A criptomoeda Tether (USDT) sempre esteve envolvida em controvérsias. Supostamente lastreada em depósitos bancários, a ideia é seguir a cotação do dólar.
No entanto, desde sua criação, no início de 2015, não havia informações sobre os sócios da empresa e suas contas bancárias mudavam regularmente. Além disso, foram prometidos balanços auditados regularmente que jamais foram entregues.
Em 2017 o banco Wells Fargo rompeu relações com a iFinex, empresa por trás do Tether. Em seguida, vazaram documentos mostrando que a exchange Bitfinex era dona da iFinex.
Em abril de 2018, a Crypto Capital Corp, parceiro bancário da Tether, teve 400 milhões de euros confiscados por lavagem de dinheiro. Os saques começaram a atrasar e surgiram suspeitas de que a empresa não tinha os dólares para cobrir as moedas emitidas.
A cotação do Tether caiu abaixo de US$ 0,90, causando turbulência nos mercados, especialmente nas exchanges que operavam somente com essa stablecoin. Curiosamente, um mês depois daquele 15 de outubro de 2018 ocorreu o crash do BTC abaixo de US$ 6 mil, marcando o início do “inverno das criptos”.
Qual a relação do Bitcoin com o Tether?
De acordo com dados do CryptoCompare, 60% do volume do Bitcoin ocorre no par USDT. Apesar do crescimento da Binance USD (BUSD) e da USD Coin (USDC), a dominância do Tether segue absoluta.
Dentre as 4 maiores exchanges, Binance, OKEx, e Huobi utilizam o Tether como referência. Até mesmo seus contratos futuros (derivativos) são cotados em USDT.
Sem dúvidas será um grande problema para arbitradores e traders de derivativos se ocorrer um grande descasamento na cotação do Tether, como ocorreu em outubro de 2018.
O que aconteceu em 7 de janeiro de 2021?
Em fevereiro de 2021 a empresa perdeu uma batalha judicial, sendo obrigada a pagar multa de US$ 18,5 milhões por ter enganado os clientes. Desde então, alguns investidores têm solicitado à justiça que torne público os balanços das reservas apresentados na corte dos EUA.
Em 7 de janeiro a empresa Tether pediu para a Procuradoria do Estado de Nova York sigilo sobre seus contratos de empréstimo, alegando que isso iria “atrapalhar” o funcionamento da empresa e “invadir a privacidade” de terceiros envolvidos.
O mercado especula que a Tether tenha emprestado dinheiro para construtoras imobiliárias na China, setor em situação problemática. No passado, também foi ventilada a hipótese da iFinex estar ligada à máfia de cassinos.
Por que tanto medo?
O mercado tem razão para temer uma nova “quebra” na paridade do Tether, porém assumir que isto irá causar um crash no Bitcoin não faz sentido. Se alguém está desesperado para vender Tether, a maneira mais fácil é comprando Bitcoin.
Em suma, é muito difícil prever se algo irá ocorrer, e quase impossível afirmar se isso necessariamente causa um crash nas criptomoedas.
Sobre o autor
Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Em 2017, se tornou trader e analista de criptomoedas. Maximalista convicto, assina também o canal no Youtube RadarBTC.