Uma nova fraude financeira envolvendo criptomoedas parece ter chegado à fase final, em que os golpistas desaparecem e os clientes finalmente percebem o prejuízo. O esquema, liderado pelo autoproclamado “Professor Miguel” e operado por meio da corretora TDASX, é uma versão mais sofisticada das clássicas pirâmides financeiras, embora não traga uma abordagem necessariamente inédita.
A história chegou ao Portal do Bitcoin por meio de uma vítima que entrou em contato no canal de denúncias. O homem, aposentado, que pediu para ter o nome divulgado, perdeu R$ 9 mil e enviou os comprovantes dos depósitos feitos. Dias depois, uma nova vítima entrou em contato com a reportagem.
No site do Reclame Aqui já são 123 queixas contra a TDASX. As vítimas apontam que não conseguem sacar o dinheiro que depositaram na plataforma.
A vítima que perdeu os R$ 9 mil afirma que conheceu o esquema por meio do Facebook: deparou-se com o anúncio de um homem que se denominava Professor Miguel Arthur e que daria aulas gratuitas diárias sobre o mercado financeiro. O próximo passo foi entrar em um grupo de WhatsApp que se chamava “Sabedoria e Técnica”.
O golpe era dado quando o tal Professor Miguel recomendava que os seguidores abrissem uma conta em uma plataforma chamada TDASX para operar com criptomoedas em trades que ele iria indicar. Quem depositou, no entanto, não conseguiu mais retirar o dinheiro da plataforma.
“Ele fazia análises do mercado financeiro, questões políticas, tendências e analisava o mercado de criptomoedas, quando havia uma situação clara de ganho, ele pedia para abrirmos a plataforma de negociações e operar”, afirma a vítima.
Essas comunicações eram feitas apenas por mensagens escritas, de modo que os seguidores não viram o rosto desse Professor Miguel. A foto no WhatsApp é distante, de um homem de blazer sentado em um sofá, sem possibilidade de maiores identificações.
A plataforma
A suposta corretora TDASX é praticamente desconhecida dentro da comunidade cripto brasileira. Seu site apresenta um design amador e pouco profissional. O ponto mais alarmante, porém, foi destacado pela vítima entrevistada: “Se é que efetivamente ela [TDASX] existe e não é uma plataforma fake, pois já vi ela com links diversos”.
Ao acessar a seção “Sobre Nós” no site, é possível encontrar um link para um White Paper. Nesse documento, a empresa alega possuir dez milhões de usuários e afirma ter sido fundada em 2019. Além disso, declara que a maior parte de sua base de clientes está localizada nos Estados Unidos e na União Europeia.
Além disso, aponta que teria em sua equipe “especialistas de ponta de instituições e empresas como IBM, Microsoft, Google, Coinbase e Binance”. Para resumir, a plataforma diz: “A TDASX é líder em inovação financeira na era da Web3”.
Os supostos “ganhos” do aposentado na plataforma seguem o padrão típico das promessas de pirâmides financeiras: ele teria transformado um depósito de R$ 9 mil em R$ 450 mil, um lucro impressionante de 4.900% em menos de seis meses. No entanto, o “saldo” aparece congelado em USDT, uma stablecoin, tornando impossível qualquer movimentação.
Os depósitos checados pela reportagem foram feitos via TED: um para uma empresa chamada Uninv Private Equity, que tem o CNPJ 57.559.455/0001-69; outro para uma empresa chamada Mix Estetica e Beleza, que tem o CNPJ 56.238.856/0001-54; e o último para a Fortmix Comércio de Produtos Eletrônicos, que tem o CNPJ 44.178.239/0001-21.
Nos três casos, o banco por meio do qual as empresas receberam o depósito foi o Santander. A ligação entre essas companhias, o “Professor Miguel” e a TDASX parece estreita, já que nas três vezes o dinheiro depositado apareceu rapidamente como saldo na plataforma.
“Depois de converter reais em dólar, pela cotação do dia, o dinheiro era disponibilizado na conta da plataforma. Quanto a isso funcionou. O que não funcionou foram os saques”, afirma a vítima.
O grupo de WhatsApp
Conforme a vítima contou, o grupo de WhatsApp era o local central onde ocorriam as fraudes. O “Professor Miguel” pedia que seus alunos enviassem prints para mostrar que tinham participado da “aula”. Para esses, enviava pequenos valores como R$ 15. Porém, por criptomoeda na plataforma TDASX.
Na quarta-feira (27), quando foi checar o grupo, o aposentado se deparou com uma mensagem enviada por uma suposta assistente do professor:
“Aconteceu algo inesperado. Hoje, o professor recebeu uma ligação da polícia para cooperar com uma investigação, por isso não poderá dar a aula à tarde. Até o momento, sabemos que a questão está relacionada a fundos ilegais. O professor me pediu para informar a todos que, caso já tenham feito retiradas, é recomendável que desativem suas contas nas corretoras o mais rápido possível. Estou tentando entender melhor a situação. Qualquer novidade, eu avisarei a todos imediatamente.”
Logo depois o grupo começou a ser desfeito, com essa assistente retirando todas as pessoas do canal de WhatsApp.
“No grupo sempre havia a manifestação das mesmas pessoas, que enviavam comprovantes de depósitos de valores altos, e também compartilhavam a tela de ganhos expressivos em operações de contratos futuros de criptomoedas, incentivando os desavisados, como eu, a depositar mais e mais dinheiro”, disse a vítima.
“O que eu não esperava é que estava entrando em uma armadilha, sendo iludido com os valores que estavam aumentando de maneira considerável na minha conta, porém, nunca conseguiria sacar esses valores.”
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