“Eu não fiquei rico e muito menos me envolvi com qualquer pirâmide financeira”, disse o youtuber de criptomoedas Douglas Malvaccini em um vídeo publicado no início de fevereiro. Nele, comentou sobre rumores que surgiram após ele ter deletado subitamente seu canal no Youtube, Crypto Tchaps, em meados de janeiro. Na ocasião, ele apenas agradeceu seus 100 mil inscritos e se despediu sem explicar o motivo.
Dias antes, ele havia gravado outro rápido vídeo anunciando o fim do canal e apagado tudo pouco tempo depois. Ao mesmo tempo, Malvaccini também trocou o número de telefone, saiu de grupos de Whatsapp do mercado brasileiro e encerrou contas nas redes sociais ligadas à marca que criou.
Nesse penúltimo vídeo colocado no ar no dia 21 de janeiro, ele agradeceu seus seguidores pelos três anos de canal, exibiu a placa que ganhou do Youtube e se despediu.
Questionado pelo Portal do Bitcoin, Malvaccini disse por email que fez o breve retorno apenas para evitar que falsas acusações ganhassem força e que a decisão de encerrar o canal tinha sido “bastante pessoal” e que “não está ligada a nada de errado”. Contudo, se absteve de entrar em detalhes.
A decisão de Malvaccini ganhou algumas versões negativas, conforme ele mesmo explicou. No entanto, à reportagem, ele não quis citar quais acusações ele sofreu e ressaltou que se tratava “simplesmente teorias sem fundamento nenhum, pequenos rumores que estão surgindo por algumas pessoas (provavelmente haters)”. No último vídeo, afirma que foi uma decisão pessoal e que não era o caso de divulgar no Youtube.
Em um grupo de Whatsapp de youtubers brasileiros chamado Criptubers, ele também não teu muitos detalhes. Apenas se despediu, disse que nada havia acontecido e saiu.
“Ele não disse nada no grupo quando perguntamos”, disse à reportagem um youtuber, que pediu para não ser identificado. “Eu achei estranho, mas talvez ele só estivesse cansado mesmo”.
Vale lembrar que o Crypto Tchaps era um dos canais mais acompanhados pela comunidade do bitcoin no Brasil, por conta do seu noticiário quase que diário. Ele também fazia tutoriais sobre hard wallets, mineração, entre outros. Um canal com tantos seguidores em um mercado de nicho poderia valer até R$ 100 mil.
Veja o último vídeo:
Youtuber e a Electroneum
Malvaccini fazia tutoriais para seus seguidores. Um deles, por exemplo, foi sobre uma criptomoeda chamada Electroneum (ETN), cuja empresa homônima tem sede em em Maidstone, na Inglaterra.
No ano passado, o projeto formou uma comunidade no Brasil. Surgiu então um aplicativo chamado ‘Saque Virtual’ que prometia trocar ETN por BRL, com depósito diretamente na conta bancária do usuário.
Supostamente o software foi criado pelo brasileiro L.W.P. Em maio do ano passado a Electroneum cessou a mineração da criptomoeda e o Saque Virtual passou a ficar indisponível.
Devido a isso, todos os pedidos de saques ficaram travados. Desde então, o nome do desenvolvedor, bem como seu CPF e fotos circulam pela internet como o responsável por desabilitar o app e reter todos os fundos dos clientes. Não se sabe, contudo, a quantidade de ETNs que ele tenha se apoderado.
Como Douglas fazia publicações sobre mineração da Electroneum, a reportagem o questionou se ele teria sofrido retaliações de usuários da ETN lesados e se isso teria sido um dos motivos do fim do canal.
“Isso não tem nada a ver com o término do canal não, como eu disse, foi uma decisão minha ligada com a minha vida pessoal e posso te afirmar que não está relacionada a nada de errado ou ilegal”, disse.
Ele explicou que ficou sabendo do app Saque Virtual através de alguns comentários no Youtube.
“Até me pediram para trazer um vídeo a respeito na época mas nem cheguei a pesquisar a fundo, porque eu já tinha um vídeo ensinando a converter Electroneum para Bitcoin e outro vídeo ensinando a converter Electroneum para Reais, ambos utilizando a KuCoin (exchange bem confiável)”, escreveu, acrescentando:
“A única vez que eu falei sobre o Saque Virtual no canal foi uma notícia justamente quando ele deu calote na galera”, disse. Ele compartilhou o referido vídeo com a reportagem, que constatou as afirmações.
Electroneum desconhece app
Procurada para comentar o assunto, a Electroneum disse que nunca ouviu falar do app ‘Saque Virtual’ e que não faz ideia do que se trata.
“Não lançamos nenhum outro aplicativo além do nosso próprio, que é o aplicativo Electroneum. Muitas empresas nos listaram unilateralmente porque temos milhões de usuários em todo o mundo”, disse a empresa em resposta ao email enviado pela redação na quinta-feira (11).
Sobre o suposto desenvolvedor do aplicativo, a empresa disse: “Também não temos ideia de quem é L.W.” — o nome foi abreviado para preservar sua identidade. A empresa acrescentou que para quaisquer dúvidas os usuários de ETN devem procurar nos canais oficiais electroneum.com e anytask.com.