Antes de ser nacionalizado pelo Egito, o Canal de Suez — que virou foco da atenção mundial após ser totalmente bloqueado pelo cargueiro Evergreen, liberado nesta segunda-feira (29) – pertenceu a uma empresa francesa de capital aberto chamada Suez Canal Co e teve ações negociadas em diversos mercados.
Os títulos foram emitidos no final no século XIX e ajudaram a financiar a empreitada. Anos mais tarde, as ações da companhia figuravam entre as maiores por capitalização de mercado na Bolsa de Paris e na de Londres, que até a Primeira Guerra Mundial era o centro financeiro do mundo. Investidores chegaram a ter rendimento anual de 7,55% em um ano, segundo dados históricos compilados pelo Global Financial Data.
Entretanto, por causa de conflitos e problemas financeiros ocorridos no Egito, o então presidente do país, Gamal Abdel Nasser, acabou nacionalizando a Suez Canal Co. em 1956, deixando investidores — a maioria do Reino Unido e da França — a ver navios.
Abertura da Suez Canal Co
Construir uma rota entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho, onde o Canal de Suez está localizado, fazia parte dos desejos dos governantes de países da Europa e da Ásia. Em 1856, o diplomata francês Ferdinand Marie obteve uma concessão do governo do Egito para criar a Suez Canal Co. A companhia abriu capital em 1858 e emitiu 400 mil ações a US$ 100, recebendo um valor de mercado de US$ 40 milhões.
No início, o governo egípcio detinha 44% das ações, enquanto investidores franceses e do Egito tinham o restante. Em 1875, por causa de problemas financeiros, o país africano vendeu suas ações para o Reino Unido, que virou o maior acionista da empresa.
O que houve com as ações
A possibilidade de mudar o cenário do comércio mundial fez com que no final do ano de 1900 as ações da Suez Canal Co. figurassem na lista das maiores por capitalização negociadas na Bolsa de Valores de Paris e de Londres. De acordo com Global Financial Data, a empresa era a principal listada na bolsa da capital francesa.
Além disso, os títulos da companhia também representavam 75% da capitalização de mercado de todas as ações egípcias negociadas naquela época.
Entre 1856 e 1969, as ações do Egito – puxadas principalmente pela Canal Suez Co. — aumentaram de preço a uma taxa anual de 2,31% e 7,55%, resultando em um rendimento de dividendos de 5,12% para os acionistas. O valores atingiram picos em 1929, 1937, 1945 e 1955.
No entanto, em 1956, o então presidente do país, o militar Gamal Abdel Nasser, decidiu nacionalizar o canal para financiar a construção de uma barragem no Rio Nilo.
Reino Unido e França — países com maior número de acionistas na empresa — não gostaram da atitude e atacaram o Egito com suas tropas militares. O episódio ficou conhecido como ‘A Crise do Canal de Suez’. Israel também participou da briga e chegou a invadir o Sinai, uma península montanhosa e desértica do país.
Na época, a manobra das três nações não foi muito bem-vista no cenário global. Por isso, entre outubro e novembro daquele ano o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) entrou na disputa, resolveu o conflito e ficou do lado do Egito, reconhecendo a soberania da nação sobre o trecho marítimo.
Foi só em 1962, seis anos depois da nacionalização da Suez Canal Co., que os acionistas da empresa conseguiram enfim receber os valores pelo títulos. As taxas, no entanto, não foram nada boas, visto que as ações praticamente já não tinham valor e não eram mais negociadas em bolsas.