Marcelo Tas, que fez propaganda para Atlas Quantum, tomou calote de R$ 800 mil da empresa

Imagem da matéria: Marcelo Tas, que fez propaganda para Atlas Quantum, tomou calote de R$ 800 mil da empresa

Jornalista e apresentador (direita) durante o vídeo que fez para a empresa em parceria com o G1 (Foto: Reprodução)

“Nós estamos falando de 60% ao ano, 5% ao mês, que é o que a poupança leva um ano?”, diz com um sorrisão no rosto o ator e jornalista Marcelo Tas em um comercial da Atlas Quantum veiculado em março de 2019.

Seis meses depois, o sorriso do antigo líder da bancada do CQC deve ter se invertido. A empresa, que se serviu da credibilidade do jornalista, deu um calote em milhares de clientes. Tas perdeu pelo menos 19,04 bitcoins (cerca de R$ 800 mil), conforme os dados pedidos de saques de clientes da Atlas obtidos pela reportagem.

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Ao Portal do Bitcoin, Tas confirmou que tem dinheiro preso na plataforma, mas negou que o valor fosse tão alto. “Confirmo que, como muitos, fiquei com recursos retidos na Atlas. O valor é bem inferior ao mencionado”, disse por email. O apresentador do Provocações, contudo, não revelou a quantia.

A reportagem checou os valores pedidos de pelo menos 10 pessoas, todos baseados nas informações das mesmas tabelas. A única pessoa a negar que o valor estivesse correto foi Marcelo Tas.

O saque do apresentador foi solicitado no dia 13 de setembro. Apenas um outro pedido, de 0,019 btc (menos de R$ 900), consta como pago na tabela. Por motivos de segurança, a wallet do jornalista não será revelada.

Globo, Atlas Quantum e Marcelo Tas

O vídeo foi veiculado no dia 28 de março do ano passado e ainda pode ser visto na página do Facebook da empresa. A página do G1 em parceria com a Atlas Quantum foi retirada do ar.

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No vídeo, Tas, que também é membro do conselho de professores da faculdade de economia e negócios IBMEC, conversa com Larissa Wanderley, antiga coordenadora de marketing da empresa.

Questionado, Tas disse que não fez propaganda para a Atlas. “Participei como entrevistador, contratado pelo G1- portal de notícias do grupo Globo, de um conteúdo jornalístico patrocinado”, afirmou.

Disse também que teve “total liberdade editorial para construir, de forma independente, um conteúdo” e que foi uma entrevista sobre assuntos técnicos. “No conteúdo, não há destaque para qualquer empresa em particular”, escreveu.

Não é o que mostra o vídeo abaixo. A conversa é voltada para o funcionamento da Atlas. Além disso, ao tratar da valorização trazida pela empresa em 2018, o diálogo cria a sensação de que o cliente teria ganhado com dinheiro na empresa — o que é falso.

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Larissa diz que naquele ano os rendimentos da plataforma foram de 62%. Ou seja: quem depositou 1 bitcoin em janeiro, ficou com 1,62 após 12 meses. O que Tas deixa de fora é a queda de 70% da criptomoeda em 2018. Isso significa que, em reais, que o que era R$ 48,1 mil virou 23,9 mil — uma perda de 50%. Nenhuma pergunta foi feita sobre isso.

Comentário na CBN

Embora tenha tomado um calote de quase um milhão de reais, Tas, sempre tão prolifico em comentários, não tocou no tema por meses — nem no Twitter nem Jornal da TV Cultura. Quando teve a oportunidade, não falou do próprio caso.

No final de novembro de 2019, pirâmides financeiras com criptomoedas foram o tema de seu comentário para a Rádio CBN.

Após uma troca de amenidades com os colegas de microfone, Tas fez a devida ressalva de que o Bitcoin em si não era uma pirâmide, mas que havia um aumento da quantidade de processos abertos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contra empresas suspeitas de pirâmides financeiras.

Exatamente o caso da Atlas Quantum que, após denunciada, recebeu um stop order da CVM no qual foi proibida de fazer propaganda e ofertar os serviços. O caso precipitou uma corrida de saques à plataforma que fez ruir todo o esquema criado por Rodrigo Marques e Fabrício Sanfelice.

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No rádio, o apresentador diz: “O bitcoin é muito novo. Por isso mesmo as pessoas que querem pegar os incautos, usaram esta palavra porque está na mídia, porque parece uma coisa muito inovadora e tal”.

E prossegue: “Mas temos que tomar cuidado porque desta vez estamos falando do uso desta palavra, mas para fazer uma coisa muito antiga, que é prometer lucros rápidos e altos, enfim, aquela promessa, o famoso conto do vigário”.

Embora estivesse falando do próprio caso, em nenhum momento Tas falou do seu problema ou mesmo da Atlas Quantum.

Confira abaixo a entrevista com Marcelo Tas:

Portal do Bitcoin – Pela tabela de pedidos de saque da Atlas Quantum, é possível ver que você tem 19 bitcoins presos na plataforma. Você confirma? 
Marcelo Tas
— Confirmo que, como muitos, fiquei com recursos retidos na Atlas. O valor é bem inferior ao mencionado por você.

Também há o registro do recebimento de 0,019 btc. É correto? Você recebeu algo mais?
Comecei a investir na Atlas no primeiro semestre de 2019. Retirei boa parte do investido antes da falta de liquidez da empresa. 

Em março de 2019, você fez uma propaganda para a Atlas Quantum. Quanto você recebeu por ela? Foi em bitcoin?
Nunca fiz propaganda para a Atlas. Participei como entrevistador, contratado pelo G1- portal de notícias do grupo Globo, de um conteúdo jornalístico patrocinado pela Atlas. Tive total liberdade editorial para construir, de forma independente, um conteúdo que tinha como foco o funcionamento do conceito de blockchain, com ênfase particular no Bitcoin. Entrevistei uma profissional da Atlas, na sede da empresa, sobre assuntos absolutamente técnicos. No conteúdo, não há destaque para qualquer empresa em particular. Sei que houve algumas ações comerciais diretas, mas não participei de qualquer uma delas.

Você acha que a Atlas Quantum era um esquema de pirâmide financeira ou um ponzi? 
Para muitos, como eu, a Atlas representava uma plataforma segura de investimento em Bitcoin pois vinha demonstrando resultados positivos de forma continuada. Com o tempo, a empresa mostrou que não estava operando de forma saudável. Espero que a Justiça determine com agilidade qual foi o problema com a empresa, os prejudicados sejam ressarcidos e os responsáveis devidamente punidos.

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No final de novembro, você fez um comentário na CBN sobre pirâmides que usam o bitcoin como chamariz para os incautos. Você se considera um desses incautos? 
Investi em Bitcoin pela primeira vez em 2017, com a Foxbit. Continuo investindo porque vejo no Brasil um ecossistema de cripto com gente talentosa, honesta e competente. Procuro contribuir para que este ecossistema se desenvolva de forma saudável e que as pessoas tomem conhecimento da nova economia gerada em torno do tema blockchain.

É importante inclusive saber que a transformação vai muito além do sistema financeiro, como a que já ocorre de forma robusta na área de logística, por exemplo. Sabemos que todo investimento é um risco. Com a Atlas, entendo que a maior parte das pessoas prejudicadas, como eu, acreditou que era um projeto seguro. Hoje, conhecendo melhor outros projetos, consigo avaliar que, como tantas outras pessoas, fui incauto com a Atlas.

Não conhecia suficientemente a empresa, não tinha consciência completa do risco. Apesar da minha questão particular, continuo recomendando a todos que continuem curiosos por Bitcoin e seus derivados pois são temas inovadores, criativos e promissores. Continuo torcendo para que o mercado em torno do tema se fortaleça. Só sugiro, com ênfase, a qualquer um que queira se aproximar, fazer tudo com calma e atenção extras. Como o conceito é complexo e o mercado é novo, há que se estudar bem o ambiente antes de encontrar o melhor parceiro na hora de investir ou de se aprofundar no estudo do conceito do blockchain.

*Colaborou Wagner Riggs