A Gemini, corretora norte-americana que faz a custódia das criptomoedas que compõem os ETFs cripto do Itaú e da QR Asset, está sendo atingida pela crise de liquidez que se espalha pelo setor após o colapso da FTX.
Nesta quarta-feira (16), a equipe da Gemini sinalizou que vai atrasar os saques dos usuários do programa de recompensas Earn, após a parceira que possibilita o serviço, a Genesis Trading, suspender os saques por não ter liquidez suficiente para pagar os clientes.
Isso demonstra que o efeito cascata que atinge grandes nomes do setor respingou na empresa criada pelos famosos gêmeos do Facebook, Tyler e Cameron Winklevoss. Em nota, a Gemini classificou esse período como “incrivelmente desafiador e estressante para a indústria”, mas garantiu que está em busca de uma solução com a Genesis.
“Estamos encorajados pelo compromisso da Genesis e de sua controladora Digital Currency Group (DCG) em fazer tudo ao alcance para cumprir obrigações com os clientes no programa Earn. Continuaremos a trabalhar com eles em nome de todos os clientes. Esta é a nossa maior prioridade”, escreveu a empresa.
Por fim, a Gemini informou que a atual situação não afeta nenhum outro produto ou serviço da corretora, como a custódia de criptomoedas para clientes institucionais. Neste grupo, estão players importantes do mercado brasileiro, como Itaú e QR Asset, já que os ativos que representam seus ETFs estão custodiados na Gemini.
Para somar à lista de problemas, a plataforma da Gemini ficou fora do ar nesta quarta-feira por algumas horas por uma instabilidade nos servidores.
ETFs custodiados na Gemini estão seguros?
O primeiro ETF ligado ao bitcoin do Itaú, lançado na semana passada, o IT Now Bloomberg Galaxy Bitcoin ETF (BITI11), está sob custódia da Gemini, uma empresa que o banco destaca ter licença do Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (NYDFS) para operar.
“O NYDFS impõe certos requisitos de excesso de capital e padrões de conformidade para todos os ativos mantidos na Gemini. A Gemini é obrigada a manter capital em excesso de depósitos de clientes e deve relatar quaisquer mudanças materiais neste capital ao seu regulador”, diz o site da Gemini sobre sua licença nos EUA.
Enquanto o bitcoin que representa o BITI11 está Gemini, sua gestão é responsabilidade da Galaxy Digital, uma empresa que também está sendo afetada pela atual crise do setor cripto. A Galaxy — que já perdeu dinheiro com a fracassada criptomoeda LUNA, defendida por seu CEO Mike Novogratz — pode ter perdido R$ 410 milhões em criptomoedas presas na FTX.
Quando o Portal do Bitcoin questionou o Itaú na semana passada se poderiam surgir problemas em seus serviços que dependem de empresas prejudicadas pela atual crise do mercado cripto, como a Galaxy Digital, o banco brasileiro garantiu que não há risco qualquer para o investidor final.
Já quando o Itaú foi questionado nesta quarta-feira se seu ETF de bitcoin estaria seguro em uma eventual crise de liquidez da Gemini, o banco não quis comentar sobre o assunto.
QR garante que Gemini é segura
Também é a Gemini que faz a custódia das criptomoedas que compõem os ETFs da QR Asset Management, gestora de recursos da holding QR Capital. O QBTC11, considerado o primeiro ETF do Brasil com alocação integral em bitcoin, está sob custódia da Gemini, da mesma forma como os outros ETFs lançado pela QR Asset, como o QETH11 — ligado ao Ethereum — e QDFI11 — ligado a tokens DeFi.
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Na documentação do ETF QBTC11 que lista os possíveis riscos do produto, a empresa fala sobre eventuais problemas com custódia:
“Na eventual hipótese de problemas com custodiantes utilizados pelo Fundo para geração, gestão e/ou manutenção das chaves privadas correspondentes aos ativos em carteira, o Fundo pode ter problemas em recuperar os Bitcoins sob sua titularidade ou até mesmo ficar impossibilitado de acessá-los, parcial ou totalmente. Esses problemas podem ocorrer por: invasões, roubo de senhas, comprometimento dos softwares de segurança dos custodiantes ou atos de má fé de agentes internos, ou até mesmo decorrentes de aspectos externos às operações em si”, diz um trecho do documento público.
Apesar disso, a QR Asset garante que utiliza padrões internacionais de boas práticas em parceria com os principais players do setor, por meio de uma “criteriosa seleção de serviços para preservar as chaves privadas necessárias ao adequado funcionamento das operações”.
Ao Portal do Bitcoin, a empresa garantiu que “ativos custodiados pelos ETF da QR Asset não estão expostos a risco relacionado à insolvência da Gemini”, e que os ativos são mantidos em contas segregadas em cold storage, ou seja, sem conexão com a internet, o que concede mais segurança.
“A custódia dos ativos nessa modalidade é mantida em um trust no qual o cliente final é o beneficiário. A custódia não se mistura com os recursos da empresa Gemini e ficam inacessíveis a credores em um eventual caso de falência da companhia”, informou a QR Asset, acrescentando que o atraso de saques da Gemini afetou apenas um serviço específico, que é a remuneração dos ativos depositados na exchange e operado pela Genesis Global.
A QR Asset esclareceu também que não oferece seguros para seus ETFs de cripto, embora existam apólices de seguro que cobrem determinados riscos nos serviços contratados:
“Tanto a Gemini quanto a Coinbase [outra empresa que faz custódia para a QR Asset] oferecem seguro para os ativos sob suas custódias. No entanto, são apólices com valor global limitado e comum a todos os clientes que possuem ativos depositados nesses serviços.”
Hashdex tem fundos na Gemini ou não?
A Hashdex, quando lançou o primeiro ETF de criptomoedas do Brasil em abril do ano passado, o HASH11, disse à imprensa que a Gemini era uma das empresas que faziam custódia das criptomoedas do fundo que replica o Nasdaq Crypto Index (NCI), um índice desenvolvido em conjunto com a Nasdaq.
Embora a Gemini apareça como uma das principais corretoras e custodiantes do índice no site da Nasdaq, o nome da empresa não aparece mais no site da Hashdex, que apresenta como custodiantes do HASH11 apenas a BitGo, Coinbase e Fidelity.
A equipe da Hashdex explicou para a reportagem que, embora a Gemini seja autorizada a prestar serviços de custódia para a Hashdex, a gestora não tem nenhum ativo mantido com a empresa.
Em posicionamento oficial, o CEO da Hashdex, Marcelo Sampaio, garantiu que a gestora só usa custodiantes e outros provedores “do mais alto padrão”.
“Custodiantes qualificados precisam apresentar certificado de segregação dos ativos do fundo, assim como estruturas desconectadas da internet. A armazenagem deve contemplar múltiplas assinaturas e a distribuição geográfica de chaves para mitigar a existência de um único ponto de falha e risco de homem-chave”, explica Sampaio sobre as exigências que a gestora faz antes de fechar um contrato. Segundo ele, não existem até o momento casos documentados de comprometimento de uma conta com esse grau de segurança.