Os títulos denominados em dólares americanos de El Salvador caíram para 0,644 em comparação ao dólar americano nessa segunda-feira (22), tornando o país da América Central em um dos maiores perdedores do mercado de dívida externa, de acordo com a Bloomberg.
Aparentemente, investidores estão preocupados de que a mais recente iniciativa da “Cidade de Bitcoin” do presidente salvadorenho Nayib Bukele acaba com as antigas iniciativas do Fundo Monetário Internacional (ou FMI) de estabelecer uma relação com o país.
Um título denominado em dólares é um título emitido fora dos EUA por uma empresa ou governo estrangeiro que é denominado no dólar americano em vez de na moeda local.
Os títulos em dólar de El Salvador, com validade até 2050, tiveram um auge de US$ 1,10 em abril de 2021. No entanto, estão em queda livre desde então, de acordo com dados da Bloomberg.
Um acordo por um programa de auxílio financeiro de US$ 1,3 bilhão com o FMI, cujo objetivo é revitalizar a economia do país, estava prestes a ser finalizado antes de ter empacado após o partido Nuevas Ideas de Bukele substituir o procurador-geral e os magistrados do Tribunal Constitucional em maio.
Em junho, Bukele havia anunciado que El Salvador tornaria o bitcoin (BTC) em uma moeda corrente, prejudicando ainda mais sua ligação com o FMI. O país avançou com plano em setembro, quando o projeto de lei proposto finalmente entrou em vigor.
Repetidasvezes, o FMI criticou El Salvador por sua decisão em adotar o bitcoin, em que uma nova onda de críticas surgiu em um relatório publicado nessa segunda-feira (22), que novamente destacou os riscos relacionados ao uso da criptomoeda.
Apesar do fato de que a economia de El Salvador rapidamente se recuperou da pandemia, “constantes déficit fiscais e altos serviços da dívida pública estão resultando em necessidades financeiras e fiscais brutas, maiores e crescentes”, afirmou o FMI.
“Dada a alta volatilidade de preço do bitcoin, seu uso como moeda corrente apresenta riscos significativos à proteção dos consumidores, integridade financeira e estabilidade financeira”, complementou. “Também dá origem a responsabilidades fiscais contingentes.”
Dados os riscos mencionados acima, “o bitcoin não deve ser usado como moeda corrente”, argumentou o FMI, acrescentando que a organização “recomenda a redução do escopo da lei bitcoin e insiste no fortalecimento de regulações e supervisão do novo ecossistema de pagamentos”.
A iniciativa da “Cidade de Bitcoin”
Anunciada no último sábado (20) em uma conferência em El Slavador, a Cidade de Bitcoin sustentada por um vulcão será desenvolvida na região Leste do país, conforme o financiamento inicial para o projeto é garantido pela emissão de títulos lastreados em bitcoin no valor de US$ 1 bilhão.
Os títulos serão emitidos na Liquid Network da Blockstream (um sidechain apoiado pelo Bitcoin que oferece transações mais rápidas e mais sigilosas) e será negociável na corretora cripto Bitfinex.
De acordo com Samson Mow, diretor de estratégia da Blockstream, a expectativa é que o proposto título de 10 anos de bitcoin pague 6,5% anualmente, com um dividendo de 50% sobre quaisquer ganhos de bitcoin quando El Salvador tiver recuperado seu investimento original.
Os dividendos serão pagos ou em dólar ou em tether (USDT), a maior stablecoin do mundo.
“Tentamos estruturá-lo de uma forma que as pessoas possam apresentar [o título de bitcoin] a comitês de diretores como um título normal porque é um título normal. Só possui uma grande quantidade de bitcoin nele”, explicou Mow em entrevista à Bloomberg TV.
Quando perguntado se as opiniões do FMI realmente importavam para investidor da Cidade de Bitcoin, Mow negou antes de acrescentar que organizações como o FMI e o Banco Mundial não são relevantes no mudo do bitcoin.
“Só são relevantes porque podem imprimir dinheiro e o dinheiro não deve ser usado para supervisão ou como uma ferramenta para impor suas crenças e políticas econômicas em outra nação”, afirmou Mow.
No entanto, participantes das finanças tradicionais parecem estar distantes de se convencerem da iniciativa de bitcoin de El Salvador.
Jared Lou, gestor monetário no William Blair em Nova York, reconhece que o pagamento de 6,5% poderá não ser suficiente para compensar os riscos associados.
“Parece uma medida desesperada, mostrando que Bukele está se afastando de instituições ocidentais”, contou Lou à Bloomberg, acrescentando que existentes títulos em dólar vão continuar atingindo novas baixas.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.