Com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, surgiu uma armadilha disfarçada de feminismo: dividir as contas.
Mas como dividir as contas se mulheres ganham menos? São muito os estudos que mostram a diferença nos salários entre homens e mulheres. Além da falta de isonomia salarial – o cenário onde pessoas que ocupam o mesmo cargo ganham o mesmo salário – existe uma barreira nas oportunidades de progressão de carreira.
Os números entre homens e mulheres em cargos de liderança são discrepantes, o que resulta no fato de que na média, mulheres ganham muito menos.
Além de ganharem menos, mulheres contribuem menos tempo para a Previdência Social ou previdência privada. Isso ocorre porque mulheres se afastam mais do trabalho para exercer o papel de cuidadora, seja de crianças ou de parentes idosos. E isso impacta diretamente no seu processo de acumulação de recursos.
Estatísticas também mostram que quase metade das mulheres são demitidas em até um ano após o retorno da licença-maternidade. Segundo dados do Caged, durante a pandemia, mulheres também foram as mais afetadas com demissões.
Conclusão: estatisticamente, ser mulher no Brasil traz uma série de obstáculos para uma situação financeira confortável, estável e segura.
Acontece que, apesar de ser um tema tratado como tabu, dificultando o diálogo, o dinheiro é muito importante na vida de uma mulher. Não pelo consumo, mas porque vivemos em uma sociedade estruturalmente machista.
O dinheiro entra nessa equação como um elemento que protege a mulher e, em muitos casos, pode fazer diferença de vida ou morte.
Muitas mulheres vítimas de relacionamento abusivo e violento declaram que decidiram continuar com os companheiros, mesmo após a primeira agressão, porque não tinham condições econômicas de se separar ou sumir.
E se você está pensando que homem provedor não é coisa de feminista, saiba que é sim, pois não tem nada mais feminista que uma mulher com dinheiro.
Feminismo é sobre dar opção de escolha para as mulheres, sabendo que o que ela escolher foi porque ela quis fazer e não porque isso foi imposto socialmente a ela ou porque era a sua única opção. E para poder escolher você precisa de dinheiro.
Hoje você pode estar em uma situação confortável, que te permita dividir a conta com seu príncipe encantado, mas amanhã pode ter que estar justificando seus gastos semanais em manicure e pode ter que ouvir que fazer a unha semanalmente não é gasto essencial.
E daqui a pouco você se encontra na situação em que toda vez que precisar ou quiser fazer um gasto mais expressivo – como uma festinha de aniversário de um ano para o filho de vocês, por exemplo – vai se pegar ensaiando discursos e fazendo jantares especiais para convencer o homem do porquê aquilo é importante para você.
Isso porque que a probabilidade de você ser demitida após voltar de licença maternidade é alta e você não pode mais resolver qualquer dilema e impasse simplesmente passando seu cartão de crédito, como era antes.
Nada como ter o próprio dinheiro e poder decidir o que é essencial e o que é importante para você mesma.
Por isso mulheres, parem de dividir contas e despesas e parem também de comprar almofadas coloridas para deixar a casa bonita e aconchegante para o boy. Invistam todo ou o máximo possível do seu dinheiro e, o mais importante, em uma reserva que ninguém saiba além de você, porque nunca se sabe o dia de amanhã.
Essa reserva secreta serve principalmente para uma emergência na vida da mulher. Podem acreditar, elas acontecem. O dinheiro guardado dá uma margem de manobra enorme, faz toda a diferença,
Não se engane, o dinheiro é a melhor proteção que a mulher pode ter em uma sociedade estruturalmente machista.
Além disso, eu nunca vi sapo virar príncipe, mas já vi muito príncipe virar sapo.
Sobre a autora
Marina Luz, CFP®, é economista e trabalha como assessora de investimentos no escritório Vulture Capital, credenciado a XP investimentos