-feira (19), é possível verificar que as altas do BTC coincidem com as emissões de tether.

Emissões de USDT
Valorização do bitcoin

O autor também apontou que, ao longo do ano passado, a Tether passou a emitir cada vez mais USDT. Cabe lembrar que no mesmo período a Procuradora Geral de Nova York, dentro da investigação aberta em 2019, pediu vários documentos para a empresa. A Tether, no entanto, deu um jeito de adiar a entrega até o início deste ano.

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O analista viu nessa estratégia uma forma de a Tether fazer dinheiro antes de ser acusada pela Procuradoria. “Isso é consistente com a possibilidade de que, como as várias contestações legais da Tether falharam uma após a outra nos tribunais de Nova York, a Tether estava escolhendo emitir tethers cada vez mais rápido para maximizar a quantidade de valor que poderia extrair do ecossistema das criptomoedas antes de ser encerrado”, escreveu.

70% dos bitcoins são comprados com USDT

Para o escritor desconhecido, uma possível quebra da empresa Tether poderia afetar o mercado de criptomoedas e o preço do bitcoin porque 70% dos BTC’s e altcoins negociados em exchanges são comprados com USDT. Nas últimas 24 horas, segundo dados da Coinlib, US$ 10 bilhões de BTC foram adquiridos com a stablecoin.


“Mesmo que US$ 10 bilhões de fluxos de tether constituam apenas 1,4% da capitalização de mercado nominal de US$ 700 bilhões do bitcoin, tudo o que realmente importa é a fração do volume diário de compra do bitcoin que o tether representa – e esse número está perto de 70%”, escreveu.

Cabe lembrar, no entanto, que muitas exchanges internacionais não aceitam moedas fiduciárias. Por isso, o tether, por ser lastreado em dólar, serve como uma substituta da moeda estrangeira e é usado para compra, venda e arbitragem. Nas últimas 24 horas, US$ 96 bilhões de tether foram negociados no mundo, valor superior ao volume do próprio bitcoin, que no mesmo período registrou US$ 56 bilhões.

Responsabilidade da Tether

Em um vídeo publicado na segunda-feira (18), o especialista em criptomoedas Fernando Ulrich, comentou o artigo polêmico. Ele falou que, assim como o autor anônimo, também acha que existe a possibilidade de a Tether emitir USDT sem o lastro em dólar.

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Ulrich disse, no entanto, que ainda não encontrou evidências suficientes de que a emissão de USDT seja a principal responsável pelo rally do bitcoin. “Pode ser parte da verdade, mas não explica o todo (a alta inteira)”.

Ele lembrou que apenas uma parcela do volume de negociações do mercado de criptomoedas acontece nas corretoras, que é onde o USDT é usado. “Boa parte (das negociações) ocorre no OTC (mercado de balcão). Estima-se que isso (mercado de balcão) represente duas ou três vezes o que vemos registrado nos livros de oferta das exchanges”, falou.

Ainda segundo Ulrich, se algum problema for encontrado na Tether no futuro, quem perderia mercado seria o USDT, e não o bitcoin, que continua com os mesmos fundamentos no momento em que foi criado.

“No final das contas, tenho muito mais receio de segurar o tether do que o bitcoin, porque se em algum momento houver um evento desse tipo (fraude ou falta do devido lastro), pode haver corrida para fugir do tether, e não do bitcoin”.

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