Entrevista: Chicão Bulhões revela caminho do Rio de Janeiro para a adoção de criptomoedas

“Queremos a cidade do Rio como representante da América Latina para o desenvolvimento do mercado cripto”, afirma o secretário de desenvolvimento de Eduardo Paes
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Secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, Chicão Bulhões. Foto: Divulgação

O Rio de Janeiro revelou no início do ano o plano de se tornar o hub nacional do mercado de criptomoedas. Para fazer isso, a gestão do prefeito Eduardo Paes (PSD-RJ) quer lançar a própria criptomoeda da cidade, dar desconto para IPTU pago com bitcoin e até mesmo alocar 1% do Tesouro em criptomoedas. 

Na linha de frente desses trabalhos está Chicão Bulhões, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação do Rio de Janeiro. Bulhões ocupa o cargo desde 2020, quando abriu mão de seu mandato de deputado estadual para entrar na administração de Paes.

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Em entrevista concedida ao Portal do Bitcoin, ele compartilhou qual é visão do Rio de Janeiro para o mercado de criptomoedas e o que será discutido no Grupo de Trabalho dedicado em tirar as ideias do papel.

No Rio Innovation Week, a prefeitura anunciou o lançamento do Crypto Rio. De onde surgiu essa ideia?

O Rodrigo Stallone, que é o presidente da Invest Rio, uma empresa de atração de investimentos da prefeitura, organizou um jantar com os principais atores do ecossistema, como o Marcelo Sampaio da Hashdex. Eles nos apresentaram o que é criptomoeda, como funciona a tecnologia e o que o resto do mundo está fazendo.

Ali ficou muito claro que temos um ecossistema interessante de pessoas sérias que estão investindo em criptomoedas, o que nos animou muito dado que o Rio de Janeiro tem um histórico de ser muito forte no mercado financeiro.

Entendemos o poder revolucionário de certas tecnologias ligada às criptomoedas, à tokenização, aos NFTs, e vimos uma oportunidade. 

O prefeito de Miami Francis X. Suarez teve alguma influência nessa decisão?

Claro, tivemos um painel com o prefeito do Rio Eduardo Paes e o de Miami no Rio Innovation Week, e ali eles começaram a trocar experiências. Olhamos para Miami, Nova York e Zurique, na Suíça, que são referências, para também posicionar o Rio de Janeiro no centro desse debate, como representante da América Latina para o desenvolvimento do mercado cripto.

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Com isso criamos um grupo de trabalho e o prefeito fez alguns anúncios de intenção de, por exemplo, investir 1% [do Tesouro do Rio] em criptomoeda, que pode ser eventualmente bitcoin. Mas tudo isso vai ser analisado nesse grupo de trabalho para que a gente possa pensar em medidas concretas.

A ideia é que a criptomoeda da cidade seja feita nos mesmos moldes das criptomoedas de Miami e de Nova York, baseadas no projeto CityCoins?

Isso vai ser discutido mais a fundo no grupo de trabalho. Mas sem dúvidas, a maior inspiração é Miami. Queremos andar na inovação, mas obviamente também andar naquilo que o mundo já reconheceu e viu dando certo, então a tendência é essa mesmo. 

No Brasil, também temos algumas stablecoins feitas por alguns atores daqui, como a BRZ da Transfero, e queremos aproveitar o que já temos. A característica de ser descentralizado na produção de determinadas tecnologias é muito interessante e é assim que queremos posicionar a cidade.

Imagina os cariocas usando o Crypto Rio no dia a dia? Qual será a usabilidade da moeda?

Esperamos que sim. Claro, além de eventualmente poder nos monetizar como Miami fez, temos uma ideia inicial que essa moeda seja usada pelas pessoas. 

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Uma das maiores demandas, principalmente da população que mora nas favelas cariocas, é a bancarização. Tem uma baixa bancarização em razão de locais que infelizmente — e historicamente — possuem um poder paralelo funcionando. 

Uma criptomoeda poderia suprir isso, se ela for usada também no dia a dia da cidade para o pagamento de contas e impostos, por exemplo. Muitas pessoas gostariam de poder ter essa opção porque não têm agências bancárias a seu alcance. A criptomoeda do Rio poderia ser mais uma opção para atender essa necessidade que existe em diversas regiões mais carentes da cidade.

Quem são os especialistas em criptomoedas que estão no Grupo de Trabalho? 

Não temos nomes ainda, mas eles podem surgir nas próximas semanas. O grupo vai ficar responsável por fazer convites ao longo dos trabalhos. Tem alguns atores privados que já pediram para participar, mas oficialmente é um grupo interno da prefeitura que vai buscar esses atores nas suas reuniões temáticas para que eles possam dar suas contribuições.

Precisamos focar. Aprender com o setor privado, mas com o olhar de administração pública. Existem questões técnicas que precisamos responder para produzir o relatório final que será publicado daqui três meses.

O que podemos esperar deste relatório final?

Depende dos trabalhos do grupo, mas entre as provocações do prefeito para esse grupo está a questão de investimentos. Será possível investir em alguma criptomoeda, mesmo que seja um valor baixo e simbólico, por exemplo 1% do Tesouro? E se for juridicamente possível, qual?

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Então não é certo que seja bitcoin?

Nós não temos como bater o martelo em bitcoin porque precisamos ter esse olhar mais técnico, para não fazer basteira. A gente precisa estar bem calçado juridicamente, então a princípio pode ser o bitcoin, mas os estudos estão abertos para dar essa inteligência ao prefeito, principalmente jurídica.

O 1% do Tesouro que vocês estudam alocar em criptomoeda, seria equivalente a quanto mais ou menos?

A gente não tem esse número ainda porque é 1% daquilo que estiver disponível para investimento. Nem todo dinheiro que a prefeitura tem está disponível para investimento, o resto a gente não pode mexer.

Também está em pauta a ideia de dar desconto no IPTU para quem pagar com bitcoin. Alguma ideia de como vai ser a estrutura para receber os pagamentos?

O grupo de trabalho vai discutir justamente que tipo de estrutura a gente precisa e como, além dessa ideia de eventualmente ganhar dinheiro, como Miami está fazendo, a gente poderia realmente dar uma facilidade para o carioca que poderia eventualmente usar essa criptomoeda.

Queremos descobrir se vale a pena fazermos isso e se vai ser para todos os públicos ou não.

Dessa forma o Rio poderá ter sua própria reserva de bitcoin. A ideia é que o IPTU pago com a criptomoeda permaneça como criptomoeda em caixa?

Depende se fizer sentido financeiro para a prefeitura. A prefeitura vai estar sempre preocupada em trazer o resultado positivo para os cofres públicos. É uma tomada de decisão de investimento que depende das condições de mercado e que vai precisar ser avaliado no momento.

Também serão discutidos outros incentivos para que esse ecossistema cripto se instale aqui na cidade e novos atores venham para cá.

A gente deve fazer uma missão para Zurique, na Suíça, para aprender o que está sendo feito por lá. Essa missão deve acontecer ainda esse ano, para que possamos trazer essas experiências e colocar o Rio no mapa.

Tanto o prefeito de Miami como o recém-eleito de Nova York, Eric Adams, já receberam seus salários em bitcoin, como forma de sinalizar apoio a esse mercado. O prefeito Eduardo Paes já pensou em seguir o exemplo?

A ideia ele já teve sim, mas ainda está estudando.