Jeffrey Tucker, economista e diretor editorial do Instituto Americano para Pesquisa Econômica (American Institute for Economic Research – AIER), afirma que os governos não devem investir esforços na criação de suas próprias criptomoedas e que ao invés disso prestem mais atenção em seus sistemas financeiros.
Intitulado “Governos e Bancos Centrais deveriam olhar para o Ouro e não pra os Criptos” (tradução livre de “Governments and Central Banks Should Look to Gold Not Crypto”), o editorial publicado no AIER pelo economista traz fortes críticas a atuação do Parlamento Europeu que recomendou aos “Bancos Centrais criarem suas próprias moedas criptografadas”.
“Uma criptomoeda criada pelo Banco Central não seria genuína, a qual obtém seu valor em virtude da mente do mercado e não por alguma imposição oficial. Há também o estranho problema da geografia aqui. A ‘Cripto’ vive em escala global, extraída de qualquer lugar, enviada de qualquer lugar, recebida por qualquer pessoa em qualquer lugar”.
De modo ácido e direto, Tucker diz que a recomendação do Parlamento Europeu pode ser custoso para os Bancos Centrais e não alcançar seu fim, o qual seria o de “governos na Europa poderem ‘antecipar e gerir comportamentos anticoncorrenciais’ no âmbito da nova tecnologia financeira”, conforme menciona o documento “Questões de Concorrência na Área de Tecnologia Financeira” (“Competition Issues in the Area of Financial Technology”).
O economista afirmou que bem fez Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve Board – o Banco Central dos Estados Unidos), que em depoimento dado ao Comitê da Câmara sobre Serviços Financeiros havia dito que a instituição norte-americana não “faria uma moeda digital”.
“Esta é a resposta certa. O Fed deve se concentrar inteiramente na solidez do dólar e do sistema bancário. Inovações como a criptomoeda e a crescente infra-estrutura associada a ela são negócios da iniciativa privada, não de instituições governamentais e oficiais.”
Experiência com criptomoedas
A possibilidade de o Banco Central Europeu criar uma moeda criptografada, já havia sido apontada por Benoît Cœuré, membro do Conselho Executivo do Banco Central Europeu, antes da publicação do documento pelo Parlamento Europeu.
Cœuré, naquele período, havia dito que os bancos centrais deveriam emitir “suas próprias moedas digitais” e que elas seriam uma espécie de “reservas universais”.
Isso, contudo, não será remédio de coisa alguma na visão de Tucker. Ele afirma que há o risco dessa intervenção acabar com a tecnologia em si que surgiu “do nada” para se tornar “a primeira experiência bem-sucedida do mundo em dinheiro digital universal que opera sem intermediação”.
O economista diz que o monopólio monetário exercido pelos governos com a criação de “bancos centrais para administrar uma moeda oficial, direcionando todo o tráfego comercial através de seus portais como forma de controlar a vida econômica”, chegou ao fim:
“Graças à tecnologia de contabilidade descentralizada e a algumas inovações impressionantes para criar dinheiro digital e soluções bancárias – a tecnologia opera de peer-to-peer e não requer nem governo nem intermediários para operar – estamos começando a ver como seria a escolha real da moeda.”
Tucker diz que não há “comportamento anticoncorrencial no setor de criptografia” e que esse argumento utilizado pelo Parlamento Europeu é “estranhamente orwelliano” – remetendo ao escritor George Orwell.
Ele afirma ser “difícil até imaginar como uma criptografia apoiada pelo governo funcionaria” e diz para os leitores pensarem no Petro da Venezuela, que seria uma exceção:
“Até agora, só houve conversa, nenhuma ação. A única exceção é a Petro venezuelana, que acaba não sendo uma ‘cripto’, mas sim um instrumento de dívida lastreado em petróleo que circulou apenas para contornar as sanções comerciais dos Estados Unidos.”
O economista disse que “quanto ao dinheiro nacional existente”, o melhor seria se os Estados mantivessem “um padrão-ouro”, o que não foi feito. Tucker afirma que hoje “não há valor a ser acrescentado na promoção de uma moeda criptografada de banco central apoiada pelo governo”.
A melhor opção na regulação de criptomoedas seria, diz Tucker, reduzir barreiras e abrir oportunidades para inovação financeira. Ele afirma que “há muito que as autoridades monetárias europeias poderiam fazer para reformar o dinheiro e aumentar a concorrência” e que “nunca há um momento ruim para desregulamentação”.
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