Menos de 1% de todas as criptomoedas que vieram parar no Brasil ao longo de 2021 foram utilizadas em alguma atividade criminosa, revelou um estudo da Chainalysis compartilhado em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (10).
A estimativa da empresa de segurança em blockchain é que entre janeiro e dezembro do ano passado, US$ 140 bilhões (R$ 707 bilhões) em criptomoedas foram adquiridos por investidores brasileiros.
Esse número expressivo coloca o Brasil como o maior mercado de criptomoedas da América Latina e o 11º no mundo, à frente de Japão, Austrália, Holanda e Ucrânia, como mostra o gráfico abaixo:
“O Brasil é um mercado muito ativo no mundo e se comporta de forma diferente aos outros países da região. O Brasil tem um mercado um pouco mais sofisticado, onde a maior atividade de criptomoedas aqui acontece nas exchanges (53%). Uma outra parte significativa (44%) está vindo de DeFi”, avaliou Brianna Kernan, account executive da Chainalysis no Brasil.
Os dados também mostram que o Brasil não tem um mercado tão forte de P2P, movimentando US$ 90 milhões dessa forma em 2021. Segundo a Chainalysis, isso é um sinal de um mercado mais “sofisticado” do que vizinhos como Argentina, Colômbia e Venezuela, que utilizam P2P para mandar e receber dinheiro para o exterior ou para comprar criptomoedas para se proteger da inflação em seus países.
A executiva indicou como outro ponto positivo do mercado brasileiro é uma atividade ilícita com criptomoedas “muito baixa”, menor de 1%.
Na edição deste ano do tradicional Crypto Crime Report da Chainalysis, o Brasil sequer foi mencionado, mas Kernan trouxe dados que detalham para quais serviços ilícitos ou de alto risco esse 1% de moeda foi parar.
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Na maioria dos meses de 2021 analisados, o destino majoritário dessas criptomoedas foram serviços de mixing, utilizado para esconder o rastro de uma moeda “suja” na blockchain.
“Esse serviço de mixing é muito caro, então ninguém vai usar mixing sem motivo, só pela privacidade. É um serviço classificado por nós como de alto risco porque na maior parte do tempo é utilizado na lavagem de dinheiro”, explica Kernan.
Outra categoria arriscada que apareceu na análise foram a interação com exchanges de alto risco e golpes. Outros categorias de risco, como mercado negro, não aparecem na análise do Brasil.
O trabalho da Chainalysis no Brasil
Durante a coletiva de imprensa, a Chainalysis não entrou em detalhes sobre as investigações que desenvolve no Brasil em parceria com autoridades locais e agentes do Estado, uma vez que são informações confidenciais.
Mas as representantes da empresa afirmaram que estão estreitando os laços com empresas da região, citando a corretora Mercado Bitcoin como uma das parceiras públicas. Outra linha de atuação são investigações específicas que a empresa é contratada para fazer para instituições financeiras do país.
“Um caso bem importante que resolvemos no passado foi com um banco grande daqui. Foi um hack, o banco perdeu um dinheiro e ele foi para uma exchange internacional. Nossos experts de investigação conseguiram achar o dinheiro de novo”, contou Kernan.
Embora não tenha divulgado o nome do banco, a maior probabilidade é que ela se refira ao Santander que contratou a Chainalysis para rastrear R$ 30 milhões que uma quadrilha roubou de uma conta do banco em abril de 2020 e transformou em bitcoin — caso conhecido como a fraude Gerdau.