As eleições de legislativas de meio de mandato doe EUA, as chamadas midterms, chegaram ao fim nesta semana com resultados mistos. De um lado, os democratas, liderados pelo presidente Joe Biden, mantiveram o controle do Senado; de outro, a oposição republicana ganhou a maioria na Câmara dos Deputados do país.
Ao mesmo tempo que os EUA iam às urnas, o mercado de criptomoedas pegou fogo com o pedido de recuperação judicial da corretora FTX, criada pelo ex-bilionário Sam Bankman-Fried (SBF) – e pelo alastramento do colapso para outras empresas que tinham exposição à agora quebrada exchange.
O que une esses dois acontecimentos é que Bankman-Fried jogou pesado nas eleições. O empresário foi o segundo maior doador do partido Democrata nas midterms: foram US$ 40 milhões despejados em candidatos do partido, tendo ficado atrás apenas do megainvestidor George Soros.
Com o colapso da corretora, os futuros candidatos democratas agora contam com uma “torneira” a menos – e sem a oportunidade de arrecadar US$ 1 bilhão para eventualmente enfrentar o ex-presidente Donald Trump, como SBF já havia prometido anteriormente.
Segundo dados do Federal Election Comission, órgão governamental dos Estados Unidos, SBF doou em 190 ocasiões, geralmente para democratas, mas com algumas exceções de contribuição para republicanos. As últimas injeções de verba foram feitas menos de um mês antes de sua empresa entrar em uma profunda crise de liquidez e travar o dinheiro dos milhões de clientes.
Foram doações bem moderadas para o padrão do executivo: no dia 19 de outubro ele enviou US$ 4 mil para o “Across The Aisle PAC” e US$ 2.900 para a campanha de Salud Carbajal (o candidato foi eleito pelos Democratas no 24º Distrito da Califórnia). Um pouco antes, no dia 17 de outubro, doou US$ 5 mil para a “Limitless Horizons”.
Curiosamente, a primeira doação de Bankman-Fried veio muito antes da criação da FTX e quando criptomoedas ainda engatinhavam: no dia 27 de outubro de 2010 o então estudante doou mil dólares para a campanha “Bennet For Colorado”.
Dez anos se passaram para que Bankman-Fried resolvesse voltar a entrar na política, dessa vez já como bilionário. No dia 24 de setembro de 2020 doou vultuosos US$ 350 mil para o “Vote Tripling PAC”.
Mas a casa das centenas de milhares ainda era pouco. SBF passou a doar na casa dos milhões. Gráfico produzido pela reportagem do Portal do Bitcoin com a base de dados do governo americano mostra que o criador da FTX doou em seis oportunidades mais do que um milhão de dólares. Confira abaixo quais foram os destinos das doações milionárias do criador da FTX.
O que é um PAC?
PAC é a sigla em inglês para Comitê de Ação Política (Political Action Committee). São grupos que recebem doações e as direcionam para candidatos e campanhas eleitorais, muitas vezes tendo com base alguma bandeira ideológica.
Dentro desse grupo estão os famosos Super PACs, que são grupos que arrecadam sem precisar informar a origem do dinheiro e que podem gastar de forma ilimitada sem ser doações diretas. Um exemplo é criar uma campanha na televisão e alugar espaço na grade das emissorar para fazer propaganda favorável ou crítica a um candidato.
FF PAC
A terceira doação da vida de SBF já foi estrondosa: US$ 5 milhões para o Future Forward PAC (FF PAC), no dia 24 de setembro de 2020. Esse grupo, criado para apoiar a campanha presidencial de Joe Biden, apoia medidas tributárias e sociais claras: contra corte de impostos para as classes mais ricas, planos de saúde mais acessíveis, e apoio de medidas que resultem em fim ou diminuição do débito estudantil.
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“O Future Forward pede a priorização da classe média americana e apóia o nivelamento do campo de jogo que permitirá que as famílias se mantenham na economia em mudança e na construção de um futuro para nossos filhos”, afirma o PAC.
GMI PAC, INC.
No dia 18 de janeiro de 2022, SBF doou US$ 2 milhões para o GMI PAC, INC. Nesse caso o interesse é muito claro: o grupo se defende em seu site que uma legislação e estrutura regulatória claras são fundamentais para a indústria do blockchain (tecnologia base das criptomoedas) atingir todo seu potencial nos Estados Unidos.
“O GMI PAC apoia os candidatos que trabalham para dar aos inovadores sediados nos EUA a oportunidade de construir tecnologias e serviços de última geração aqui na América, em vez de fazer esse trabalho valioso no exterior”, diz o grupo, que apoiad candidatos por suas atividades independentes e não por suas raízes partidárias.
Protect Our Future PAC
Esse PAC caiu três vezes nas generosas graças de SBF. No dia 4 de fevereiro deste ano, SBF doou US$ 9 milhões; logo depois, em 15 de março, colocou US$ 4 milhões.
E então, no dia 14 de abril de 2022, Sam Bankman-Fried fez sua maior doação até o momento. Foram US$ 10 milhões para Protect Our Future PAC.
O grupo afirma que apoia candidatos que irão se comprometer a criar políticas públicas para prevenção e combate de pandemias. Segundo o portal Fact Check, todos os recursos foram encaminhadas para políticos do partido Democrata.
“Nossos candidatos estão comprometidos em proteger nossa nação de futuras pandemias globais. Então esta é a última vez em nossa vida, e na vida de nossos filhos, que enfrentaremos a devastação que atingiu as comunidades nos EUA desde 2020”, diz o grupo.
House Majority PAC
Esse grupo tem um objetivo claro, que é expresso em seu nome. A ideia é eleger e manter uma maioria Democrata no Congresso dos Estados Unidos, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil. SBF doou US$ 6 milhões no dia 4 de abril deste ano.
O objetivo do House Majority PAC dificilmente será conseguido. A expectativa era de que os Republicanos conseguissem uma vasta maioria – que é atingida quando um partido consegue 218 cadeiras. Não será o caso de uma ampla maioria, mas a tendencia é que o Partido Republicano seja prevalente.
Até o momento da redação desta reportagem, os votos continuavam sendo contados, com 204 democratas e 212 republicanos já definidos.
