Mercados globais enfrentaram uma semana muito preocupante conforme o conflito armado aumenta entre a Rússia e a Ucrânia.
Como um ativo macro global e com um mercado que nunca se fecha, o preço do bitcoin (BTC), por sua vez, ficou bem volátil. Esta semana, o mercado foi negociado a uma baixa de US$ 34.474 antes de rapidamente se recuperar para uma alta de US$ 39.917.
Agora registrado uma queda de 138 dias, desde sua alta recorde em novembro de 2021, a convicção de muitos investidores de bitcoin, grande parte que compraram próximo ao topo, foi desafiada esta semana.
A Glassnode analisou o que parece ser um êxodo de principais compradores e compara a atual estrutura de mercado e o período entre maio e julho de 2021.
Na análise, serão observados os principais compradores que, agora, já capitularam (desistiram de ganhos anteriormente obtidos ao vender posições em épocas de queda) quase que completamente.
No entanto, a distribuição restante de holders parece estar bastante elevada, refletindo, sem dúvidas, a convicção irredutível para compradores em última instância: HODLers de bitcoin.
A Glassnode inicia esta análise ao se aprofundar na métrica de distribuição de preço realizado de transações não gastas (ou URPD, na sigla em inglês) em bitcoin, que mostra a distribuição do fornecimento de moedas ao preço em que foi movimentada pela última vez na blockchain.
Serão exploradas as similaridades e diferenças entre o comportamento de investidores durante esta queda à similar queda entre maio e julho de 2021.
Quatro datas da métrica URPD serão analisadas:
– 10 de maio de 2021, antes do evento de liquidação em cascata;
– 20 de julho de 2021, na baixa de US$ 29 mil antes do rali de preço à alta recorde registrada no fim de 2021;
– 9 de novembro de 2021, na então alta recorde do mercado;
– 27 de fevereiro de 2021, o momento desta análise.
A partir do período entre maio e julho de 2021, a distribuição de moedas estava assimétrica e muito desequilibrada, com uma grande proporção de fornecimento de moedas mantida entre US$ 54 mil e US$ 60 mil.
Embora isso tenha demonstrado um grau de demanda a preços mais altos, também demonstrou um mercado frágil, pois havia muitos “principais compradores” que estariam muito sensíveis a qualquer grande correção de preço.
Isso resultou em uma enorme capitulação de mercado. Ambos os mercados “spot” e de derivativos perderam toda a sua exuberância, a atividade na rede Bitcoin entrou em colapso e pode-se dizer que esse foi o início do atual mercado de baixa (ou “bear market”).
Durante esse período de 2,5 meses de consolidação, uma boa parte do fornecimento foi transferida para ser colocada à venda por principais compradores a corretoras.
Na sequência, esse fornecimento foi gradualmente absorvido por compradores com mais convicção, conforme a base de custo dessas moedas teve um peso maior na faixa de preço entre US$ 29 mil e US$ 40 mil.
Esse comportamento descreve um “pulso fraco” em grande escala para o evento de redistribuições por holders de “pulso firme”.
Continuando para a atual correção de mercado, é possível visualizar que uma distribuição consideravelmente uniforme do fornecimento de moedas foi estabelecida durante o rali de preço entre julho de 2021 à alta recorde em novembro. Essa distribuição indica que:
– muitos investidores que acumularam durante a correção entre maio e julho lucraram no ciclo de alta. Isso criou nós de volume próximos de US$ 35 mil, US$ 47 mil e US$ 62 mil;
– compradores que observaram valor e entraram para o mercado ao longo do rali de preço entre agosto e novembro. Isso aconteceu apesar de a atividade em blockchain indicar que a maioria dos “turistas de mercado” haviam saído e apenas os HODLers permaneceram.
Isso nos leva ao presente, pois podemos ver que muito desse fornecimento distribuído uniformemente desde novembro continua no mesmo lugar. Apesar de uma correção de mais de 50%, esses investidores não liquidaram suas posições.
Além disso, a principal redistribuição parece estar vindo de investidores que compraram durante a faixa de preço acima dos US$ 60 mil próxima à alta recorde, registrando novos donos de bitcoin próximos da atual faixa de preço entre US$ 35 mil e US$ 38 mil.
Essa atitude de gastos descreve um mercado dominado por HODLers insensíveis a preços, que parecem não estarem dispostos a liquidar suas moedas, mesmo se mantidas com prejuízo.
Enquanto isso, principais compradores saíram significativamente do mercado e representam uma proporção bem menor do grupo de investidores em comparação ao período entre maio e julho de 2021.
Principais compradores já podem ter vendido seus bitcoins
Os acontecimentos jornalísticos da última semana estão mudando o mundo. Se houvesse uma época em que investidores de bitcoin iriam capitular, principalmente aqueles que o consideram como um ativo de risco, o abalo de uma guerra cinética seria uma catálise provável.
No entanto, o grau de capitulação em blockchain que aconteceu durante a liquidação dessa semana foi, no mínimo, medíocre.
Na verdade, exibe características semelhantes à liquidação em 20 de julho de 2021 em US$ 29 mil, que simplesmente não seguiram a continuidade de baixa para atingir novos fundos.
Esta semana, houve prejuízos líquidos realizados de US$ 713 milhões, significativamente menores do que os eventos de capitulação de mais de US$ 2 bilhões vivenciados anteriormente nesta correção de mercado.
Também é possível observar uma queda constante no número de investidores que depositam em corretoras (cor de rosa), caindo de 74 mil/dia durante o recorde em novembro para atuais 41 mil/dia.
Enquanto isso, saques em corretoras estão estáveis, em cerca de 40 mil a 48 mil/dia, novamente indicando um grupo consistente de HODLers removendo suas alocações em meio a intempéries.
É claro que o número de depósitos ou saques é apenas parte da questão, pois é o volume de cada ação que ajuda a estabelecer o equilíbrio entre oferta e demanda.
O gráfico abaixo mostra uma média móvel exponencial de 30 dias de fluxos líquidos em corretoras e pode-se perceber que, desde julho, o mercado favoreceu saques de moedas (cor vermelha, indicando fluxos de saída).
A tendência em fluxos de saída de corretoras foi suavizada desta vez, mas ainda não existem fluxos de saída próximos daqueles vivenciados entre maio e julho do ano passado, mesmo com todos os atuais obstáculos macro em questão.
O mercado atual não parece ter perdido confiança no bitcoin como um ativo macro.
Isso também é perceptível na métrica de fornecimento renovado ao analisar o volume de moedas compradas há mais de um ano e gastas na última semana.
Se houvesse uma ampla perda na convicção entre o grupo de HODLers de bitcoin, a expectativa era que essa métrica demonstrasse uma alta significativa.
Porém, isso ainda não aconteceu, e o fornecimento renovado continua abaixo de 5 mil BTC/dia, algo bastante comum em períodos anteriores de acumulação.
Existe um grupo que dominou gastos em blockchain em corretoras nas últimas semanas: investidores que compraram na baixa e descobriram que haveria muitas outras baixas.
Investidores com moedas compradas há menos de três meses dominaram em prejuízo, gastando mais nos últimos 30 dias.
Os gastos dessas moedas mais novas geraram um prejuízo coletivo de 0,05% da capitalização de mercado por dia no último mês, correspondente a baixas no ciclo de alta ao longo do primeiro semestre de 2018.
Com a exceção de junho e julho do ano passado, os amplos fundos de mercado são geralmente caracterizados por um êxodo em massa de investidores tanto antigos como novos, devido ao receio em grande escala.
Dado que ainda não houve capitulações parecidas por holders a longo prazo, talvez HODLers de bitcoin sejam diferentes desta vez? Ou, talvez, haverá uma queda ainda mais drástica a seguir para remover todos os vendedores restantes do mercado.
Investidores de pulsos firme continuam mantendo seus investimentos
Conforme principais compradores saíram da rede e a dominância de mercado é de HODLers, esta análise termina com três gráficos que ajudam a descrever o que esse grupo poderá fazer no longo prazo.
Primeiro, analisa-se o fornecimento ilíquido, que rastreia o volume de moedas mantidas em carteiras com pouco ou nenhum histórico de gastos.
Geralmente, representa armazenamento “frio” (ou “cold storage”, sem conexão à internet) e carteiras de HODLers que fazem saques religiosamente enquanto realizam uma estratégia à la média do custo em dólares (ou “dollar-cost average”).
Como uma proporção do fornecimento em circulação, o fornecimento ilíquido agora ultrapassou o auge de maio de 2021, atingindo 76,3%. Agora, voltou ao mesmo nível que a alta de mercado em 2017, revertendo um aumento de quatro anos na liquidez de carteiras de moedas.
É importante notar que ambos desses exemplos precederam grandes eventos de liquidação e, assim, ainda veremos se essas moedas realmente estão em armazenamento frio.
De forma parecida, as faixas de ondas da capitalização realizada por HODLers, com moedas adquiridas há mais de três meses, estão atingindo novas altas locais de 72%.
Isso significa que 72% do valor em dólares “armazenado em bitcoin” é mantido por moedas adquiridas há mais de três meses.
Isso é comum em mercados de baixa, em que investidores a longo prazo veem valor e simultaneamente diminuem seus gastos (conforme visto acima, no fornecimento renovado).
Veja que grande parte dessa alta recente é direcionada pela faixa de duração entre três a seis meses, na cor laranja e na parte inferior do gráfico.
São moedas que estão se aproximando ou no processo de cruzarem o limite de 155 dias (ou cerca de cinco meses) de holders de curto prazo para holders a longo prazo.
Por fim, para demonstrar quanto volume de moedas foi absorvido por HODLers nos últimos três meses, analisamos o volume de moedas que ultrapassaram, nos últimos 30 dias, o limite de duração de mais de três meses.
Neste momento, mais de 355 mil BTC estão amadurecendo mais do que três meses a cada 30 dias, que é 12,2 vezes a emissão diária de moedas a mineradores.
Uma magnitude parecida no comportamento de HODLers foi observada em 2020 e entre junho e setembro de 2021, precedendo poderosas movimentações de alta.
O atual mercado é extremamente interessante tanto de uma perspectiva em blockchain como macro.
Dada a enorme magnitude de incerteza e risco apresentada por um conflito cinético, deve ser prudente esperar por eventos de venda de ativos arriscados, de pânico de investidores e de capitulação.
Porém, até agora, não houve um amplo evento de capitulação, com exceção de holders a curtíssimo prazo que adquiriram o bitcoin na alta recorde ou em quedas anteriores durante esse ciclo de baixa.
Note que muitos sinais de “hype na demanda” continuam bem abaixo dos níveis do mercado de alta (questão discutida na semana passada).
Apesar dessa incerta queda macro e geopolítica, o comportamento de HODLers de bitcoin mantém uma convicção bem positiva.
Moedas continuam a ser sacadas de corretoras, estão sendo movimentadas para corretoras cada vez mais ilíquidas e amadurecendo em faixas de duração mais antigas a um ritmo mais acelerado. Parecem ser moedas de holders a longo prazo.
Agora, é fundamental observar se essas tendências coerentes começam a se reverter, podendo sinalizar uma ampla escala de confiança. No entanto, caso haja tal reversão, essas observações continuam criando um futuro favorável e construtivo para o bitcoin em algum momento.
Sobre o autor
A Glassnode é a maior provedora de dados e inteligência de blockchain que gera métricas e ferramentas on-chain para quem realmente quer entender o mercado de criptomoedas.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização da Glassnode.