Esta sexta-feira (8) foi um dia de choque para o mercado brasileiro. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que a inflação do país aumentou 1,62% em março. É a maior alta do mês desde 1994, antes da criação do Real como moeda – muito mais alta do que previam os analistas.
Com a notícia, uma comparação nada lisonjeira começou a ser feita: o Brasil teve maior inflação nesse período que a Venezuela, país que nos últimos anos virou sinônimo de caos financeiro e altas alucinantes de preço.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do Brasil foi de 1,6% e a a inflação divulgada pelo Banco Central da Venezuela foi de 1,4%. Porém, organismos independentes como o Observatório Venezuela de Finanças (OVF), dizem que a subida de preços foi na verdade de 17,8% em março.
A América Latina tem um histórico de sofrimento com inflação e polêmicas sobre como medir não são novas. Em 2017 a Argentina lançou um novo método para calcular a alta de preços após dez anos de suspeita de manipulação desses dados pelos governos Kirchner.
Mas em 2022 a inflação não fala apenas português e espanhol. Virou um fenômeno global e em específico nos Estados Unidos, que atingiu o maior índice de inflação em 40 anos.
Todos esses elementos culminam na criação do Trueflation, um índice de preços que é registrado em blockchain, alimentado por oráculos (elementos externos que adicionam informações na rede) e que se pretende independente e à prova de censura.
A história começou quando Balaji Srinivasan, CFO da Coinbase, anunciou que iria financiar com US$ 100 mil dólares um projetos de Web3 que medisse inflação. O executivo disse à época: “O estado centralizado não irá nos prover com estatísticas confiáveis sobre inflação”
Isso foi em maio de 2021. Depois do anúncio, um grupo de desenvolvedores se reuniu e apresentou o projeto Trueflation, que foi escolhido para ser contemplado com a bolsa do ex-Coinbase.
Conforme reportagem do portal Coindesk, o Trueflation roda na blockchain Chainlink e usa 40% de dados iguais aos usados pelo governo americano e 60% de dados diferentes.
O objetivo é atualizar o índice todo dia com preços do mercado real, das lojas e pontos de venda.
“É uma caixa preta [o método do governo]. Nós não sabemos como eles fazem a pesquisa, como ela é executada e por aí vai… e as pesquisas são bem dúbias para nós em relação aos preços reais que conseguimos de pontos de vendas, com vendedores reais ou agregadores”, disse Stefan Rust, fundador do Trueflation, ao Coindesk.
E, pelo menos na conta deles, os EUA sofrem com o mesmo problema que os países latinos.
O Consumer Price Index (CPI), índice oficial do governo, afirma que entre março de 2021 e março de 2022 houve uma inflação de 7,9%. Já o Trueflation afirma que o número certo é 13,2%.