“Eu não tenho alma” e “sou mais forte quando faço coisas chocantes”: como o fundador da FTX define a si mesmo

Novo livro de Michael Lewis, apesar de sofrer duras críticas, mostra uma visão mais detalhada sobre o fundador da FTX, Sam Bankman-Fried
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Sam Bankman-Fried (Foto: Reprodução/YouTube)

No início deste mês, Michael Lewis – autor de bestsellers como Moneyball e A Jogada do Século- lançou Going Infinity, sua obra sobre Sam Bankman-Fried (SBF), o fundador da falida exchange FTX. Desde então ele tem sido bastante criticado por sua postura leve com o executivo, que enfrenta um julgamento que pode resultar em longos anos de prisão por fraude e outras acusações.

Apesar das críticas, o livro ajuda a entender um pouco mais sobre a postura de Bankman-Fried e a visão que as pessoas em torno dele tinham. E para evitar que todo mundo tenha que ler o livro, Byron Gilliam, estrategista de mercados da Blockworks, compilou diversas citações da obra.

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Nos poucos momentos em que o autor mostra um pouco mais de como a cabeça de SBF funciona, ele cita uma autoavaliação do executivo: “O lugar onde sou mais forte é quando tenho que fazer coisas que chocariam os outros”.

Além disso, Lewis destaca diversas vezes que o fundador da FTX tem uma relação complicada com sorrir, sendo essa uma das coisas que SBF “não sabe fazer”.

“Não é totalmente trivial fingir as coisas […] Foi fisicamente doloroso. Não parecia natural. E eu não era bom nisso. Não parecia certo”, teria dito SBF sobre sorrir. Porém, após treinar bastante, o jovem executivo teria visto benefícios: “Ficou mais fácil. Como se meus músculos começassem a relaxar. E isso fez com que as pessoas gostassem mais de mim”.

Segundo Lewis, sobre o fato de SBF ser uma pessoa bastante esquecida, ele diz que o jovem “não pretendia criar o caos na vida de outras pessoas. Ele estava apenas se movendo pelo mundo da única maneira que sabia”. “O custo que isso implicava para os outros simplesmente nunca entrou nos seus cálculos”, completa o autor.

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Mal visto na Alameda e relacionamento com Caroline

Dentro da Alameda – empresa fundada por SBF que fazia parte do grupo FTX e se tornou o catalisador da crise do grupo -, Bankman-Fried não era bem visto, sendo criticado por sua postura e pela falta de preparo.

“Ele era exigente e esperava que todos trabalhassem dezoito horas por dia e desistissem de qualquer coisa, como ter uma vida normal, enquanto ele não comparecia às reuniões, não tomava banho durante semanas, tinha uma bagunça ao seu redor com comida velha por toda parte, além de dormir em sua mesa”, disse um funcionário da Alameda sobre as competências de gestão de SBF.

Em outro trecho, Lewis diz que Tara Mac Aulay, co-fundadora da Alameda, “já havia decidido há muito tempo que ele [SBF] era desonesto e manipulador”. Ben ainda o considerava bem-intencionado, mas péssimo no trabalho. “Todos se sentiam numa missão suicida”.

A crise da empresa também é exposta do livro, mostrando que praticamente desde o início o negócio já estava errado: “Eles já tinham perdido milhões [do seu capital inicial], embora ninguém pudesse dizer com certeza quanto. Em fevereiro, o seu sistema de negociação perdeu meio milhão de dólares por dia. Além das perdas comerciais, alguns milhões adicionais simplesmente desapareceram. Ninguém parecia saber para onde foi o dinheiro”, diz a obra.

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Alguns pontos também colocam luz sobre o relacionamento de SBF com Caroline Ellison, ex-CEO da Alameda. “Sam respondeu ao primeiro memorando de Caroline com um memorando de sua autoria, expondo os prós e os contras de um relacionamento sexual”, afirma o livro, que ainda completa com o primeiro argumento contra: “em muitos aspectos, eu realmente não tenho alma”.

Criticas à Binance

Bankman-Fried também se mostrou muito crítico à sua principal concorrente, a Binance. Em certo momento, ele falou sobre o fundador dela: “Se CZ [Changpeng Zhao] alguma vez teve um pensamento original, ele nunca demonstrou”.

O executivo teria dito também que a exchange chinesa estava fazendo um trabalho ruim de manipulação do mercado. Em um esquema usando robôs para arbitragem, SBF teria dito que os bots da FTX se aproveitavam das tentativas de manipulação da Binance: “Em vez de comprar Bitcoin de si mesma por um preço inflacionado, a Binance estava comprando-o da Alameda por um preço quase tão alto quanto”.

Ainda sobre a concorrente, Lewis diz que SBF chegou a ligar para o CFO da Binance em tom de ironia: “o CEO de uma exchange ligou para o CFO da outra para informá-lo que, se ele não quisesse perder dinheiro em seu novo contrato futuro, ele precisaria melhorar sua manipulação de mercado”.