Existe um termo nas criptomoedas que reflete perfeitamente o “mecanismo” por trás dos aplicativos supostamente sem um coordenador central: DINO, ou “Decentralized in Name Only”. Ou seja, deixa claro que a descentralização, na grande maioria dos casos, é apenas um “teatro” para enganar reguladores e novatos.
De fato, não existe nada 100% descentralizado, pois em última instância temos pessoas, seja desenvolvendo os sistemas, utilizando as aplicações, criando os consórcios (pools), votando nas decisões via token de utilidade etc.
A prática mostra que DeFi é semicentralizado
Isso é inegável, tanto pelas experiências de hacks, quanto a própria estrutura de empresas e capitalistas de risco (venture capitalists) por trás do lançamento dessas exchanges descentralizadas (DEX).
Uniswap, por exemplo, nasceu com uma premiação de US$ 100 mil da Fundação Ethereum, porém depois recebeu aporte de investidores, incluindo Andreessen Horowitz, Union Square Ventures, Paradigm, e Parafi Capital.
Desse modo, Uniswap nasceu com um mínimo de 39% dos tokens entre pré-investidores e fundadores, isso se eles não receberam nada durante os airdrops e premiações para quem utilizava o aplicativo antes do lançamento do token. Ou seja, realisticamente, eram donos de no mínimo 50%.
Além de tudo que expliquei sobre a pseudo-descentralização das DEX, existem os arbitradores, que podem ser automatizados e distribuídos, como Yearn.finance, ou providos por grandes empresas de market maker, como Alameda Research, Jump Trading, e Three Arrows Capital. Sem esses gigantes, não há fluxo suficiente.
Apetite dos grandes bancos de investimento
Enfim, toda essa introdução serve para mostrar como é possível, e provável, que os grandes bancos vão entrar forte nesse segmento. As recentes notícias sobre incursões dos gigantes Goldman Sachs, Morgan Stanley, e Citigroup deixam claro que eles buscam uma exposição aos “ativos digitais”, e alguns chegaram a alocar Bitcoin em seus fundos de investimento.
O crescimento das exchanges descentralizadas é assustador, saindo de praticamente US$ 1 bilhão de giro mensal em abril de 2020 para US$ 117 bilhões em novembro de 2021. Uniswap é a líder absoluta com 65% deste mercado.
É possível que um desses bancos resolva comprar a empresa Uniswap, além da fatia detida por esses pré-investidores. Não sei se Uniswap é o melhor exemplo, mas enfim, alguma das 3 maiores DEX.
O que muda na prática? Tudo, pois vão buscar criar “cercadinhos”, limitando moedas no seu front-end (portal de acesso), e criando cooperativas (pools) privadas.
Enfim, o DeFi vai ser dividido em 2 períodos: antes e depois da entrada dos grandes bancos. Estes vão trazer suas próprias stablecoins, embora sempre vá existir algum arbitrador regulado capaz de circular entre esses 2 universos aparentemente separados.
No final, os usuários perdem o “controle”, que já não tinham, da governança, mas ganham a liquidez dos novos players. Portanto, positivo.
Sobre o autor
Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Em 2017, se tornou trader e analista de criptomoedas. Maximalista convicto, assina também o canal no Youtube RadarBTC.