Na quarta-feira (27), Charles Hoskinson, o fundador da blockchain Cardano, deu uma palestra via telefone por satélite, do conforto de seu jatinho particular, ao público da conferência “Crypto and Digital Assets Summit”, do portal Financial Times.
Durante sua palestra, ele alegou que o sistema regulatório dos EUA está despreparado para lidar com a natureza revolucionária das criptomoedas. As diversas agências que regulamentam mercados financeiros nos EUA também “não estão preparadas” para lidar com criptoativos, acrescentou.
Parte da dificuldade dessas agências é a capacidade distinta das criptomoedas em mudar a forma como podem ser utilizadas e, além disso, como podem ser categorizadas.
Hoskinson disse que, “nos EUA, fazemos a regulamentação por categorias, chamando uma coisa de valor mobiliário, outra coisa de commodity e uma terceira coisa de moeda. Em seguida, órgãos regulatórios são desenvolvidos em torno dessas categorias que se especializam nessas áreas.”
Ao usar o bitcoin (BTC) como exemplo, Hoskinson explicou que o ativo pode ser considerado como uma moeda — devido ao seu status de moeda corrente em El Salvador — ou é classificado como uma commodity, como o ouro. Isso dificulta a categorização do ativo e, por consequência, sua regulamentação.
Na sequência, pediram que Hoskinson convencesse a plateia virtual sobre os benefícios de um mundo descentralizado.
Usando blockchain para lidar com os padrões de ESG
O fundador da Cardano aproveitou a oportunidade para criticar as discrepâncias nos padrões de ESG — práticas ambientais, sociais e de governança realizadas por empresas — estabelecidos pelos poderes rivais e centralizados do mundo.
“Veja o exemplo do escore de ESG, do qual todas as corporações estão falando… Como nos tornamos mais ecologicamente corretos? Como nos tornamos sustentáveis? Como podemos ter uma boa governança?”, questionou Hoskinson.
Ele argumenta que haverá um padrão diferente sobre quem deve decidir quais serão as definições de ESG implementadas em diferentes jurisdições.
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Ele apresentou a tecnologia blockchain como uma solução. Ao usar essa tecnologia, é possível implementar contratos autônomos como o caminho a seguir para a criação de padrões transnacionais que vão intermediar a confiança e a autoridade.
Na opinião dele, isso seria melhor para “solucionar o aquecimento global e a mudança climática” do que o atual sistema implementado.
Do Bitcoin aos contratos autônomos
Hoskinson explicou que a tecnologia que serve de alicerce para as criptomoedas iria fornecer a “confiança” inata e imutável nos “processos comerciais e instaurar padrões entre as pessoas que realmente não confiam umas nas outras ou não necessariamente se dão bem”.
A primeira implementação disso aconteceu em 2009, com o câmbio monetário descentralizado e o advento do Bitcoin.
A criação de Satoshi Nakamoto permite o câmbio de valor que pessoas podem transacionar de ponto a ponto, mas que nenhum grupo de poder pode manipular.
Contratos autônomos, em redes como o Ethereum — do qual Hoskinson também é um cofundador —, levaram essa ideia ainda mais além, permitindo que sistemas descentralizados que “não são influenciados pelas políticas cotidianas ou pelas geopolíticas de grandes nações sobre pequenas nações”.
Ele enfatizou que, com protocolos blockchain, o sistema dependeria apenas da programação e que o código “não se importa com quem você é ou onde você está”.
O código apenas faz o que precisa ser feito.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.