Possibilitar oportunidades financeiras reais para pessoas reais que muitas vezes são deixadas para trás pelo sistema financeiro tradicional, construir pontes, fortalecer, suscitar acessos, celebrar. Essas são apenas algumas das iniciativas negras que têm expandido conhecimento em diferentes setores.
Sabemos que muitas evoluções tecnológicas ocorreram nos últimos dez anos, mas com isso também é preciso termos um olhar atento para os recortes diversos e intersecções presentes no nosso país. Evitando assim que se repliquem os mesmos erros ocasionados pela falta de representatividade e reforço constante do racismo na construção do nosso futuro. É urgente que as estratégias de negócios partam da premissa da democratização.
Pensando nisso, e trazendo resposta para algo que escuto frequentemente: “Não conheço iniciativas de pessoas negras…”, destaco alguns projetos que já têm impactado milhares de pessoas. Mas antes não deixo de reforçar o quão importante é que essa busca e olhar atento não se limite apenas ao mês de novembro, afinal somos negros em todos os outros meses do ano.
Mola propulsora
A Feira Preta nasceu para ser uma facilitadora, um quilombo especializado, e neste ano iniciou uma parceria com a Deboo, startup que desenvolve projetos e soluções em Web3 por meio da tecnologia blockchain, ajudando a impulsionar os mais diversos projetos relacionados à criatividade e diversidade.
A CEO do Instituto Feira Preta, Adriana Barbosa, é considerada uma das negras com menos de 40 anos mais influentes do mundo, segundo o Mipad, premiação mundial. Com essa iniciativa o foco principal é ser um trampolim que possibilite a inserção de mais negros na tomada de decisões, construa novas formas e engrenagens de captação de recursos até a aceleração de empreendedores negros.
Outro destaque aqui é a parceria com o cofundador da PVSC, uma empresa Web3 que celebra a cultura da diáspora africana em Salvador/BA, através de um conjunto de coleções de NFT e experiências exclusivas.
Democratizando o acesso
O projeto “Impacto Coletivo” vem com a proposta de ser um “hub” de aprendizado, treinamento e organização para projetos de impacto social com o objetivo de desenvolver soluções para pessoas, empreendedores e produtores socioculturais por meio das tecnologias blockchain e web3.
A founder do projeto, empreendedora e especialista em DeFI, Michela Galvão, afirma que todas essas novas tecnologias relacionadas a blockchain estão impulsionando a criação de um mundo novo cheio de possibilidades. “Acredito, genuinamente, que a descentralização é uma realidade que vem proporcionando maior acesso às oportunidades, melhor distribuição de renda, inclusão social e digital, regeneração ambiental e maior segurança e privacidade de dados”, pontua.
Iniciativas assim permitem que mulheres, pessoas pretas, moradores de periferias e pessoas LGBTQIA+ deixem de ser apenas números e passem a ser tratadas como pessoas capazes de protagonizar modelos de negócios sustentáveis e que causam real impacto na sociedade.
Fortalecendo conexões
O Happy Black Hour é uma comunidade que nasceu com o objetivo de ser um lugar de conexão, transformação, celebração e inspiração para pessoas pretas. O projeto foi criado por Felipe de Sá Daniel que também é engenheiro de dados em parceria com Douglas Aguilar e Ricardo Rocha.
O primeiro encontro contou com 12 pessoas e hoje já soma cerca de 500 membros ativos e engajados, que se encontram cerca de uma vez ao mês para celebrar, construir networking, aquilombar e trocar conhecimento.
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Além disso, o engenheiro de dados assumiu protagonismo produzindo conteúdo sobre o mercado financeiro, tecnológico, entre outros, mas sempre trazendo reflexões sobre recortes raciais. Seu posicionamento enfático rendeu uma participação no LinkedIn Para Creators, um programa especial da plataforma que seleciona e impulsiona alguns dos principais produtores de conteúdo.
Provocando acessos coletivos
Motivada por experiências pessoais de ser uma das poucas mulheres negras nos locais de trabalho, na urgência por mudanças e visando as oportunidades de negócios que a web3 pode proporcionar que a Web3 Social Builder, Luciana Sousa, lançou a Delas Perifa, uma startup que visa ampliar as oportunidades na tecnologia para mulheres negras via Web3, através de capacitação, informação e networking.
Já foram realizadas diversas ações como workshops online com conteúdos introdutórios sobre Web3 para mulheres negras, imersões no metaverso, até a abertura de carteiras digitais e uma comunidade de estudos que ampliam o contato e a participação dessas mulheres com o ecossistema Web3.
“Meu propósito é contribuir no crescimento econômico do país e na diminuição da desigualdade social e de gênero em todos os espaços, através da tecnologia, da informação e da educação e oportunidade, tudo só será possível com apoio e oportunidade,” afirma a CEO e Fundadora.
Facilitando o “criptoquês”
Finalizo aqui falando do meu projeto pessoal: a Web3pedia, uma enciclopédia online sobre a Web3, que visa simplificar termos para usuários que foram introduzidos a esse conceito há pouco tempo.
Atuando com comunicação e inovação há mais de 13 anos, descobri na web3 uma possibilidade de democratização para pessoas. Mas também entendi o quão complexo é o acesso às informações, que no geral são em língua inglesa e tem um excesso de terminologia que afasta as pessoas comuns.
Como jornalista e educadora, reconheço minha responsabilidade social como profissional em levantar questões de interesse da sociedade de forma democrática, acabando com o que costumo chamar de “criptoquês”. A informação empodera e transforma. Eu não acredito em um futuro que prega a descentralização se o conhecimento continua centralizado. Que façamos essas mudanças pra ontem!
Sobre a autora
Inaiara Florêncio é jornalista com pós em redes sociais e especialização em marketing político pela PUC-SP, e começou a trabalhar com conteúdo e marketing de influência desde a época do Orkut. Feminista ativista, atua em causas de diversidade, inclusão e educação. Ela é Diretora de Content e Influência no Mercado Bitcoin.
Já foi premiada em festivais como: Abemd, El Ojo, Grand Prix e Anuário do Clube de Criação. É membro do Júri Effie Awards 2021/22 e MMA Smarties Brasil 2021. Professora no YOUPIX, Cria da Quebrada (Miami AD School), Descomplica e Tangible3, sendo que nas duas últimas tem o foco de democratizar o acesso à web3, eliminando barreiras do “criptoquês”.
Em 2019 foi efetivada como uma das 15 vozes que mais contribuem para mudanças na indústria de comunicação pelo YOUPIX Builders. Além de ser colunista no Women To Watch do Meio&Mensagem e de ter sido colaboradora da primeira temporada do podcast More Grls, startup de impacto social, que visa aumentar o número, valor e visibilidade da área de comunicação das mulheres criativas.
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