A taxa básica de juros (Selic) está próxima de seu menor nível da história, em 2,75% ao ano. Nesse cenário, a poupança, considerada o investimento mais seguro, está rendendo apenas 1,93% ao ano. Ou seja, muito abaixo da inflação de 4,6% projetada para 2021, segundo último boletim do Banco Central.
Em resumo, esse povo está perdendo muito dinheiro, inclusive quem optou por CDB, os certificados de depósito bancários, LCI, as Letras de Crédito Imobiliário, ou LCA, de Crédito Agrário. Sem dúvida, grande parte dos fundos de investimento de renda fixa também estão no prejuízo.
Quantos brasileiros ainda investem em poupança?
Segundo dados da Anbima, a poupança é usada por 84% dos brasileiros. Muito distante, em segundo lugar, ficam os fundos de investimento, com 6% dos poupadores.
De acordo com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), a poupança reúne mais de 234 milhões de contas ativas, com um total de quase R$ 1 trilhão em depósitos. Cabe lembrar que nesse número são incluídas pessoas físicas e jurídicas.
Quantas destas contas são milionárias?
Cerca de 22.000 contas-poupança possuem mais de R$ 1 milhão. Na média, cada um dos poupadores milionários, que representam 0,01% das cadernetas existentes, mantém R$ 2,1 milhões guardados.
Certamente ainda existe uma boa parcela da população com excessiva aversão a risco, embora com um patrimônio relevante. No entanto, assusta o fato de existirem contas com mais de 100 ou 250 mil reais na poupança.
Quanto esse povo perde por ano?
Ao analisarmos os dados dos últimos 12 meses, encontramos uma realidade estarrecedora. As aplicações de renda fixa ficaram abaixo da inflação.
A diferença é ainda mais gritante se levarmos em conta o IGP-M, usualmente utilizado no reajuste de aluguéis residenciais, Este indicador leva em conta o custo das famílias, construção civil, e agronegócio, e acaba mais diretamente impactado pelo dólar.
Desse modo, é correto afirmar que os investidores de poupança, e renda fixa em geral, perderam cerca de 16% nos últimos 12 meses, olhando uma média dos indicadores de inflação.
Em resumo, só as contas bilionárias tiveram uma perda de R$ 7,52 bilhões de poder de compra por conta do excesso de conservadorismo e falta de informação.
Por que não saem da poupança?
Medo e comodismo, embora a sensação de proteção não corresponda à realidade. Outro fator que influi é a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) nessas aplicações de renda fixa, exceto aquelas realizadas através de fundos. Caso o banco tenha um problema de insolvência, os aplicadores recebem até R$ 250 mil por CPF.
Na prática, a única garantia que essas pessoas têm é que vão perder dinheiro. Embora nominalmente a quantia final seja um pouco maior, a cesta de bens e serviços que pode ser adquirida, ao final do ano, é menor. Em suma, mais um clássico exemplo de falsa segurança.
Sobre o autor
Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Desde maio de 2017, faz arbitragem e trading de criptomoedas.