Estudante da USP desvia R$ 1 milhão de fundo de formatura para investir em pirâmide financeira

Sentinel Bank, apontado como o destino do dinheiro desviado pela estudante, já foi alvo de operações da Polícia Federal e stop order da CVM
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Foto: Shutterstock

Acusada de desviar quase R$ 1 milhão do fundo criado para custear a formatura dos estudantes de Medicina na USP, Alicia Dudy Muller afirma que o dinheiro foi perdido ao ser aplicado em uma empresa chamada Sentinel Bank. A empresa já frequentou as páginas policiais acusada de ser uma pirâmide financeira, o que é crime previsto na lei brasileira.

A história chegou à imprensa na segunda-feira (16) e vem ganhando novos detalhes desde então. Muller era presidente da comissão de formatura e tinha acesso ao montante de R$ 927 mil. A estudante afirma que repassou R$ 800 mil para a Sentinel Bank em uma tentativa de multiplicar os valores. O restante teria sido gasto com advogados.

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“Nosso dinheiro foi todo repassado para a Sentinel Bank, uma investidora que, no fim das contas, não se passava de um grande golpe e nunca mais retornou nem com o dinheiro investido, nem com os rendimentos”, disse Muller para seus colegas de curso em uma mensagem no WhatsApp.

Em julho do ano passado, a Sentinel Bank foi alvo de uma operação da Polícia Federal que cumpriu 17 mandados judiciais, em cidades do Paraná e São Paulo e sequestro de automóveis, imóveis e criptomoedas. A sede da empresa fica em Umuaruma (PR).

Em um vídeo publicado no portal da emissora Band, um agente da Polícia Federal afirma que a empresa prometia lucros fixos de 6,2% ao mês, que seriam obtidos com operações na bolsa de valores.

Porém, apenas uma pequena parte do dinheiro era aplicado nessas operações e, em geral, era perdido. A maioria dos valores eram usados para pagar os criadores da empresa e novos clientes, sendo essa a manobra típica de pirâmide financeira.

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De acordo com a Polícia Federal, quando a pirâmide passou a dar os primeiros sinais que iria implodir, os acusados mudaram o discurso. Passaram então a dizer que iriam migrar das operações na bolsa para virar um banco digital.

CVM já havia alertado

No dia 10 de dezembro de 2021, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) emitiu um stop order contra a empresa.

Segundo a Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários (SMI), foram identificados indícios que Sentinel Traders Operações em Bolsa de Valores Ltda e sua única sócia, Lucinéia de Almeida, buscavam captar recursos de investidores residentes no Brasil para aplicações em valores mobiliários. Tal prática era feita por meio do site e redes sociais da empresa.  

“Sentinel Traders Operações em Bolsa de Valores Ltda e sua sócia não detêm autorização da CVM para intermediar valores mobiliários”, afirma a CVM. O órgão estabeleceu multa de R$ 1 mil caso a companhia continuasse atuando.

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Lotérica pode ter sido destino do dinheiro

Um desdobramento da história inicial foi de que a estudante de Medicina já era investigada por fraude financeira contra uma lotérica, em um processo que está sendo conduzido pela Polícia Civil de São Paulo desde julho do ano passado.

Há indícios de que Alicia Dudy Muller usou o dinheiro da formatura para apostar sistematicamente na loteria. Entre abril e julho de 2022, ela apostou R$ 9 mil diariamente em uma lotérica na Zona Sul da cidade de São Paulo.

A estudante ganhou cinco vezes na loteria em 2022, totalizando R$ 326 mil. A história teria sido interrompida aí, não fosse uma suposta tentativa de golpe que ela tentou dar na loteria na última vez que esteve lá.

De acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o fato ocorreu no dia 12 de julho. Até então, Muller já havia gasto R$ 461 mil em jogos na loteria. Naquele dia resolveu dobrar a aposta: anunciou que jogaria R$ 891 mil.

Apresentou como prova de pagamento um agendamento de transferência via Pix. As funcionárias começaram a fazer o jogo, mas a gerente suspeitou e determinou que os procedimentos fossem interrompidos.

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Mas já era tarde. A lotérica já tinha registrados R$ 192 mil em jogos e Muller saiu de lá com os comprovantes. A transferência de Pix nunca foi feita e a lotérica acionou a Polícia Civil.

A delegada Katia Regina Cristofaro Martins começou a investigar e pediu informações ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Foi assim que ficou sabendo dos cinco prêmios. Mas, até então, achava que o caso se referia apenas ao episódio do Pix.

Posteriormente, a delegada soube do desvio de R$ 1 milhão do fundo de formandos. Agora a suspeita é que o dinheiro dos estudantes foi usado para os jogos.

“Fiquei sabendo desse fato novo na última sexta-feira. Agora temos uma pista da origem do dinheiro e pretendo colher depoimento dos alunos da comissão de formatura e da empresa envolvida”, disse Martins para o jornal.

Procon entra no caso

Além da Polícia Civil, o caso agora é analisado pelo Procon de São Paulo. O órgão notificou a ÁS Formaturas, empresa contratada para organizar a formatura da turma da USP, pedindo explicações sobre o caso de desvio do fundo do evento.

A empresa deverá explicar quem autorizou a transferência dos valores e quais os critérios estabelecidos para movimentação de dinheiro entre a ÁS Formaturas e qualquer membro da comissão de formandos ou terceiros. Os esclarecimentos deverão ser encaminhados até a quinta-feira (19).

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