O brasileiro que trocou a carreira na universidade pública pela Web3 após conhecer o Bitcoin

O professor filosofia Jônadas Techio mudou de carreira após mais de uma década para realizar o sonho de criança: ser um cientista
Professor Jônadas Pechio, PhD em Filosofia

Jônadas Pechio é PhD em Filosofia (Foto: Divulgação)

Há cerca de um ano, o PhD em Filosofia Jônadas Techio, de 42 anos, trocou o manejo do giz na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pelos complexos códigos da computação e da criptografia. A mudança, idealizada na Alemanha, em 2018, quando ele conheceu o Bitcoin a Blockchain, veio realizar o seu sonho de criança: ser um cientista.

“Eu lembro que a primeira vez que os professores me perguntaram na escola o que eu queria ser quando crescesse, a minha resposta era sempre a mesma: ‘cientista’”, afirmou Techio, durante conversa com o Portal do Bitcoin.

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Claro, ser PhD em filosofia também faz de Techio um grande especialista. No entanto, o que passava em sua cabeça aos sete anos, na pequena cidade de Casca (RS) durante nos anos 1980, era algo mais prático, como desmontar brinquedos e objetos, por exemplo.

“Eu era aquele cara que fica desmontando tudo que vê pela frente, para tentar montar de novo. Era a minha diversão desmontar e montar brinquedos. Eu era super fascinado por tecnologia”, explicou. No entanto, Techio, que vive atualmente em Porto Alegre, só foi conseguir botar a mão em um computador quando começou a trabalhar, por volta dos 15 anos.

Atualmente, Techio de apresenta como arquiteto em blockchain com foco em Web3. Ele atua como gerente de produto da Axur, plataforma de cibersegurança focada em Business-to-Business (B2B).

Outras atividades são a de investidor-anjo na aceleradora de startups WOW, e de pesquisador na iCoLab — Instituto Colaborativo em Blockchain, que ele afirma ter sido uma das portas de entrada para o setor. Recentemente, também ajudou a criar o ‘Programa de Pré-Aceleração Web3 Business’.

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Filosofia da Tecnologia

Sobre a escolha da Filosofia como campo de carreira, ele diz que sempre se foi no ensino médio que começou a se aprofundar na área, por que achava que ela seria uma porta de entrada para a maioria de seus interesses. Conseguiu então juntar o lado teórico com a paixão por tecnologia.

“Eu sempre me interessei muito pela filosofia da tecnologia — como que a tecnologia muda a nossa forma de ser, de nos relacionarmos com o mundo e as pessoas”, disse Techio. Afirmou também que sempre foi “muito fã de software livre” e que era “um evangelizador do Linux”, sugerindo a seus amigos a usarem o sistema operacional.

Para ele, “estamos na era tecnológica onde tudo nas nossas vidas tem que ser otimizado e o mais eficiente possível. É uma visão de mundo nova, que não existia na idade moderna”.

Jônadas Techio publicou vários artigos e livros na sua área:  ‘The Threat of Solipsism Wittgenstein and Cavell on Meaning, Skepticism, and Finitude’ e ’Filosofia e cinema: uma antologia’, em parceria com Flávio Williges, são algumas de suas obras.

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Transição de carreira

A transição de carreira, que já vinha a algum tempo sendo idealizada pelo professor, ocorreu de fato em março do ano passado. Mesmo confortável financeiramente, ele pediu exoneração do cargo de professor da UFRGS, onde havia se tornado bacharel e mestre.

Techio afirma que o objetivo não era financeiro, mas sim, adquirir conhecimento, aplicando o que havia estudado em arquitetura de blockchains e segurança cibernética.

Não foi algo repentino. Além de já ter feito pós-graduação em Segurança da Informação no Senac, o Currículo Lattes do professor mostra que ele acumulou nos últimos anos dezenas de cursos sobre tecnologia e blockchain, além de certificados de participação em eventos do universo cripto pelo mundo.

Toda essa formação tecnológica ainda se junta ao conhecimento em filosofia, vindo de um doutorado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e pós-doutorado pela Universidade de Chicago, nos EUA.

Mas foi na Alemanha que toda essa mudança começou.

Bitcoin na Alemanha

Techio conheceu o Bitcoin quando morava no país europeu, em meados de 2018.

“As pessoas não gostavam de usar cartões de crédito, de débito; era no dinheiro vivo — e havia uma certa desconfiança do Estado. O medo deles era que os cartões fossem controlados por alguém”, disse ele, ressaltando que o comércio de Berlim foi um dos primeiros lugares a ter vendas por criptomoeda.

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“Foi quando eu comecei a colocar questões filosóficas sobre o Bitcoin, que é um dinheiro que não depende do Estado. Como é que pode? Dinheiro é uma coisa criada por um país; já esse novo é descentralizado…”, explica.

“O dinheiro é uma construção social, sempre foi. E nesse sentido, quando me dei conta disso, as criptomoedas começaram a fazer muito mais sentido. Foi então que comecei a estudar blockchain e a partir daí comecei a entrar nessa toca de coelho — e acho que não sai até hoje”.

Techio disse que não do que reclamar dos 11 anos de trabalho docente — ao contrário, teve muitos pontos positivos. Mas ele sentia que precisava de algo novo. Então, alguns fatores o ajudaram a decidir.

“Eu quase não tirava férias; quando tirava, férias eram trabalho, não tinha noite, fim de semana. Tinha que ler uma tese, ou se preparar para uma banca… Então essas coisas acabaram pesando bastante. Era uma questão de qualidade de vida por um lado e novos desafios profissionais por outro, interesse pela tecnologia, vários fatores que acabaram se conjugando e me levando a dar esse salto no final das contas”.

Bitcoin e o risco Terra LUNA

Techio disse que começou a comprar Bitcoin só quando se sentiu seguro.

“Eu não comecei a comprar imediatamente, pois levei um tempo para entender. Quando eu me senti seguro, que eu entendi, eu comecei. Deve fazer uns três anos que eu compro [BTC] com alguma frequência”.

Techio nega que tenha caído em algum golpe – mas reconhece que teve sorte algumas vezes. Uma delas foi em relação à falida criptomoedas LUNA, do projeto Terra, que entrou em colapso e ruiu no ano passado.

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“Todo mundo que eu ouvia, em podcast, em canal no YouTube, investidores que eu respeitava, estavam todos falando muito bem da [Terra] LUNA. Eu tava para investir, mas como sempre eu demoro, dei sorte eu não investi — e o projeto acabou explodindo”.

Sobre o ebook que Techio escreveu para a plataforma Axur, Riscos Digitais em Blockchain e Web3’, a reportagem perguntou para ele “qual o tipo de exploração no meio cripto que é mais difícil de prevenir?”.

“Ataque de engenharia social”, respondeu. “Porque eles se baseiam em fraquezas da psicologia humana”. Sobre o tema, ele deixou o seguinte conselho aos iniciantes no mercado: “Tome muito cuidado com todo tipo de comunicação e faça sempre a sua pesquisa”.