A ideia de fazer um MBA fora do Brasil surgiu muito cedo na vida de Yasmin Hund e se consolidou conforme sua carreira no mundo corporativo ganhou forma. Ela sabia que iria depender de um financiamento robusto, mas quando chegou a hora da verdade, foi surpreendida: as condições de empréstimos e juros eram ainda piores do que imaginava.
Mas, nesse episódio, na casa do ferreiro o espeto foi de ferro mesmo. Hund trabalhava no setor de Fusões e Aquisições do MB (Mercado Bitcoin) e o CEO da corretora, Reinaldo Rabelo, acompanhava sua odisseia para viabilizar o MBA no exterior. O executivo então propôs: porque não usar a tecnologia blockchain e metodologia da tokenização para viabilizar esse projeto?
Em dias, a oferta estava desenhada. Yasmin Hund iria levantar R$ 570 mil vendendo direitos creditórios dos ganhos futuros de sua renda por meio de tokens na blockchain. Durante dez anos, Yasmin irá distribuir 20% de todos os seus ganhos (salário, bônus e afins) para detentores do Yascoin, token inspirado em seu nome.
Curiosamente, Rabelo teve a ideia e começou a falar com colegas do MB que a tokenização era a solução antes mesmo de falar com Hund.
“Eu estava com o contrato de empréstimo na mão, para assinar. Era uma segunda-feira e quando eu cheguei no trabalho, uma colega me disse: ‘Que legal o projeto de tokenização que você está fazendo com o Reinaldo’. Mas eu não tinha ideia do que ela estava falando”, conta Hund em entrevista ao Portal do Bitcoin. “Fui conversar com Reinaldo, ele deu as ideias, eu topei. Corri para detalhar o modelo econômico e na quarta estávamos anunciando o projeto num evento interno da empresa.”
Rabelo recorda que ficou sabendo que Hund pediu desligamento do MB para estudar fora e que ela comentou que o curso tinha um custo muito alto e as opções de financiamento eram caras.
“Comecei a desenhar uma proposta de tokenização que ajudasse ela e outros estudantes a captar os recursos com familiares, amigos e até outros interessados de um jeito que não fosse uma mera doação. Encontrei um caminho, validei com o time do MB Startups e ela topou ser o piloto nessa ideia”, conta o executivo.
Token teve sold out
Hund explica que o MB criou uma quantidade de 5.700 tokens no valor de R$ 100 e que só seguiria em frente se atingisse um valor mínimo de captação. “Ficar com um valor muito baixo da tokenização e ainda ter que fazer vários outros empréstimos fora, ficaria muito caro”, explica ela.
Sua expectativa era conseguir uma parte relevante, mas a realidade foi melhor do que qualquer sonho: os 5.700 tokens foram vendidos e a jovem irá fazer o MBA totalmente financiado por meio da tokenização.
A executiva explica que o sistema de retorno aos investidores opera em um sistema bom para ela e para eles: “Eu iria ter que pagar uma parcela fixa mensal com o empréstimo. No modelo da tokenização, eu irei distribuir 20% dos meus ganhos a cada seis meses. Os investidores não ficam limitados a ganhar apenas a parcela, se eu ganho mais, eles ganham mais. E eu não tenho uma obrigação mensal que seria muito difícil de conseguir se eu passar um tempo desempregada”.
Hund conta ainda que, independente do que ocorrer, irá devolver o dinheiro dos investidores com correção monetária de IPCA mais 3% ao ano. O máximo de retorno é duas vezes e meia o valor investido. O cenário base prevê pagamento de lucro de 17,4% em sete anos e o cenário otimista é de 19% em três anos.
Ela começa o curso em agosto desse ano na INSEAD, na França, com os estudos sendo em inglês. Esse MBA foi considerado o 2º melhor do mundo pelo ranking anual global do Financial Times.
Se tudo sair como o planejado, Yasmin Hund se forma no meio de 2025 e irá fazer o primeiro pagamento aos investidores no primeiro trimestre de 2026.
Alternativa para fortalecer mercado
A tokenização da Yascoin foi feita por meio de oferta privada, apenas para um grupo de colegas de trabalho, amigos e conhecidos. Por enquanto, como o panorama regulatório do Brasil, Rabelo afirma que essa foi a opção mais segura que o MB encontrou. Mas o CEO afirma que existe espaço para avançar.
“Há oportunidade de revisitar as regras da Resolução 88 da CVM para permitir ofertas públicas semelhantes. Uma vez que a PIP (Plataforma de Investimentos Participativos) é regulada e pode ser responsabilizada, esta deveria poder listar qualquer tipo de ativo de investimento que cumpra as obrigações de full disclosure de riscos, taxas e clareza quanto ao projeto objeto da tokenização. Isso iria, sem dúvidas, fortalecer o mercado de capitais brasileiro”, diz o executivo.
Ao ser questionado se acredita ser viável um mercado com milhares de “micro tokenizações” como a da Yasmin, na qual o investidor escolher qual faz mais sentido para sua realidade, Rabelo diz que sim e que isso já é possível por meio da tecnologia blockchain e cripto.
“De certa forma, a solução de DeFi já permite isso: são várias carteiras onde você pode emprestar uma stablecoin, por exemplo, para alguém operar no mercado e retornar com uma taxa de juros acordada. Mas exige conhecimento técnico para operar no ambiente on-chain e o risco é elevado porque não tem ninguém como validador dos contratos”, diz.
Todavia, o executivo afirma que o case da Yascoin mostra ser possível levar esse tipo de solução para um ambiente centralizado.
“A escala será maior quanto melhor for o equilíbrio centralizado-descentralizado (CeDeFi), porque quem vai emprestar quer saber se há garantias, collateral e como poderá executá-las em caso de default”, finaliza.
- Quer desvendar os mistérios do Bitcoin? Adquira “O Livro de Satoshi”, um compilado de escritos e insights de Satoshi Nakamoto