Milícias intensificam uso de criptomoedas, mas crime ainda representa menos de 1% de todas transações cripto 

Apesar do aparente interesse das milícias pelos ativos digitais, a estimativa é que menos de 1% de todas as transações de criptomoedas do mundo derive do crime
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As milícias do Rio de Janeiro estão utilizando cada vez mais as criptomoedas para lavagem de dinheiro vindo do crime organizado, afirmou a Polícia Civil do estado ao jornal Folha de S. Paulo

Segundo apurado pelo jornal, o uso de ativos digitais começou a ser visto como uma opção para substituir as remessas ilegais de dólar e por isso ganhou o apelido de “cripto-cabo”, em comparação ao “dólar cabo” — método de enviar e receber na moeda norte-americana sem envolvimento do governo em nenhuma etapa, com o uso dos chamados “doleiros”. 

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As criptomoedas assumiram esse papel por eliminarem ainda mais etapas. “No chamado cripto-cabo, com o uso de criptoativos, basta um telefone e internet para realizar uma remessa além das fronteiras”, disse à Folha o delegado Vytautas Zumas, organizador do Núcleo de Operações com Criptoativos da Coordenação Geral de Combate ao Crime Organizado do Ministério da Justiça. 

A Polícia Civil não deu números gerais sobre o uso de criptomoedas pelo crime organizado, mas a reportagem citou um caso no qual um homem chamado Cléber Oliveira da Silva movimentou R$ 93 milhões como resultado de lavagem de dinheiro para Luís Antônio da SIlva Braga, conhecido como Zinho e apontado como o maior miliciano do Rio de Janeiro. 

O advogado de Zinho disse ao jornal que seu cliente não tem envolvimento com o dinheiro. A defesa de Oliveira da Silva não quis comentar. 

Outro caso envolve o maior rival de Zinho: Danilo Dias Lima, conhecido como Tandera. Segundo o Ministério Público, o criminoso operou por meio de um intermediário chamado Marcelo Morais dos Santos, que abriu empresas para recebimento de dinheiro frutos de extorsões e entre setembro de 2022 e março de 2023 gerou remessas de R$ 168 milhões em bitcoins.  

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O que dizem os dados on-chain

Apesar do aparente interesse das milícias pelos ativos digitais, a estimativa é que menos de 1% de todas as transações de criptomoedas do mundo derive do crime.

Os dados são da empresa Chainalysis, referência no setor de análise blockchain. “A atividade ilícita em criptomoedas continua representando uma pequena parcela do volume total, inferior a 1%. Também vale a pena lembrar que a participação do crime em todas as atividades cripto ainda está em tendência decrescente”, diz trecho do estudo Crypto Crime Report publicado em janeiro pela Chainalysis.

Este dado foi relembrado pela ABCripto (Associação Brasileira de Criptomoeda) em entrevista a Folha de S. Paulo. A associação apontou que o uso ilícito de cripto é menor do que outros mercados, como de petróleo e outro ativos. 

A ABCripto também ressalta que há legislação regulando o setor com o intuito de diminuir ainda mais o uso indevido dos ativos digitais: “A lei dispõe de mecanismos, dispositivos e punições no combate à prática de crimes com criptoativos, incluindo lavagem de dinheiro e pirâmides financeiras.”