Nos últimos meses, o “jogo do tigrinho”, um caça-níquel online, ganhou notoriedade no Brasil devido à sua associação com golpes em plataformas de rede social, como Instagram e WhatsApp. A disseminação desse golpe tem preocupado especialistas em segurança digital, que destacam a importância de medidas preventivas para proteger os usuários.
Fabio Assolini, diretor da Equipe Global de Pesquisa e Análise da Kaspersky para a América Latina, explicou que, embora Instagram e WhatsApp afirmem utilizar algoritmos para reconhecer e interromper golpes, esses esforços ainda são insuficientes.
“No Instagram, é muito fácil para um fraudador criar um perfil, comprar uma campanha patrocinada e começar a enganar muitas vítimas”, afirmou Assolini. Apesar das plataformas encorajarem os usuários a denunciar contas suspeitas, as respostas a essas denúncias frequentemente demoram, permitindo que os golpistas operem impunes.
Sinais de golpes e medidas de segurança
Bianca Serrão, psicóloga da Safernet Brasil, apontou que os perfis que promovem o jogo do tigrinho costumam ter nomes de usuário complexos e fotos de perfil com o desenho de um tigre.
“Normalmente são perfis que seguem centenas ou milhares de pessoas e que não possuem muitos seguidores”, disse Serrão. Ela recomenda que os usuários utilizem configurações de privacidade para impedir que contas suspeitas acessem seus perfis e mencionem seus @ em posts.
Técnicas do “Jogo do Tigrinho”
Wanderson Castilho, perito em crimes digitais e CEO da Enetsec, detalhou o funcionamento do “jogo do tigrinho”. “A dinâmica envolve alinhar três símbolos idênticos para ganhar prêmios substanciais. As rodadas bônus prometem multiplicar o valor da aposta”, explicou.
Castilho também ressaltou os sinais claros de que uma conta está promovendo o golpe, como postagens de grandes somas de dinheiro e bens de luxo.
Dicas de Segurança
Castilho forneceu várias dicas para os usuários se protegerem:
- Verificar a legitimidade do site antes de se cadastrar.
- Desconfiar de ofertas muito boas para serem verdadeiras.
- Nunca enviar documentos pessoais sem verificação completa.
- Cuidado com depósitos antecipados.
- Utilizar métodos de pagamento seguros.
- Ler avaliações e testemunhos de outros usuários.
Como denunciar contas suspeitas
Os usuários podem denunciar contas suspeitas acessando o perfil da conta, clicando nos três pontos no canto superior direito e selecionando “denunciar” no Instagram, ou seguindo um procedimento similar no WhatsApp.
Após a denúncia, as plataformas deveriam revisar o relatório e tomar medidas se constatarem violações das diretrizes da comunidade ou dos termos de serviço. No entanto, a eficácia dessa revisão ainda é questionada, como destacou Assolini.
Operação Game Over
Em Alagoas, o “Jogo do Tigrinho” já virou caso de polícia. A Operação Game Over, deflagrada pela Polícia Civil, revelou detalhes chocantes sobre como influenciadores estavam envolvidos na promoção ilegal de plataformas de apostas, utilizando contas manipuladas para enganar seus seguidores.
Conforme aponta reportagem do G1, uma emissora local obteve acesso a prints de conversas que revelam como intermediadores de plataformas de apostas forneciam contas “demo” manipuladas para influenciadores, permitindo que eles sempre ganhassem.
Isso incentivava os seguidores a fazerem apostas, acreditando falsamente que também teriam ganhos substanciais. Em uma das mensagens, um intermediador instruía: “Tenta usar a conta demo para gravar a tela para mostrar a imagem de ganhar o grande prêmio para seja mais fácil atrair seguidores para clicar no link para entrar no jogo”.
O delegado Lucimério Campos, que coordena a operação, explicou: “É feito um acerto prévio, de quanto vai ser pago pela publicidade, e aí eles encaminham o link para que as pessoas joguem. Eles encaminham também o link ‘demo’, que é onde o influencer vai simular o jogo e onde ele vai forjar que está jogando e ganhando para poder gravar a tela e mostrar na rede social dele”.
As investigações revelaram que os seguidores dos influenciadores eram enganados, recebendo links diferentes que os levavam a perder dinheiro. A operação teve como alvos 12 pessoas, e a polícia pediu o bloqueio de R$ 38 milhões em bens dos investigados, incluindo carros de luxo, joias e até uma lancha. Os envolvidos estão sendo indiciados por estelionato, contravenção de jogo de azar, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
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