O mercado de ativos digitais segue em terreno negativo nesta quinta-feira (17), ainda sob o impacto da suspensão de saques na Genesis Global Capital, braço de empréstimos cripto da Genesis Global Trading.
Nas últimas 24 horas, o Bitcoin (BTC) tem queda de 1,4%, cotado a US$ 16.603,78, segundo dados do CoinGecko. O Ethereum (ETH) cai 2,8%, para US$ 1.214,48.
Em reais, o Bitcoin registra baixa de 0,45%, negociado a R$ 88.431,08, de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
A Binance.US, braço da maior exchange de criptomoedas do mundo nos EUA, se prepara para fazer um lance pela falida plataforma de empréstimos Voyager Digital, disse uma pessoa familiarizada com os planos ao CoinDesk. O token da Voyager (VGX) disparou com a notícia, com alta de 55%. A empresa, que quebrou depois da crise do projeto Terra, estava em conversas para ser adquirida pela FTX – o que não irá mais ocorrer após a quebra desta última.
A turbulência não parece intimidar novos players: A corretora global de criptomoedas Bitget, com sede em Singapura e que tem Lionel Messi como garoto-propaganda, desembarcou no Brasil e já aceita depósitos em reais por meio do Pix, de acordo com o InfoMoney. Na América Latina, a corretora também está presente na Argentina, Colômbia, México e Venezuela.
As principais altcoins mostram perdas, enquanto algumas operam com estabilidade, com destaque para Binance Coin (-2,6%), XRP (-0,6%), Dogecoin (-4,2%), Cardano (-3%), Polygon (-6%), Polkadot (-3,9%), Shiba Inu (-1,7%), Solana (+0,2%) e Avalanche (-2%).
Crise da FTX – Últimas notícias
Até 70 milhões do token BRZ, a stablecoin atrelada ao real, deverão fazer parte da massa em recuperação judicial em favor dos credores da FTX, informou o Valor. Os tokens eram de clientes e da própria FTX, que atuava como principal formadora de mercado do ativo.
A Genesis Global Capital, braço de crédito cripto da corretora Genesis Global Trading, suspendeu temporariamente os resgates e novas originações de empréstimos após o colapso da FTX, disse o CEO interino da Genesis Trading, A. Derar Islim, a clientes na quarta-feira (16). A Genesis Global Capital tinha US$ 2,8 bilhões em empréstimos ativos no terceiro trimestre. Islim afirmou que busca soluções para a unidade de crédito, como uma nova fonte de liquidez.
A Genesis Trading faz parte do conglomerado cripto Digital Currency Group (DCG), fundado em 2015 por Barry Silbert, e também controla o portal de notícias CoinDesk. “Esta decisão afeta o negócio de empréstimos da Genesis e não atinge as unidades de negociação ou custódia da Genesis. É importante ressaltar que essa decisão não tem impacto nas operações comerciais do DCG e de nossas outras subsidiárias integrais”, afirmou Amanda Cowie, vice-presidente de comunicações e marketing do DCG.
Mas a suspensão de resgastes reverberou na exchange cripto Gemini, dos gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss, que tem uma parceria com a Genesis para o programa de recompensas Earn. A equipe da Gemini informou que vai atrasar saques de usuários do serviço. Com medo de contágio, investidores sacaram US$ 485 milhões nas últimas 24 horas da Gemini, o maior volume entre as exchanges de criptomoedas, segundo dados da plataforma de inteligência blockchain Nansen.
O primeiro fundo de índice atrelado ao Bitcoin do Itaú Unibanco lançado na semana passada, o IT Now Bloomberg Galaxy Bitcoin ETF (BITI11), está sob custódia da Gemini, uma empresa que o banco destaca ter licença do Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (NYDFS) para operar. Procurado pelo Portal do Bitcoin, o Itaú não quis comentar se seu ETF de Bitcoin estaria seguro em uma eventual crise de liquidez da Gemini.
Também é a Gemini que faz a custódia das criptomoedas que compõem os ETFs da QR Asset Management, gestora de recursos da holding QR Capital. O QBTC11, considerado o primeiro ETF do Brasil com alocação integral em Bitcoin, está sob custódia da corretora americana, assim como os outros ETFs lançados pela QR Asset: o QETH11 — ligado ao Ethereum — e QDFI11 — atrelado a tokens DeFi. Ao Portal do Bitcoin, a empresa garantiu que “ativos custodiados pelos ETFs da QR Asset não estão expostos a risco relacionado à insolvência da Gemini”.
Ray Nasser, o CEO da Arthur Mining, empresa de mineração de criptomoedas, pretende coordenar uma ação coletiva para que investidores brasileiros que perderam mais de US$ 100 mil na FTX tentem recuperar parte do patrimônio. O executivo, cuja empresa não tem exposição à FTX, disse ao Portal do Bitcoin que não viu ninguém no Brasil adotando medida parecida e que trabalha com uma consultoria de Londres para saber qual o melhor caminho.
Celebridades que promoveram a FTX agora enfrentam uma ação coletiva. Tom Brady, Gisele Bündchen, Steph Curry e Larry David estão entre as estrelas nomeadas no processo, que foi aberto pelos advogados David Boies e Adam Moskowitz na Flórida. O The Block foi o primeiro a antecipar o processo.
O Congresso dos EUA quer investigar o papel da Binance, maior exchange cripto do mundo em volume, nos eventos que levaram à recuperação judicial da FTX, disse ao The Block o deputado Patrick McHenry, do Partido Republicano, que assumiu o controle da Câmara dos Deputados. “Isso é sério. Acho que este é um grande evento”, afirmou o deputado, reconhecendo que a Binance será um dos focos de uma audiência sobre o colapso da FTX anunciada para dezembro, que também quer ouvir Sam Bankman-Fried.
Leia Também
A Binance negou que tenha planejado prejudicar deliberadamente a rival FTX, depois de ser questionada por parlamentares no Reino Unido. Como prometido, a corretora enviou ao Comitê do Tesouro do Parlamento um documento de cinco páginas descrevendo a sequência de eventos que levaram à quebra da FTX.
Economista famoso por prever a crise de 2008 e notório crítico das criptomoedas, Nouriel Roubini fez duras críticas a Changpeng “CZ” Zhao, CEO da Binance, durante palestra na Abu Dhabi Finance Week na quarta-feira (16). O professor disse que CZ, que havia acabado de participar de um painel no mesmo evento, é uma “um bomba-relógio ambulante” e que irá causar mais danos que Sam Bankman-Fried, fundador da FTX.
Bitcoin hoje
A instabilidade no mercado de criptomoedas provocada pela quebra da FTX e a falta de grandes compradores deixaram o setor vulnerável, o que pode estender o inverno cripto até o fim de 2023, segundo relatório de David Duong e Brian Cubellis, analistas da exchange Coinbase.
Joe DiPasquale, CEO da BitBull Capital, gestora de fundos de hedge cripto, também acredita que os investidores precisarão de tempo para voltar a apostar com convicção.
“Neste ponto, qualquer novo desenvolvimento resultará em quedas temporárias, mas também não esperamos que os investidores fiquem chocados com mais ramificações relacionadas à FTX. Dito isso, a recuperação em relação a essas mínimas pode precisar de tempo, tanto em termos de capitalização de mercado quanto de sentimento geral”, disse DiPasquale ao CoinDesk.
Os últimos sete dias foram turbulentos, mas ainda assim o Bitcoin acumula ganho de 5,4% no período, segundo dados do CoinGecko. O Ethereum sobe quase 10% na última semana. Análise do CoinDesk indica que o BTC pode estar formando um piso ao redor de US$ 16.500, abaixo da faixa anterior entre US$ 19.000 e US$ 20.000.
No relatório, os analistas da Coinbase argumentam que o processo de recuperação judicial da FTX será acompanhado de perto, mas destacam que a retomada dos preços ainda depende muito do rumo dos juros nos EUA.
O Goldman Sachs prevê que a taxa básica dos EUA vai fazer pico em 5,25%, acima de sua projeção anterior de 5%. Em entrevista à CNBC na quarta-feira (16), a presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly, disse que um pico entre 4,75% e 5,25% para a taxa é razoável e que uma pausa no aumento dos juros está “fora da mesa”.
Nesse contexto, as vendas no varejo dos EUA registraram a maior alta em oito meses, sinalizando um consumo ainda aquecido, o que reforça a tese do banco central americano. Essa percepção tirou força das bolsas americanas na quarta-feira, mas nesta quinta (17), os índices futuros apontam uma abertura em alta.
Outros destaques
As exchanges cripto que operam no Brasil movimentaram 27.664,47 bitcoins em outubro, segundo levantamento do Cointrader Monitor divulgado pelo Valor Investe. O montante é 24,4% inferior ao negociado em setembro e 22% menor que no mesmo período do ano passado. No Brasil, a FTX transacionou 1.450,81 bitcoins no período e ocupava o quinto lugar no ranking, que continua liderado pela Binance, com 13.148,39 BTC negociados.
Exchanges descentralizadas (DEXs) de criptomoedas não são as únicas que vão bem após o colapso da FTX. Os fabricantes de carteiras físicas (“cold wallets”) Ledger e Trezor divulgaram forte aumento das vendas em meio à demanda de consumidores por soluções de autocustódia para proteger seus ativos.
O diretor de regulação do Banco Central , Otavio Damaso, afirmou que o produto final do real digital, que está em fase de elaboração pela autoridade monetária, precisa ter integridade e credibilidade para crescer de forma sustentável e perene, de acordo com o Valor. Damaso participou do “Encontro Lift: Real Digital” na quarta-feira (16), em Brasília.
Um dos maiores times de eSports (jogos online) do Brasil, a Furia, retirou a marca da FTX de sua camiseta. O Co-CEO da equipe, Andre Akkari, publicou no Twitter que, após uma conversa com os patrocinadores, ficou decidida a suspensão do contrato com a empresa, conforme o E-Investidor.
A Revista dos Tribunais, selo editorial jurídico da Thomson Reuters, lançou o livro “Criptoativos, tokenização, blockchain e metaverso: aspectos filosóficos, tecnológicos, jurídicos e econômicos”, juntamente com uma coleção de tokens não fungíveis (NFTs) da publicação. A obra coletiva conta com textos escritos por 94 especialistas brasileiros do setor.