Um novo estudo publicado nesta quarta-feira (4) pela Universidade de Cambridge e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, aponta que o ecossistema de criptomoedas na região da América Latina e do Caribe — a ALC — registrou um crescimento significativo de 2020 a 2022.
Entre junho e agosto do ano passado, uma combinação de 80 empresas privadas e instituições do setor público foi pesquisada, o que gerou o relatório “Ecossistema de Criptoativos na América Latina e no Caribe“.
A análise avaliou dados do Atlas Cambridge do Ecossistema Fintech, uma visualização dinâmica da indústria cripto. Ele registrou 175 empresas na região em 2022, das quais 100 estavam sediadas ou incorporadas na ALC, mostrando que a indústria de empresas cripto mais que dobrou desde 2016.
Embora o interesse pelas criptomoedas tenha permanecido forte ao longo do tempo, o relatório descobriu que as motivações que impulsionam os investidores mudaram ao longo dos anos.
A especulação liderou o caminho antes de 2020, com os participantes da pesquisa respondendo que eram principalmente impulsionados pelo lucro com o aumento dos preços dos ativos digitais. Hoje em dia, a cobertura da inflação e da desvalorização é considerada a razão mais importante para comprar criptoativos, seguida de envio de remessas e, em terceiro lugar, os pagamentos transfronteiriços.
Brasil lidera mercado cripto na região
De acordo com a pesquisa, Brasil, Argentina e México abrigam o maior número de empresas cripto, com a primeira liderando o caminho nos três principais segmentos de mercado. O Brasil é responsável por 74% das exchanges na região, 41% das empresas de pagamento digital e 27% das soluções de custódia de criptoativos.
A regulamentação foi o principal ponto focal da pesquisa e é considerada pela maioria dos entrevistados como o principal obstáculo para uma indústria cripto maior e mais desenvolvida na região.
Andrés Junge, cofundador da empresa de compliance cripto, Notabene, ecoou este último ponto. Ele disse ao Decrypt que a região é “mais frouxa” do que nossas contrapartes do hemisfério norte, o que se traduz em “limitar as massas de acessar os criptoativos”.
Junge construiu a primeira exchange de Bitcoin do Chile, juntamente com a plataforma de identidade autosoberana de Ethereum, a uPort. Ele considera que a indústria cripto na região “não é muito grande”, mas é otimista em relação ao ecossistema: “Vejo muito talento e entusiasmo das comunidades.”
Esta opinião é partilhada por Romina Sejas, que organiza a ETHLatam e a ETHKipu e é um membro central da SEED Latam (uma organização que promove o pensamento crítico em relação ao ambiente Web3).
Ela disse ao Decrypt que, embora o número de novos utilizadores possa ter diminuído, ela vê a indústria local “crescendo e ficando mais forte”. Sejas acrescentou que há um impulso de desenvolvedores Web3 para “profissionalizar a indústria” e sair do nicho.
Com seis anos na indústria, Sejas disse que está surpresa com a quantidade de talentos que abundam no ecossistema – tanto na região como no mundo. Ela explicou como a América Latina pode servir como um “teste de estresse” antes de se tornar global, graças aos desafios inerentes a uma região emergente.
Quanto a como as coisas mudaram desde que o relatório foi pesquisado no ano passado, Junge apontou que o inverno cripto ainda está acontecendo. “Não vejo muitas novas empresas querendo entrar no setor de criptoativos”, disse ele ao Decrypt, embora seja otimista por outro ângulo.
“O que vejo é cada vez mais interesse das instituições financeiras tradicionais tentando encontrar seu caminho com ativos digitais”, concluiu.
*Traduzido por Gustavo Martins com autorização do Decrypt.
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